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Violencia nas Escolas.pdf

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idéia? Na verdade, nosso trabalho sempre foi comparativo: comparar<br />

a situação das escolas segundo as variáveis sociais que as<br />

caracterizam sempre foi a base de todos os estudos efetuados<br />

por nossa equipe sobre as medidas de proteção contra a violência<br />

adotadas <strong>nas</strong> escolas e sua eficácia. Do mesmo modo, nossos<br />

levantamentos sobre a vitimização eoclima das escolas, realizados<br />

a intervalos regulares a partir de 1993, nos permitiram, através<br />

de questionários aplicados a mais de 30.000 alunos, mensurar<br />

a eficácia de determinadas políticas públicas eaevolução da<br />

situação na França. Se é verdade o que diz Passeron, sobre a<br />

sociologia ser ape<strong>nas</strong> uma questão de diferença, uma avaliação<br />

comparativa seria, então, a própria base da sociologia. Seria então<br />

bastante natural que, por razões científicas, nós tentássemos<br />

ampliar essa comparação a outros países.<br />

Entretanto, além dessas razões científicas, nossa mobilização<br />

inclui aspectos humanos que gostaríamos de mencionar. Aqui<br />

vai uma história que acontece numa grande cidade de um rico país<br />

democrático da América do Sul. Nesse país, os professores das<br />

escolas públicas – que são, antes de mais nada, professores – têm<br />

que trabalhar três vezes mais para conseguir pagar as contas no<br />

fim do mês. As mensalidades das escolas particulares, voltadas às<br />

elites, são muito superiores ao salário que esses professores recebem.<br />

Nessa cidade, a desigualdade social chegou a um ponto tal<br />

que as pessoas mais ricas, protegidas por portões de ferro, códigos<br />

de acesso, cães de guarda e guardas de segurança, vão de helicóptero<br />

da cobertura de suas casas à cobertura dos shopping-centers, para<br />

evitar cruzar com os pobres, os perigosos pobres. Nas marquises<br />

dos edifícios, dormem famílias inteiras de camponeses sem-terra,<br />

lado a lado com crianças de rua, que não têm outra perspectiva<br />

senão a luta pela sobrevivência, sem contar com outros meios que<br />

não a violência. É bem possível que, um dia, elas venham a ser<br />

mortas por uma bala, não necessariamente saída do revólver de<br />

um pobre. Numa escola para as crianças de uma enorme favela<br />

dessa cidade – uma favela com quase 700.000 habitantes – os professores<br />

nos contaram sobre essas tragédias huma<strong>nas</strong>. Eles nos<br />

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