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Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet

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AS DUAS MORTES DE JONAS<br />

um guerrilheiro telefona para o Jornal do Brasil informando<br />

o local onde está a lista dos presos políticos a<br />

serem libertados, outro guerrilheiro está obrigado a<br />

pedir, logo em segui<strong>da</strong>, em alto e bom som, ao jornaleiro<br />

<strong>da</strong> esquina um exemplar de O Globo. É preciso contentar<br />

a todo mundo e nunca se expor tomando posição.<br />

É isso o tempo todo: uma no cravo, outra na ferradura.<br />

Barreto/ Serran julgam que essa atitude é sinônimo de<br />

isenção e aparti<strong>da</strong>rismo. Não é. É indício de superficiali<strong>da</strong>de,<br />

de insegurança, de dificul<strong>da</strong>de para tirar conclusões<br />

próprias. Quiseram fazer um filme equilibrado,<br />

fizeram um filme equilibrista.<br />

A obsessão dos autores pelo muro é a condenação<br />

de Jonas. Ele é animalizado para que o torturador possa<br />

se humanizar. Ou terá sido ao contrário, numa nova<br />

versão do enigma do Tostines? Pela mesma razão, os<br />

guerrilheiros são convertidos em doidivanas, enquanto<br />

os militares mais graduados aparecem como homens<br />

sensatos, que tentam conter os excessos dos oficiais envolvidos<br />

diretamente na tortura. É notável o esforço<br />

para dissolver fronteiras. Com isso, tenta-se afastar a<br />

necessi<strong>da</strong>de de que o cineasta, atrás <strong>da</strong> câmara, e o espectador,<br />

em frente <strong>da</strong> tela, tenham de se colocar diante<br />

dos dilemas <strong>da</strong> época. Se todos os gatos são pardos, e<br />

ninguém está certo e ninguém está errado, para que<br />

tomar posição? Em vez de reflexão, digestão. É a receita<br />

de uma época: a atual. Não era a dos tempos que o filme<br />

pretendeu retratar.<br />

Apesar de tudo isso, não creio que O que é isso, companheiro?<br />

absolva a ditadura. Seria tarefa acima de suas<br />

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