Literaturas africanas de expressão portuguesa - Centro Virtual ...
Literaturas africanas de expressão portuguesa - Centro Virtual ...
Literaturas africanas de expressão portuguesa - Centro Virtual ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
intitula-se «Da fruição do silêncio». E eis aqui <strong>de</strong>finidas<br />
duas categorias cardinais do estatuto <strong>de</strong> uma situação<br />
colonial: o silêncio e o não. O silêncio imposto,<br />
organizado, codificado, metodizado, institucionalizado,<br />
elevado à função <strong>de</strong> personagem condutora. O «não»<br />
<strong>de</strong>clarado ou secreto era a alternativa para quem<br />
persistia na coerência íntima <strong>de</strong> se rebelar contra a<br />
traição. O não, <strong>de</strong> longa tradição, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Césaire, e o<br />
silêncio que se alastra e corre (vivifica) a poesia<br />
moçambicana dos fins da década <strong>de</strong> sessenta e<br />
princípios da década <strong>de</strong> setenta. Simplesmente Rui<br />
Nogar no seu texto poético cientifica o inferno do<br />
silêncio, num longo poema <strong>de</strong> nove estrofes<br />
constituídas por trinta e seis versos, intitulado «Da<br />
fruição do silêncio»;<br />
Era o silêncio <strong>de</strong>vorando o silêncio<br />
era o silêncio copulando o silêncio<br />
era o silêncio assassinando o silêncio<br />
era o silêncio ressuscitando o silêncio<br />
Oh o silêncio o silêncio<br />
maldito silêncio colonial<br />
fuzilando-os um a um<br />
contra as pare<strong>de</strong>s da solidão<br />
Oh o silêncio o silêncio<br />
maldito silêncio imperial<br />
sepultando-os um a um<br />
sob os escombros <strong>de</strong> Portugal 137<br />
Citando Malangatana Valente, o prestigioso pintor<br />
moçambicano, que teria publicado apenas dois ou três<br />
poemas, que terminaram por ser traduzidos em algumas<br />
79