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Violencia nas Escolas.pdf

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fato, são motivo de debates nos Estados Unidos (Debarbieux, 1994;<br />

Rorty, 1993), em especial no que se refere ao modelo proposto em<br />

“Surveiller et punir” (Foucault, 1975), coerente com os comentários<br />

de muitos historiadores (Levi e Schmitt, 1994). A violência era muito<br />

mais presente nos tempos antigos (Muchembled, 1989), e, na<br />

educação, de fato desempenhava um papel socializador. A família<br />

malthusiana, na qual se baseia a maior parte das normas e modelos<br />

culturais da família ocidental, se opunha à tradição popular, ao recusar<br />

a brutalidade que transformava o antagonismo na chave da normalização.<br />

Ao invés da brutalidade corretiva dos pais e do grupo de<br />

colegas (cf. Thin, 1998), a família burguesa preferia que o aprisionamento<br />

se desse na esfera da chantagem emocional, fazendo com<br />

que a educação não-violenta se tor<strong>nas</strong>se a norma. O medo da violência<br />

por parte das crianças (Crubellier, 1979) estava relacionado<br />

ao confinamento da infância percebido por Foucault. Boa parte de<br />

sua obra (Rorty, 1993; p. 99) consistiu em “mostrar como os modelos<br />

característicos da aculturação das sociedades liberais impunham<br />

restrições de tipos inimagináveis às sociedades mais antigas, prémoder<strong>nas</strong>”,<br />

mas, para Foucault, a regressão do sofrimento causado<br />

pela violência espetacular (a que ele chama de “a eclosão do tormento”)<br />

não compensa o totalitarismo moderado presente nessas<br />

novas restrições, cujas melhores expressões são a escola e a pedagogia<br />

“ortopédica”. A profunda transformação de nosso relacionamento<br />

com a brutalidade na educação consegue explicar de forma<br />

mais ampla sua definição excessiva como violência intolerável. No<br />

final das contas, estaríamos simplesmente aplicando normas pequeno-burguesas,<br />

que são repressivas no sentido de que apelam para<br />

uma rede de proibições, para um “clima” emocional que pressiona e<br />

sufoca 9 . De certa forma, se seguirmos à risca esse raciocínio, não<br />

deveríamos então restaurar a violência?<br />

9 Não é por acidente – e essa é a base da crítica clássica de Malinovski ao freudismo<br />

– que a psicanálise tenha se desenvolvido sobre a base do enclausuramento na<br />

família burguesa do fin-de-siècle, que gera uma sufocação psicótica, ao mesmo tempo<br />

em que dá amor à criança.<br />

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