Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet
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VERSÕES E FICÇÕES<br />
Os belíssimos filmes argentinos — também ficcionais<br />
— A história oficial e Tangos, o exílio de Gardel, souberam<br />
apresentar todos os seus personagens de forma<br />
rica e complexa, mas sem perder a visão crítica, contundente,<br />
<strong>da</strong> ditadura feroz. Lacombe Lucien, filme francês,<br />
fez de uma ficção uma denúncia perturbadora e bela, e<br />
perturbadora porque bela, do colaboracionismo <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />
francesa com o nazismo. O filme de Barreto escolheu<br />
outro caminho: é generoso com a ditadura e seus<br />
agentes, e mesquinho com os que a ela se opuseram. É<br />
risível dizer agora que se trata apenas de uma ficção.<br />
Senhores, a ficção é freqüentemente muito mais poderosa,<br />
para a apropriação <strong>da</strong> memória de uma época, do<br />
que os tratados sociológicos e históricos mais sérios. Os<br />
autores do filme apresentaram, apesar, talvez, deles mesmos,<br />
uma proposta. A mais completa e bem articula<strong>da</strong><br />
até hoje no sentido <strong>da</strong> absolvição <strong>da</strong> ditadura.<br />
Se conseguirão, ou não, que a socie<strong>da</strong>de engula a<br />
pílula, é uma outra história...<br />
DANIEL AARÃO REIS Fº é professor-titular de história<br />
contemporânea <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal<br />
Fluminense (UFF); foi membro <strong>da</strong> Dissidência<br />
Comunista <strong>da</strong> Guanabara em 1969.<br />
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