Versões e Ficções: O seqüestro da História - DHnet
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VERSÕES E FICÇÕES<br />
mas estabelecidos foram postos a rude prova. Apropriarse<br />
deste passado, monopolizar, se possível, a sua<br />
memória, passa a ser um objetivo crucial, inclusive<br />
porque, como se sabe, o controle do futuro passa, em<br />
larga medi<strong>da</strong>, pelo do passado, <strong>da</strong>do, por sua vez, aos<br />
que imprimem na memória coletiva a sua específica<br />
versão dos acontecimentos.<br />
No Brasil, sobre o período, há muitas propostas de<br />
análise e interpretação. O que desejo neste artigo é apenas<br />
selecionar a versão mais difundi<strong>da</strong> na luta pela<br />
apropriação <strong>da</strong> memória coletiva. Ela apresenta os movimentos<br />
revolucionários dos anos 60 como uma grande<br />
aventura, no limite <strong>da</strong> irresponsabili<strong>da</strong>de: ações treslouca<strong>da</strong>s.<br />
Uma fulguração, cheia de luz e de alegria, contrapontos<br />
trágicos, muita ingenui<strong>da</strong>de, vontades, desejos,<br />
ilusões. Diante do profissionalismo <strong>da</strong> ditadura, que<br />
restava àqueles jovens? Ferraram-se. Mas demos todos<br />
boas risa<strong>da</strong>s. Afinal, o importante é manter o bom humor.<br />
Estamos falando, como é fácil supor, entre outros,<br />
do livro de Fernando Gabeira, O que é isso, companheiro?<br />
(Rio de Janeiro, Codecri, 1979). Teve excepcional<br />
acolhi<strong>da</strong>, virou best seller. A versão, sem dúvi<strong>da</strong>, correspondia<br />
a anseios difusos no país, e o sucesso alcançado<br />
atesta o fenômeno.<br />
Com o recuo <strong>da</strong> ditadura militar, no quadro <strong>da</strong> abertura<br />
“lenta, segura e gradual”, a socie<strong>da</strong>de queria recuperar<br />
e se reconciliar com a história agita<strong>da</strong> dos anos 60,<br />
mas na concórdia, sem revanchismos estéreis, como<br />
aconselhavam os militares e os homens de bom senso.<br />
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