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Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet

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JONAS, UM BRASILEIRO<br />

Sem uma só pergunta, os tiras voltaram rapi<strong>da</strong>mente<br />

e me arrastaram para fora <strong>da</strong>quela sala. Naquele momento<br />

eles eram muitos. Não dá para esquecer a truculência<br />

do capitão Albernaz, nem a covardia do delegado<br />

Raul Careca. Naquela manhã, parece que estavam<br />

todos lá. Capitães Tomas, Dalmo, Maurício e Homero.<br />

Delegado Otavinho, investigadores Lungaretti, Americano.<br />

Eram dezenas, todos sob comando do major Valdir<br />

Coelho, o primeiro coman<strong>da</strong>nte <strong>da</strong> Operação Bandeirantes.<br />

Eles ain<strong>da</strong> não estavam organizados em equipes distintas,<br />

busca, interrogatório e análise. Àquela altura todos<br />

faziam de tudo, e as prisões políticas eram novi<strong>da</strong>de<br />

naquela delegacia <strong>da</strong> rua Tutóia. Na ver<strong>da</strong>de, naquele<br />

final de setembro de 1969, nós estávamos só inaugurando<br />

aquela experiência de repressão, que depois viria a<br />

ganhar o formato do DOI-CODI, os temidos Destacamentos<br />

de Operação de Informação/Centros de Operações<br />

de Defesa Interna <strong>da</strong> ditadura.<br />

Quando a gente desce do pau-de-arara, pensa que nunca<br />

mais vai conseguir an<strong>da</strong>r. Foi assim, debaixo dos pontapés<br />

impacientes dos meus torturadores, que fui levado para<br />

a sala ao lado, onde continuei sendo torturado na “cadeira<br />

do dragão”. Pés e mãos atados aos pés e braços <strong>da</strong> cadeira,<br />

como no pau-de-arara, continuei submetido a choques,<br />

espancamentos generalizados, “telefones” e outras violências.<br />

Nunca mais vi o corpo atarracado e troncudo do meu<br />

coman<strong>da</strong>nte. Nunca mais ouvi a sua voz, ou mesmo os<br />

gritos de Jonas. Foi tudo ali, naquele instante mágico, de<br />

dor, de violência infernal.<br />

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