MOVIMENTOS SOCIAIS, EDUCAÇÃO E SEXUALIDADES - Garamond

sexualidade em debate
MOVIMENTOS SOCIAIS,
EDUCAÇÃO E SEXUALIDADES
organizadoras
Miriam Pillar Grossi, Simone Becker, Juliana Cavilha Mendes Losso,
Rozeli Maria Porto e Rita de Cássia Flores Müller

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DO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.
M897
Movimentos sociais, educação e sexualidades / organizadoras, Miriam
Pillar Grossi... [et al.]. - Rio de Janeiro: Garamond, 2005
264p. - (Sexualidade, gênero e sociedade. Sexualidade em debate)
Textos apresentados no Seminário Movimentos Sociais, Educação
e Sexualidade, organizado pelo Centro Latino Americano em
Sexualidade e Direitos Humanos em parceria com o Núcleo de
Identidades de Gênero e Subjetividade da Universidade Federal de
Santa Catarina em Abril de 2003
Inclui bibliografi a
ISBN 85-7617-069-8
1. Comportamento sexual. 2. Movimentos sociais. 3. Educação sexual. 4.
Educação - Aspectos sociais. I. Grossi, Miriam Pillar. II. Série.
05-3148. CDD 306.7
CDU 392.6
Apoio:

ÍNDICE
APRESENTAÇÃO - ARTICULANDO REDES E BUSCANDO
DIÁLOGOS NO CAMPO DA SEXUALIDADE
Miriam Pillar Grossi, Simone Becker,
Juliana Cavilha Mendes Losso, Rozeli Maria Porto
e Rita de Cássia Flores Müller 9
I. HOMOSSEXUALIDADES
O CENTRO LATINO AMERICANO EM SEXUALIDADE E
DIREITOS HUMANOS E O “LUGAR” DA HOMOSSEXUALIDADE
Sérgio Carrara 17
CONSIDERAÇÕES SOBRE A SEXUALIDADE HUMANA
Jeanine Nicolazzi Philippi 25
VIOLÊNCIA E HOMOSSEXUALIDADE NO BRASIL:
AS POLÍTICAS PÚBLICAS E O MOVIMENTO HOMOSSEXUAL
Silvia Ramos 31
CRISTIANISMO E HOMOSSEXUALIDADE
Regina Soares Jurkewicz 45
TRAVESTIS BRASILEIRAS:
CONSTRUINDO IDENTIDADES CIDADÃS
Wiliam Siqueira Peres 53
A IMPRENSA GAY DO RIO DE JANEIRO:
LINGUAGEM VERBAL E LINGUAGEM VISUAL
Jorge Luiz Pinto Rodrigues 69

II. SEXUALIDADE E TEORIAS
SEXUALIDADES MASCULINAS:
PERSPECTIVAS TEÓRICO-METODOLÓGICAS
Maria Juracy Filgueiras Toneli e Karla Galvão Adrião 93
MÍDIA E SEXUALIDADES: BREVE PANORAMA
DOS ESTUDOS DE MÍDIA
Carmen Silvia Rial 107
SEXUALIDADE E HISTÓRIA DA ARTE:
UMA PERSPECTIVA FEMINISTA
Luana Maribele Wedekin 137
III. SEXUALIDADE E MOVIMENTOS SOCIAIS
SALÕES ÉTNICOS COMO ESPAÇOS ESTÉTICOS E POLÍTICOS DE IDENTI-
DADE NEGRA
Nilma Lino Gomes 149
NARRATIVAS DE LIDERANÇAS GLBTT
Juliana Cavilha Mendes Losso e Simone Becker 167
VIOLÊNCIA, DISCRIMINAÇÕES SEXUAIS, RACIAIS E DIREITOS
HUMANOS: UM DIÁLOGO ENTRE A ACADEMIA E A MILITÂNCIA
Analba Brazão Teixeira, Laura Moutinho, Luzinete Simões
Minella, Rozeli Maria Porto e Simone Grilo Diniz 179

IV. SEXUALIDADES E EDUCAÇÃO
POLÍTICAS IDENTITÁRIAS NA EDUCAÇÃO SEXUAL
Jimena Furlani 219
GÊNERO E SEXUALIDADE NOS
CADERNOS DE PESQUISA (FCC)
Rita de Cássia Flores Müller 239
GÊNERO E EDUCAÇÃO NO SEMINÁRIO RIZOMA
Marília Pinto de Carvalho 267

APRESENTAÇÃO
ARTICULANDO REDES E BUSCANDO
DIÁLOGOS NO CAMPO DA SEXUALIDADE
Miriam Pillar Grossi, Simone Becker, Juliana Cavilha Mendes Losso,
Rozeli Maria Porto e Rita de Cássia Flores Müller
Os textos aqui publicados foram apresentados no seminário Movimentos
Sociais, Educação e Sexualidades, organizado pelo Centro Latino-
Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM) em parceria
com o Núcleo de Identidades de Gênero e Subjetividades (NIGS) da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em abril de 2003.
Este evento foi o primeiro seminário organizado pelo CLAM, realizado
em Flo ria nópolis, durante o II Seminário Internacional Educação Intercultural,
Gênero e Movimentos Sociais – Identidade, Diferença e Media ções,
organizado pelo Projeto Rizoma. 1
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O projeto Rizoma foi fi nanciado pelo Plano Sul de Pesquisa e Pós-graduação (CNPq/Funcitec). Participaram
deste projeto, as seguintes equipes de pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC):
NIGS – Núcleo de Identidades de Gênero e Subjetividades (vinculado ao Programa de Pós-graduação
em Antropologia Social),
MOVER – Núcleo de Interculturalismo e Movimentos Sociais (vinculado ao Programa de Pós-graduação
em Educação),
NPMS – Núcleo de Pesquisa sobre Movimentos Sociais (vinculado ao Programa de Pós-graduação em
Sociologia Política) da UFSC
NEPEMOS – Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Movimentos Sociais da Fundação Universidade
de Blumenau (FURB).
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sexualidade em debate
Buscamos, ao realizar este seminário, envolver em torno da te má tica
do gênero e da sexualidade, educadores, pesquisadores e lideranças de
movimentos sociais que participavam do seminário internacional da
rede Rizoma.
As atividades relativas à temática Movimentos Sociais, Educação e
Sexualidades foram divididas em duas mesas-redondas, quatro ofi cinas
e no encontro de duas redes de movimentos sociais (movimentos feministas
e GLBTT), tendo recebido ao longo de quatro dias um público
de 1.500 pessoas.
Este livro foi organizado em torno de quatro eixos: Homossexualidades,
Sexualidades e Teorias, Sexualidades e Movimentos Sociais e
Sexualidades e Educação.
No primeiro eixo, Homossexualidades, temos uma série de textos que
abordam esta temática sob diferentes ângulos disciplinares – histórico,
jurídico, psicanalítico, antropológico. Os textos aqui publicados revelam
o vasto panorama de pesquisas e refl exões sobre o tema que têm
sido realizadas no Brasil ao longo das últimas décadas, desde o trabalho
pioneiro de Peter Fry. 2
No artigo de abertura do livro, Sérgio Carrara, apresenta os objetivos
do CLAM e refl ete sobre os direitos de gays e lésbicas no Brasil,
apontando para as contradições implícitas no reconhecimento das
identidades homoeróticas. No artigo seguinte, Jeanine Philippi, refl ete
sobre os sujeitos de direitos no Brasil, problematizando a partir do
Direito e da Psicanálise sobre o lugar que o desejo tem na busca de reconhecimento
de práticas afetivo-sexuais não convencionais. No terceiro
artigo, Silvia Ramos traça um retrospecto dos principais acontecimentos
que nortearam a temática da homossexualidade na década de 1990,
mostrando como, no Rio de Janeiro, a parada GLBTT emerge neste
período aliada à implementação de políticas públicas como o Disque
Defesa Homossexual. Em seu texto ela desmistifi ca algumas violências
contra gays/lésbicas/travestis veiculadas na imprensa, mostrando que, a
exemplo das violências contra mulheres, o maior número de denúncias
de agressões contra homossexuais provém de situações interativas: do-
Fry, Peter. Para inglês Ver, Rio de Janeiro, Editora Zahar, 1982.

MOVIMENTOS SOCIAIS, EDUCAÇÃO E SEXUALIDADES
mésticas, familiares e de vizinhança. Em seu artigo intitulado “Cristianismo
e Homossexualidade”, Regina Jurkewicz traça um breve e conciso
retrospecto histórico acerca das diferentes posições assumidas pela Igreja
Católica frente à temática da homossexualidade. Vista inicialmente como
doença, ela passou a ser tomada como comportamento pecaminoso, que
é a forma como diferentes visões cristãs balizam a questão ainda hoje
em diferentes lugares do mundo.
Wiliam Siqueira Peres, tomando como grupo de estudo as travestis
de Londrina, aborda em seu texto a questão da construção de cidadania
por grupos marginalizados. Seu texto é uma análise de ofi cina realizada
com travestis dentro de projeto DST/HIV/AIDS em Londrina no qual
foram abordados temas como a família, a escola, a construção do corpo
travesti e a sexualidade. Partindo da análise do design da imprensa
brasileira gay desde a década de 1960, o último texto deste eixo, o de
Jorge Luiz Pinto Rodrigues mostra como o movimento gay brasileiro
foi construindo ao longo das últimas três décadas instigantes autoimagens.
O autor faz um importante mapeamento de publicações gays
brasileiras, remontando sua análise ao jornal mimeografado, O Snob,
publicado entre 1963 e 1969. Segue estudando O Lampião da Esquina,
que foi publicado nos anos 1970, um clássico da “imprensa alternativa”
do período e fi naliza com publicações dos anos 1990 como Nós por
exemplo, Sui Generis, G Magazine.
No segundo eixo do livro, intitulado Sexualidades e Teorias, temos
três importantes revisões teóricas sobre temas relativos ao gênero e à
sexualidade: sobre a temática das masculinidades, sobre as representações
da mídia e na arte moderna e contemporânea.
No primeiro trabalho deste eixo, Maria Juracy Toneli e Karla Galvão
Adrião fazem um amplo levantamento dos trabalhos produzidos nas
últimas décadas sobre a temática da masculinidade, retra çando linhas
de análise e autores de referência sobre o tema. No segundo trabalho,
Carmen Rial apresenta um vasto panorama do que são os estudos de
recepção na área de comunicação, recuperando os principais trabalhos
internacionais de referência na análise da mídia sob o ângulo de gênero,
tema que tem despertado crescente interesse no campo de pesquisa de
gênero no Brasil. No terceiro trabalho, Luana Wedekin faz um passeio
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sexualidade em debate
entre visões de gênero e sexualidade em diferentes momentos e movimentos
artísticos, tendo como norteadora a imagem do pintor francês
Gustave Courbet, de duas mulheres nuas enlaçadas no leito, que ilustrou
o folder do seminário.
No terceiro eixo, Sexualidades e Movimentos Sociais, trazemos textos
que articulam questões caras ao movimento negro, ao movimento
feminista e ao movimento GLBTT como o racismo, a violência doméstica,
a homofobia e as práticas sociais e políticas de superação de
discriminações e preconceitos.
O primeiro artigo, de Nilma Gomes é sobre o papel que salões de
beleza “étnicos” desempenham na construção de auto-estima e reconhecimento
da identidade afro de mulheres negras em Belo Horizonte.
Nilma argumenta que estes espaços tradicionais de construção de feminilidade
são hoje um importante lugar de resistência, de valorização da
negritude e dos vínculos com a tradição africana, cumprindo um papel
tão importante como o de outras mobilizações do movimento negro
contemporâneo no Brasil. No segundo artigo, Juliana Losso e Simone
Becker fazem um mapeamento dos grupos presentes no encontro da
rede GLBTT, fazendo um breve histórico de cada grupo e lançando
algumas questões sobre a constituição de identidade e reconhecimento
por parte destes grupos. No último texto deste eixo, de Analba Brazão
Teixeira, Laura Moutinho, Rozeli Porto, Luzinete Minella e Simone
Diniz, as autoras buscam fazer uma síntese da diversidade de trabalhos
apresentados nas ofi cinas sobre violência, discriminações sexuais e raciais
e direitos humanos. Os trabalhos aqui relatados foram construídos a
partir das vivências nos mo vi mentos sociais e de práticas profi ssionais
no atendimento de vítimas de violências. É sempre importante lembrar
que o tema das violências contra as mulheres surge com mobilizações
feministas e que é no bojo da prática de atendimento de mulheres
vítimas de violências em serviços de ONGs (como na década de 1980
nos SOS Mulher), nas delegacias da Mulher e em serviços de saúde
do Estado. Além de fazer uma síntese dos trabalhos apresentados, elas
buscam retratar as acaloradas discussões que permearam os trabalhos
da ofi cina em torno das temáticas do sexismo e do racismo.
No quarto eixo, Sexualidades e Educação, estão publicados três textos

MOVIMENTOS SOCIAIS, EDUCAÇÃO E SEXUALIDADES
que têm como linha condutora o tema da Educação, que era um dos
principais objetos de nosso seminário.
No primeiro artigo deste eixo, de Jimena Furlani, encontramos uma
sólida articulação com as refl exões do primeiro eixo sobre a homossexualidade.
A autora, posicionando-se ao lado das teorias queer, argumenta
a favor da inclusão da temática da sexualidade nos currículos das escolas
primária e secundária. Rita de Cássia Muller, no segundo artigo deste
eixo, faz um detalhado mapeamento dos textos sobre gênero e sexualidade
publicados ao longo de 30 anos em uma das principais revistas do
campo da Educação, os Cadernos de Pesquisa, editados pela Fundação
Carlos Chagas. E, fi nalizando o livro, temos signifi cativo trabalho de
Marilia de Carvalho, que tendo trabalhado há vários anos com a questão
faz uma interessante relatoria dos trabalhos desenvolvidos nas ofi cinas
sobre o tema.
Como mostramos acima, trata-se de um livro com diferentes abordagens
disciplinares da temática da sexualidade. Entendendo que o campo
interdisciplinar dos estudos de gênero e sexualidade está fortemente
ancorado em diferentes tradições disciplinares (Antropologia, Educação,
Sociologia, História da Arte, Comunicação, Design, Psicologia, Ciências
da Religião) buscamos nesta coletânea, ilustrar as diferentes abordagens
teóricas da temática presentes em nosso seminário. Além dos autores
aqui presentes e do público que assistiu o seminário, agradecemos particularmente
Alinne Bonetti, Andréa Wolff, Anna Paula Martins, Anna
Paula Uziel, Bernadette Grossi dos Santos, Beto de Jesus, Caleb Faria
Alves, Camila Pinheiro Medeiros, Clair Castilhos, Clara Dornelles,
Déborah Sayão, Eduardo Saraiva, Flavio Wiik, Guacira Lopes Louro,
Iara Chaves, Ilse Scherer-Warren, Isabel Orofi no Shaeffer, Itamar dos
Santos, Janaina Lima, Irma Paso, Justina Sponchiado, Louise Lazzari,
Luimar Avelino Duarte Junior, Luana Cotroffi , Mara Lago, Marcos
Lopes de Souza, Maria Rita Lemos, Miriam Hartung, Myriam Santin,
Reynaldo Mathias Fleuri, Rosa Oliveira, Silvana Bittencourt, Silvia
Camurça, Sônia Malheiros Miguel, Suzana Garski, e Wivian Weller que
colaboraram conosco em diferentes etapas e papéis no seminário.
Certamente foi através deste interessante diálogo entre pesquisadores
e ativistas oriundos de diferentes regiões do país, pertencentes a diferen-
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sexualidade em debate
tes gerações e com distintos projetos de pesquisa e ação, que pudemos
realizar este livro. Agradecemos a todas aquelas que contribuíram para
que este diálogo se estabelecesse e que ele continuasse a se fazer após
o seminário, como podemos atestar pela intensa correspondência que
continuamos a receber dos participantes, mostrando que a imagem do
rizoma permanece inspirando trocas intelectuais e lutas políticas. Sabemos
que o campo da Educação é central para a mudança de valores,
comportamentos e estereótipos no campo do gênero e da sexualidade.
Constatamos, não sem tristeza, que o tema ainda é marginal e secundário
para a grande maioria de educadores hoje no Brasil. Esperamos que este
livro, possa ser útil de alguma forma para aquelas que desejam usar o
espaço da escola e da universidade como lugares de mudança de valores
e respeito às diferenças de gênero, étnico/raciais e sexuais.
Florianópolis, setembro de 2005.