Literaturas africanas de expressão portuguesa - Centro Virtual ...
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1. LÍRICA<br />
Ao contrário <strong>de</strong> Angola, não temos para Moçambique<br />
uma poesia do século XIX. Certo que fica <strong>de</strong> pé a<br />
hipótese, cremos que remota, <strong>de</strong> na imprensa<br />
moçambicana da época ou, inclusive, no Almanach <strong>de</strong><br />
Lembranças haver alguns indícios. Do que nos foi<br />
possível até ao presente momento averiguar, fica-nos a<br />
convicção <strong>de</strong> que a poesia <strong>de</strong> características<br />
moçambicanas, com efeito, aparece só no século XX.<br />
Aponta-se o nome <strong>de</strong> Rui <strong>de</strong> Noronha (1909-1943),<br />
mestiço <strong>de</strong> indiana e negra, como o precursor da poesia<br />
moçambicana. Vivendo numa época e numa terra em<br />
que utilizar a África real como fundamento <strong>de</strong> poesia<br />
era problemático, Sonetos (1943), edição póstuma, po<strong>de</strong><br />
suscitar algumas reservas. Haverá, no entanto, que ter-se<br />
em conta que a edição, para além <strong>de</strong> estropiada em<br />
vários poemas, não reúne toda a obra <strong>de</strong> Rui <strong>de</strong><br />
Noronha 103. Mas ali mesmo se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>tectar aquela<br />
face que julgamos ser a verda<strong>de</strong>ira do poeta, aquela que<br />
o vincula ao canto da «pátria do mistério»: «Desperta. O<br />
teu dormir é mais que terreno.../Ouve a voz do<br />
progresso, este outro nazareno,/Que a mão te esten<strong>de</strong> e<br />
diz – «África, surge et ambula» 104.<br />
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