Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet
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FRANKLIN MARTINS<br />
fora, alegando que se trata de uma obra de ficção, sem<br />
preocupação de correspondência com a reali<strong>da</strong>de. Afinal,<br />
na vi<strong>da</strong> real, o coman<strong>da</strong>nte do <strong>seqüestro</strong> atendia pelo<br />
nome de Jonas, pertencia à ALN e viera de São Paulo.<br />
No filme, também. É evidente que houve a intenção<br />
delibera<strong>da</strong> de superpor reali<strong>da</strong>de e ficção, confundindo<br />
uma com a outra.<br />
Qual a razão? Preguiça mental, como ironizou o<br />
roteirista? Claro que não. Trata-se de uma escolha: o<br />
filme quis ter a liber<strong>da</strong>de <strong>da</strong> ficção, mas sem abrir mão<br />
do lastro <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de. Afinal, o <strong>seqüestro</strong> do embaixador<br />
norte-americano tem presença difusa mas forte no<br />
imaginário <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. Vende entra<strong>da</strong> de cinema. Um<br />
sucedâneo, talvez não. Assim, contatos de primeiro e<br />
segundo graus com fatos acontecidos e pessoas que viveram<br />
o episódio são indispensáveis. Sem isso ficaria muito<br />
difícil ba<strong>da</strong>lar o filme. Como nos programas humorísticos,<br />
é preciso que alguém faça as vezes de esca<strong>da</strong>,<br />
para o comediante principal brilhar. Em O que é isso,<br />
companheiro?, a reali<strong>da</strong>de é a esca<strong>da</strong>. Cabe à ficção arrancar<br />
gargalha<strong>da</strong>s. A fórmula deu certo no livro. Por<br />
que não <strong>da</strong>ria na tela?<br />
Isso explica por que há personagens no filme que se<br />
chamam Elbrick, Toledo, Jonas etc. Não explica, porém,<br />
por que é feita uma adulteração tão agressiva do caráter<br />
e do papel do coman<strong>da</strong>nte <strong>da</strong> operação. O que faz Jonas<br />
descer ao inferno é outra coisa: a síndrome do politicamente<br />
correto. O filme parte de um preconceito — não<br />
tomar partido em na<strong>da</strong> — que se transforma numa<br />
obsessão, às vezes beirando o ridículo. Por exemplo: se<br />
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