Literaturas africanas de expressão portuguesa - Centro Virtual ...
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evi<strong>de</strong>nte, e à medida que o seu verbo se vai <strong>de</strong>purando<br />
com os anos, acontece também que a sua poesia cada<br />
vez mais é presa <strong>de</strong>sta condição bipolar do poeta.<br />
Europeu <strong>de</strong> sangue e cultura, africano <strong>de</strong> nascimento,<br />
Rui Knopfli hoje vivendo em Inglaterra, parece ter tido<br />
dificulda<strong>de</strong> em resolver esta contradição aparente. Mas<br />
injusto seria não sublinhar o apelo que as forças<br />
incontidas da «minha [sua] terra» nele pulsam com<br />
frequência e porventura o seu belíssimo e longo poema<br />
«Hidrografia» regista o momento da plenitu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
i<strong>de</strong>ntificação do poeta com a África:<br />
rios antigos <strong>de</strong> África nova,<br />
correndo em seu ventre ubérrimo<br />
e luxuriante. Rios, seivas, sangue ebuliente,<br />
velas, artérias vivificadas<br />
<strong>de</strong>ssa virgem morena e impaciente,<br />
minha terra, nossa Mãe! 149<br />
Estamos nos princípios da década <strong>de</strong> sessenta.<br />
«Moçambique 58/[59]» tinha dado os últimos suspiros.<br />
Paralelo 20 on<strong>de</strong> apareceram ainda (logo se lhes per<strong>de</strong>u o<br />
rasto), Águeda Ceita e Zita Leão, penosamente resiste e<br />
vai extinguir-se em janeiro <strong>de</strong> 1960. «O Brado Literário»<br />
ou as suas variantes que a certa altura se <strong>de</strong>gradaram do<br />
ponto <strong>de</strong> vista da moçambicanida<strong>de</strong>, já se apagou. A<br />
meteórica existência <strong>de</strong> Capricórnio (dois números, 1958),<br />
dirigida por Cor<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> Brito, nada veio a adiantar. O<br />
suplemento «Artes e Letras» do Notícias, apesar <strong>de</strong> uma<br />
ou outra colaboração ou iniciativa alargada, nunca se<br />
pô<strong>de</strong> ou quis verda<strong>de</strong>iramente <strong>de</strong>svincular <strong>de</strong> uma<br />
subordinação oficial e subserviência imperial. É nesta<br />
apagada perspectiva que surge a A Voz <strong>de</strong> Moçambique,<br />
com o seu suplemento cultural, sucessivamente mensal,<br />
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