Literaturas africanas de expressão portuguesa - Centro Virtual ...
Literaturas africanas de expressão portuguesa - Centro Virtual ...
Literaturas africanas de expressão portuguesa - Centro Virtual ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
anos resistiu Itinerário a todas as provações, e honesta e<br />
persistentemente foi levando a cabo um papel<br />
consciencializador, apesar <strong>de</strong> alguma da sua colaboração<br />
se ressentir dos efeitos (<strong>de</strong>feitos) <strong>de</strong>ssa época. Mas é a<br />
partir <strong>de</strong> 1950 que os principais poetas (e contistas), que<br />
então se começavam a revelar, ali estão representados,<br />
por vezes ao lado dos <strong>de</strong> Angola, facto para o qual<br />
teriam contribuído os neo-realistas portugueses,<br />
Augusto dos Santos Abranches, e o romancista Afonso<br />
Ribeiro, ambos então radicados.<br />
No entanto, a primeira manifestação colectiva da<br />
poesia moçambicana é levada a cabo em Lisboa. Parte<br />
do núcleo cultural da extinta Casa dos Estudantes do<br />
Império, e intitula-se Poesia em Moçambique (1951),<br />
separata daquela revista, organizada por Orlando <strong>de</strong><br />
Albuquerque e Victor Evaristo. É avultado o número <strong>de</strong><br />
poetas que colaboram, seja no Itinerário, seja na<br />
antologia. Alguns são portugueses radicados por<br />
<strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> anos em Moçambique, e que ali continuaram<br />
a viver, <strong>de</strong>ixando aquele país após a in<strong>de</strong>pendência,<br />
como Irene Gil, autora <strong>de</strong> alguns poemas dispersos. Um<br />
Ilídio Rocha, também português por largos anos<br />
radicado e cremos que ausente agora <strong>de</strong> Moçambique (O<br />
meu outro mundo, 1957; No reino do tambor, 1959; Sargaço,<br />
1959; Sete canções <strong>de</strong> amor em pombas <strong>de</strong> papel, 1964; Sinais do<br />
espaço, 1967, ... Do tempo inútil, 1975), sensível aos valores<br />
musicais e da cultura moçambicanas, da sua poesia<br />
transparece uma apreensão do real que nada tem a ver<br />
com o folclórico ou com o exótico. Há mesmo neste<br />
autor uma escrita <strong>de</strong>licada e humana ternura: «Pés<br />
<strong>de</strong>scalços/pisam caminhos <strong>de</strong> areia//Pés negros<br />
<strong>de</strong>scalços/pisam sujos caminhos <strong>de</strong> areia//Pés cansados<br />
negros e <strong>de</strong>scalços/pisam tristes sujos caminhos <strong>de</strong><br />
66