Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet
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AS DUAS MORTES DE JONAS<br />
<strong>seqüestro</strong>, Jonas foi barbaramente torturado numa sessão<br />
de dez horas de pau-de-arara, afogamentos, choques<br />
elétricos, espancamentos, queimaduras etc. Recusou-se<br />
a ceder qualquer informação a seus torturadores, enfrentando-os<br />
a socos, pontapés e xingamentos. Como não<br />
puderam vencê-lo, os torturadores resolvem destruí-lo.<br />
Mataram-no selvagemente, batendo sua cabeça contra a<br />
parede até reduzi-la a uma pasta. No local do crime, restou<br />
uma poça de sangue, que os torturadores, eufóricos<br />
e excitados, exibiram a outros presos políticos como<br />
troféu de guerra. O corpo sumiu. Até hoje está desaparecido.<br />
A segun<strong>da</strong> morte de Jonas é mais recente. Está acontecendo,<br />
com estar<strong>da</strong>lhaço, no filme O que é isso, companheiro?,<br />
de Bruno Barreto, com roteiro de Leopoldo<br />
Serran. Não se trata de uma morte física, mas de uma<br />
execução moral. Jonas é apresentado ao mundo inteiro<br />
como um monstro, um primata, um boçal, um desequilibrado,<br />
quase um psicopata.<br />
Entra em cena recusando o cumprimento de um<br />
companheiro, como se fosse um campeão dos maus<br />
modos. Logo em segui<strong>da</strong>, reúne os guerrilheiros que vai<br />
chefiar e adverte-os: a primeira bala de sua arma está<br />
destina<strong>da</strong> ao companheiro que não cumprir suas ordens;<br />
a segun<strong>da</strong>, àquele que sair em defesa do indisciplinado.<br />
E completa com algo mais ou menos assim: “Estamos<br />
entendidos?” Só faltou rosnar.<br />
No interrogatório de Elbrick, Jonas parece um alucinado.<br />
Encostando o cano <strong>da</strong> pistola na cabeça do embaixador,<br />
aos gritos, ameaça diversas vezes matá-lo,<br />
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