Literaturas africanas de expressão portuguesa - Centro Virtual ...
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Já se vê, branco e português é M. F. Moura Coutinho.<br />
E em Moçambique ele faz a reconversão que outros<br />
tentaram em Angola. Um Ruy <strong>de</strong> Carvalho,<br />
supunhamos. O «branco ladrão» «mandou» que o negro<br />
«fosse um cão». Moura Coutinho, porém, numa<br />
linguagem lavrada quase em solilóquio, as palavras um<br />
facto e não uma intenção, transgri<strong>de</strong> a or<strong>de</strong>m:<br />
e<br />
Conheci hoje o negro que há em mim<br />
E que vive no meu peito ignorado<br />
Sob uma pele branca <strong>de</strong> europeu 112<br />
Hoje o negro é meu irmão 113<br />
Papiniano Carlos e Vítor Matos e Sá, moçambicanos<br />
<strong>de</strong> nascimento, mas <strong>de</strong> origem europeia, ligaram o seu<br />
nome à poesia moçambicana. Vítor Matos e Sá<br />
esporadicamente, e apenas quando ainda jovem, em que<br />
procura i<strong>de</strong>ntificar-se com uma tradição moçambicana,<br />
como neste caso em memória <strong>de</strong> Rui <strong>de</strong> Noronha: «E<br />
po<strong>de</strong>r, Amigo,/chamar-te irmão da tua dor/já que o não<br />
posso ser/na mesma cor...» 114. Pela opção cultural que,<br />
<strong>de</strong>pois em Portugal, veio a assumir, a sua poesia está<br />
ligada à história da poesia <strong>portuguesa</strong>. De certo modo é<br />
o caso <strong>de</strong> Papiniano Carlos. Mas alguma coisa o<br />
distingue daquele. Primeiro a sua visão humanista (e não<br />
humanitária) que lhe permite, em certo momento,<br />
remontar à infância, evocando a sua terra: «Ó minha<br />
cida<strong>de</strong> longínqua, mas aqui tão nítida e presente» 115, que<br />
é uma forma <strong>de</strong> retomar o caminho da a<strong>de</strong>são fraterna<br />
ao mundo distante que ele evoca no longo poema<br />
«Infância» que só po<strong>de</strong>rá ser entendido se conjugada a<br />
leitura com a do «Poema para Langston»: «eu estou<br />
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