Violencia nas Escolas.pdf
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mo que criminaliza a pobreza e que, no âmbito de nosso tema,<br />
o interpreta, desde a mais tenra idade, como uma forma de aliviar<br />
o Estado “de suas responsabilidades quanto à origem social<br />
e econômica da insegurança, apelando à responsabilidade individual<br />
dos habitantes de áreas ‘incivilizadas’ de exercer sua<br />
própria forma de controle social” (id. p. 23), ao recomendar a<br />
tolerância zero desde cedo. Para Wacquant, a razão primordial<br />
desse controle social encontra-se na racionalidade econômica<br />
americana, que vem disseminando-se por todo o mundo: “A<br />
América, obviamente, optou por criminalizar a pobreza, para<br />
complementar a generalização da insegurança financeira e social”<br />
(op. cit. p. 151), e é essa a alternativa que está sendo proposta<br />
às demais democracias da Europa e de outras partes do mundo.<br />
Criminalizar os comportamentos de recusa é uma forma de<br />
fazer com que as pessoas aceitem trabalhar por pouco, e aceitem<br />
também o enfraquecimento do papel redistribuidor do Estado<br />
– em outras palavras, o fim da proteção social.<br />
Sob essa luz, a construção do objeto está ligada a uma opinião<br />
que é manipulada pela mídia e pelas autoridades públicas.<br />
“Violência na escola” é uma onda criada pela mídia, na qual os<br />
pesquisadores vêm surfando, ou, ainda pior, um álibi para as tentações<br />
repressoras que o mundo dos “especialistas” ajuda a justificar.<br />
Nesse caso, nosso seminário representa um risco para as<br />
liberdades públicas, principalmente devido ao fato de ele incluir<br />
um grande número desses mesmos circuladores de idéias entre a<br />
Europa e os Estados Unidos, que Wacquant denuncia. Será que<br />
essa aliança entre o mundo dos especialistas eomundo político<br />
faz parte da conspiração mundial a favor de um imperialismo<br />
conservador? Por mais irritante que ela possa ser, essa pergunta<br />
merece uma resposta.<br />
O modelo de Foucault<br />
Mesmo sem admitir a existência de uma conspiração mundial<br />
consciente, proveniente da América, esse tipo de suspeita pode também<br />
ter sido influenciada pelas idéias de Michel Foucault, que, de<br />
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