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Violencia nas Escolas.pdf

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gangues (Sharp e Smith, 1994; Smith et al., 1999). Essa descoberta<br />

acontece quando, gradualmente, passamos a reconhecer o que<br />

as vítimas têm a dizer, e a reconhecer, portanto, seu poder de<br />

colocar seu sofrimento em palavras. Da mesma forma, as leis<br />

sobre o assédio no trabalho surgiram a partir do momento em<br />

que passamos a nomear aquilo que gradualmente veio a se converter<br />

num delito, na maior parte dos países da Europa e da<br />

América do Norte, e o poder do assediador diminuiu progressivamente,<br />

à medida que as palavras da vítima ganharam legitimidade.<br />

O mesmo vale para a violência sexual cometida por adultos em<br />

relação a crianças, <strong>nas</strong> escolas e em outros lugares, e para o arsenal<br />

de punições regularmente aplicadas <strong>nas</strong> escolas, que pouco a pouco<br />

se tornaram ilegais, nos termos do direito internacional.<br />

Não há portanto necessidade de estabelecer uma definição<br />

“objetiva”, contraposta a uma “subjetiva”. A sociologia de Max<br />

Weber tem grande valor aqui, no sentido de que ela nunca erigiu<br />

oposição entre as regularidades estatísticas “objetivas”, que são a<br />

“verdade” das coisas, e a interpretação dos fatos pelos próprios<br />

sujeitos (ou antes, a elaboração dos fenômenos como fatos). A<br />

verdade de um fenômeno social também resulta do significado<br />

que os sujeitos – na posição de sujeitos sociais – dão aos eventos<br />

e aos atos (Pourtois et al., 1992). A pior situação e a mais violenta,<br />

que um cientista – ou qualquer pessoa – pode provocar para<br />

uma vítima é negar que ela seja uma vítima, é relegá-la ao reino<br />

do “subjetivismo”. Isso não refuta o modelo da violência “simbólica”,<br />

que é ainda mais violenta pelo fato de ser oculta, mas<br />

abre o caminho para que as vítimas possam dizer o que sentem,<br />

e para o aumento do nível de conscientização, que é uma tarefa<br />

sociológica. O papel do “savant”, nesse caso, não seria o de propiciar<br />

a expressão dessas palavras, ajudar as pessoas a compreender<br />

o sofrimento sem primeiro aprisioná-lo em definições fixas,<br />

8 De acordo com essa escola de pensamento, a nomeação e a qualificação de um<br />

sujeito faz com que ele se fixe nessa nomeação, por exemplo, a reprovação na<br />

escola, por meio do famoso “efeito Pigmaleão” ou, para Michel Foucault, a loucura.<br />

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