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Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet

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EMIR SADER<br />

so: assaltar o céu, transformar radicalmente aquela socie<strong>da</strong>de<br />

que revelava, já naquele momento, sua profun<strong>da</strong> injustiça,<br />

sua concentração de poder e sua exclusão social,<br />

sua tendência à mercantilização <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e ao embrutecimento<br />

<strong>da</strong>s consciências. Quem não pensar assim, terá passado<br />

ao largo do significado mais profundo de tudo aquilo.<br />

Muita tinta correu desde então sobre aqueles episódios.<br />

O livro de Fernando Gabeira teve, antes de tudo, o<br />

mérito de ter sido escrito. É um acerto de contas dele.<br />

Quem reclama de seu relato — que, à medi<strong>da</strong> que os depoimentos<br />

vêm à tona, revela ca<strong>da</strong> vez mais seu caráter<br />

ficcional e não de relato factual — o faz com razão, se<br />

comprometendo com a reconstrução <strong>da</strong>s coisas na sua<br />

ver<strong>da</strong>deira dimensão. A releitura de O que é isso, companheiro?<br />

(reedição <strong>da</strong> Cia. <strong>da</strong>s Letras, 1997) deixa ver que se<br />

trata de uma valiosa sugestão de roteiro cinematográfico,<br />

além do acerto de contas de um dos milhares de protagonistas<br />

<strong>da</strong>quela geração.<br />

Algumas imprecisões factuais já foram aceitas pelo<br />

próprio Gabeira, como a <strong>da</strong> autoria do manifesto, que<br />

ele reivindicou no livro, mas que foi de Franklin Martins,<br />

a quem Fernando Gabeira alega ter protegido com<br />

aquele gesto. Outras ficam à mostra diante de qualquer<br />

leitura do livro como eventual relato que busca ser verídico.<br />

Não importa, o livro O que é isso, companheiro? fala<br />

muito mais de quem o escreveu, como to<strong>da</strong> autobiografia,<br />

do que <strong>da</strong>quilo que aconteceu. Quem o tomar como<br />

história, estará enganado. Quem passar para adiante a<br />

idéia de que se trata de “uma história ver<strong>da</strong>deira”, estará<br />

enganando os outros.<br />

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