Kaio Felipe As representações de dilemas Morais e
Kaio Felipe As representações de dilemas Morais e
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vitimou mais <strong>de</strong> seis mil pessoas e causou enormes prejuízos materiais para a<br />
cida<strong>de</strong>. Apenas dois meses <strong>de</strong>pois, em 20 <strong>de</strong> março, seguidores da seita Aum<br />
Shinrikyo (Aum Verda<strong>de</strong> Suprema) conduziram ataques simultâneos em cinco<br />
carros <strong>de</strong> diferentes trens do metrô <strong>de</strong> Tóquio com gás sarin, resultando em 12<br />
mortes e cerca <strong>de</strong> 5500 pessoas afetadas <strong>de</strong> alguma forma, sendo mais <strong>de</strong> 1300<br />
com lesões permanentes, como cegueira. (cf. ANTONIOLI, 2012).<br />
O terremoto e o ataque terrorista abalaram o já combalido moral da<br />
população japonesa, que atravessava uma recessão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1990. Kauê Antonioli<br />
relacionou <strong>de</strong> forma intrigante os dois eventos com o sucesso <strong>de</strong> Evangelion:<br />
“Se um dos objetivos da Aum com o ataque foi violentar o país,<br />
para forçá-lo à auto-reflexão, isso <strong>de</strong> fato aconteceu. Não apenas<br />
com os intelectuais que estudaram o caso, mas as próprias<br />
vítimas, ao invés <strong>de</strong> apenas <strong>de</strong>monizar o culto, o fizeram não<br />
sem mirar seu <strong>de</strong>do indicador para o espelho. (...) Para o Japão,<br />
o atentando no metrô <strong>de</strong> Tóquio foi uma advertência e o fato<br />
pontual da virada histórica do país, o início <strong>de</strong> uma nova era,<br />
menos brilhante e pomposa. 1995 foi também o ano do terremoto<br />
<strong>de</strong> Kobe e do lançamento <strong>de</strong> Neon Genesis Evangelion, que não<br />
teve o apelo popular que conquistou com seu teor pessimista<br />
apenas por acaso.” (Ibi<strong>de</strong>m)<br />
O estado <strong>de</strong> espírito japonês estava em crise; mais do que isso,<br />
predominava no país, particularmente entre os jovens, a sensação <strong>de</strong> anomia,<br />
isto é, <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> objetivos e perda <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong>corridos do acelerado<br />
<strong>de</strong>senvolvimento econômico e das profundas alterações sociais, os quais<br />
<strong>de</strong>bilitaram a consciência coletiva. Embora generalizado, este mal-estar dos<br />
anos 90 foi mais forte no Japão; talvez pela experiência da bomba atômica na II<br />
Guerra, mas também por uma antiga preocupação cultural com a transitorieda<strong>de</strong><br />
da vida, os japoneses <strong>de</strong>senvolveram uma crítica apocalíptica à tecnologia, a<br />
qual se manifestou em muitos mangás e animes (um exemplo notório é Akira).<br />
Moldou-se uma cultura <strong>de</strong> massa obcecada pela temática do ―fim do mundo‖, e<br />
Evangelion po<strong>de</strong> ser visto como uma alegoria <strong>de</strong>ste Japão pós-mo<strong>de</strong>rno.<br />
Esta visão pessimista da tecnologia aparece em Neon Genesis Evangelion<br />
na medida em que há um questionamento sobre a relação do homem e da<br />
máquina, sendo que esta parece cada vez mais dominar e interferir na realida<strong>de</strong>.<br />
A problematização da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> humana no contexto da tecnologia é levada em