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Violencia nas Escolas.pdf

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Tomemos dois exemplos: o americano eofrancês. Em<br />

ambos os países, a sensibilidade da opinião pública à violência<br />

dos jovens é muitas vezes exacerbada por notícias trágicas que<br />

“relatam” episódios espetaculares e sangrentos. Isso acontece<br />

principalmente nos Estados Unidos, onde os assassinatos em<br />

massa cometidos em escolas chegaram às manchetes de todo o<br />

mundo – transformando a escola americana num lugar de violência<br />

aterrorizante – o que bem pode ser verdade em alguns<br />

lugares, mas que tende a mostrar o problema ape<strong>nas</strong> como uma<br />

espécie de naturalização da violência urbana, na qual hordas de<br />

adolescentes tomaram o lugar das hordas de “peles-vermelhas”.<br />

Assim, o jovem passa a ser visto como um “selvagem”, e o salto<br />

entre a “criança selvagem” e a criança dos selvagens não é tão<br />

grande assim: por razões de natureza ou de cultura, essa criança<br />

não é passível de ser integrada às normas sociais. Representações<br />

desse tipo acabam por levar a uma forma de justiça de classe que<br />

pode também ser uma forma de justiça étnica: não é preciso que<br />

ninguém nos lembre (Body-Gendrot, 1997) que a população carcerária<br />

norte-americana tem 50% de negros e 25% de hispânicos.<br />

No entanto, quando se trata dos adolescentes das zo<strong>nas</strong> centrais<br />

das grandes cidades, o que está em questão não é nem a<br />

cultura de filmes de cowboy nem a selvageria “natural”, mas sim a<br />

fabricação social da violência, que alia a pobreza extrema – que<br />

Kozol (1991) chama de desigualdade selvagem – ao cinismo dos<br />

traficantes de armas, que, no início da década de 80, redirecionaram<br />

12 seu “mercado” aos adolescentes negros dos guetos<br />

(Canadá, 1999). Apesar disso, deve-se lembrar que, nos Estados<br />

Unidos, o risco de uma criança de idade escolar se ver em meio a<br />

um tiroteio é de um para um milhão, ou, em outras palavras, uma<br />

12 Tive a oportunidade de desenvolver esse tema numa entrevista à imprensa, durante<br />

o seminário, já que, recentemente, havia ocorrido um tiroteio nos Estados Unidos.<br />

Isso provocou um e-mail furioso de um poderoso lobby pró-armas americano, o<br />

que não me abalou muito.<br />

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