Literaturas africanas de expressão portuguesa - Centro Virtual ...
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prisão, terminando por ser mandado para Lisboa, o<br />
primeiro texto ficcional do século XIX. Com efeito, O<br />
segredo da morta (1936), se não é, do ponto <strong>de</strong> vista<br />
estético, uma obra excepcional, e se muito longe do<br />
apuramento literário da <strong>de</strong> um Alfredo Troni e até<br />
mesmo da <strong>de</strong> um Pedro Félix Machado, cuida pelo<br />
menos <strong>de</strong> abandonar a visão colonialista, furtando-se à<br />
influência po<strong>de</strong>rosa do romance colonial da época, e<br />
proce<strong>de</strong> à construção <strong>de</strong> personagens e ambientes<br />
correctamente movimentados nas estruturas sociais e<br />
económicas <strong>de</strong> Angola. Há ainda, e é natural, uma<br />
relação com o colono, mas ela não só não é dominante,<br />
como ainda enriquece o sentido. Porque a estrutura do<br />
texto situa-se ao nível dos estratos sociais africanos, e<br />
termina por ser um curioso testemunho <strong>de</strong>ssa socieda<strong>de</strong><br />
na transição do século XIX para o século XX. A lenta<br />
criativida<strong>de</strong> linguística sobe aqui, com a utilização <strong>de</strong><br />
diálogos e certas expressões em quimbundo, no discurso<br />
do narrador.<br />
Caberá a Castro Soromenho (1910-1968),<br />
moçambicano <strong>de</strong> nascimento e angolano <strong>de</strong> vivência,<br />
lançar, <strong>de</strong> vez, o arranque da autêntica ficção angolana.<br />
A uma primeira fase em que é relevado o sentido do<br />
mundo social e mítico, lendário e histórico, das<br />
socieda<strong>de</strong>s tribalizadas, encaradas ainda <strong>de</strong> um certo<br />
ponto <strong>de</strong> vista estático Nhári – o drama da gente negra,<br />
1939; Noite <strong>de</strong> angústia, 1939; Homens sem Caminho, 1942;<br />
Rajadas e outras histórias, 1943; Calenga, 1945; Histórias da<br />
terra negra, 1960), suce<strong>de</strong> a análise pertinente das relações<br />
do homem negro, mestiço, branco, com a violência, a<br />
repressão, os abusos da administração, o sofrimento do<br />
homem angolano explorado, e até o <strong>de</strong>sencanto<br />
existencial <strong>de</strong> alguns homens da administração colonial.<br />
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