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Violencia nas Escolas.pdf

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A segunda dificuldade vincula-se tanto à ignorância do pragmatismo<br />

da linguagem, que recusa qualquer idealismo conceitual<br />

e devolve as palavras a seu contexto e sua história, quanto a uma<br />

incompreensão dos mecanismos de formação do vocabulário <strong>nas</strong><br />

ciências huma<strong>nas</strong>. O pragmatismo da linguagem desafia a própria<br />

idéia de “conceito” e, portanto, da definição eterna dentro<br />

de um vocabulário adequado à coisa. “A verdade não pode existir<br />

independentemente da mente humana – uma vez que as sentenças<br />

não existiriam, não estariam aí, à nossa frente. O mundo<br />

está lá, do lado de fora, mas não as descrições que dele fazemos.<br />

Ape<strong>nas</strong> elas podem ser verdadeiras ou falsas. O mundo, em si,<br />

não poderia ser sem a intervenção das descrições feitas por seres<br />

humanos” (Rorty, 1993). O vocabulário científico, então, não<br />

“descobre” o que é verdade; o que é verdade é construído e, por<br />

sua vez constrói novos paradigmas. Em outras palavras, é um<br />

erro fundamental, idealista e histórico crer que definir a violência,<br />

ou qualquer outro termo, por sinal, seja uma questão de se<br />

aproximar o máximo possível de um conceito absoluto de violência,<br />

de uma “idéia” de violência que faz com que a palavra e a<br />

coisa estejam para sempre adequadas 6 . Não se trata sequer de<br />

dizer que as palavras evoluem juntamente com um “contexto”<br />

externo, que faria com que uma definição original evoluísse – que<br />

ape<strong>nas</strong> a ilusão de uma permanência etimológica pode ser encontrada.<br />

O “contexto” não é exterior ao texto, como demonstrou a<br />

psicologia histórica (Vernant, 1972), o contexto é “homólogo ao<br />

próprio texto a que ele se refere”, é um universo mental no qual as<br />

palavras são uma ferramenta verbal, uma categoria de pensamento,<br />

um sistema de representação, uma forma de sensibilidade: as<br />

palavras criam o contexto tanto quanto são criadas por ele.<br />

Podemos aplicar à “violência”, como conceito científico<br />

(usado por cientistas), a esplêndida demonstração de Passeron<br />

6 Poderíamos também nos utilizar da obra dos principais fenomenologistas, principalmente<br />

Husserl ou Heidegger, e sua crítica radical ao platonismo e ao idealismo<br />

dele resultante.<br />

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