NOCTURNO (Poema de Mário de Andrade ... - Bloco da Ressaca
NOCTURNO (Poema de Mário de Andrade ... - Bloco da Ressaca
NOCTURNO (Poema de Mário de Andrade ... - Bloco da Ressaca
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>NOCTURNO</strong> (<strong>Poema</strong> <strong>de</strong> <strong>Mário</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>)<br />
Luzes do Cambuci pelas noites <strong>de</strong> crime...<br />
Calor!... E as nuvens baixas muito grossas,<br />
feitas <strong>de</strong> corpos <strong>de</strong> mariposas,<br />
rumorejando na epi<strong>de</strong>rme <strong>da</strong>s árvores...<br />
Gingam os bon<strong>de</strong>s como um fogo <strong>de</strong> artifício,<br />
sapateando nos trilhos,<br />
cuspindo um orifício na treva cor <strong>de</strong> cal...<br />
Num perfume <strong>de</strong> heliotrópios e <strong>de</strong> pôças<br />
gira uma flor-do-mal... Veio do Turquestan;<br />
e traz olheiras que escurecem almas...<br />
Fundiu esterlinas entre as unhas roxas<br />
nos oscilantes <strong>de</strong> Ribeirão Preto...<br />
– Batat’assat’ô furnn!...<br />
Luzes do Cambuci pelas noites <strong>de</strong> crime!...<br />
Calor... E as nuvens baixas muito grossas,<br />
feitas <strong>de</strong> corpos <strong>de</strong> mariposas,<br />
rumorejando na epi<strong>de</strong>rme <strong>da</strong>s árvores...<br />
Um mulato cor <strong>de</strong> oiro,<br />
com uma cabeleira feita <strong>de</strong> alianças poli<strong>da</strong>s...<br />
Violão! “Quando eu morrer...” Um cheiro pesado <strong>de</strong> baunilhas<br />
oscila, tomba e rola no chão...<br />
Ondula no ar a nostalgia <strong>da</strong>s Baías...<br />
E os bon<strong>de</strong>s passam como um fogo <strong>de</strong> artifício,<br />
sapateando nos trilhos,<br />
ferindo um orifício na treva cor <strong>de</strong> cal...<br />
-Batat’assat’ô furnn!...<br />
Calor!... Os diabos an<strong>da</strong>m no ar<br />
corpos <strong>de</strong> nuas carregando...<br />
As lassitu<strong>de</strong>s dos sempres imprevistos!<br />
e as almas acor<strong>da</strong>ndo às mãos dos enlaçados!<br />
Idílios sob os plátanos!...<br />
E o ciume universal às fanfarras gloriosas<br />
<strong>de</strong> sáias cor <strong>de</strong> rosa e gravatas cor <strong>de</strong> rosa!...<br />
Balcões a cautela latejante, on<strong>de</strong> florem Iracemas<br />
para os encontros dos guerreiros brancos... Brancos?<br />
E que os cães latam nos jardins!<br />
Ninguem, ninguem, ninguem se importa!<br />
Todos embarcam na Alame<strong>da</strong> dos Beijos <strong>da</strong> Aventura!<br />
Mas eu... Estas minhas gra<strong>de</strong>s em girândolas <strong>de</strong> jasmins<br />
enquanto as travessas do Cambuci nos livres<br />
<strong>da</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong> dos lábios entreabertos!...<br />
Arlequinal! Arlequinal!<br />
As nuvens baixas muito grossas,
feitas <strong>de</strong> corpos <strong>de</strong> mariposas,<br />
rumorejando na epi<strong>de</strong>rme <strong>da</strong>s árvores...<br />
Mas sôbre estas minhas gra<strong>de</strong>s em girândolas <strong>de</strong> jasmins,<br />
o estelário <strong>de</strong>lira em carnagens <strong>de</strong> luz,<br />
e meu céu é todo um rojão <strong>de</strong> lagrimas!...<br />
E os bon<strong>de</strong>s passam como um fogo <strong>de</strong> artifício,<br />
sapateando nos trilhos,<br />
jorrando um orifício na treva cor <strong>de</strong> cal...<br />
-Batat’assat’ô furnn!...<br />
BAIRRO DO CAMBUCI (<strong>Poema</strong> <strong>de</strong> Marcelo Henrique Zacarelli)<br />
Que fazes aqui<br />
No bairro do Cambuci<br />
Á su<strong>de</strong>ste do marco zero<br />
Neste bairro que venero.<br />
Ao subir a serra que <strong>da</strong>i <strong>de</strong>scanso<br />
Aos animais <strong>de</strong> cargas bons paulistano<br />
De boas índoles sabemos que tu és<br />
Ao passarem pelo córrego do lavapés.<br />
Aos vizinhos Mooca e Ipiranga<br />
Ao servirem ao exército <strong>de</strong>ste país<br />
É inevitável se alistar ao passarem por aqui.<br />
Aos imigrantes sírio-libaneses e italianos<br />
Ao largo do Cambuci e av: Lins <strong>de</strong> Vasconcelos<br />
Faz <strong>de</strong> você meu Cambuci, nesta ci<strong>da</strong><strong>de</strong> o bairro mais belo.<br />
(soneto) Homenagem à São Paulo 455 anos<br />
Pelo autor Marcelo Henrique Zacarelli<br />
Janeiro <strong>de</strong> 2009 no dia 15 / Village Itaquá.