Literaturas africanas de expressão portuguesa - Centro Virtual ...
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afiguram reais. No fundo, é um processo <strong>de</strong> acusação<br />
através <strong>de</strong> formas eufemísticas, necessárias para iludir a<br />
Censura e evi<strong>de</strong>nciar a erosão que o sistema repressivo<br />
colonial ia sublimando <strong>de</strong> ano para ano. Este recurso ao<br />
tempo da infância, típico da poesia da década <strong>de</strong><br />
cinquenta, e que vamos encontrar também em alguns<br />
poetas moçambicanos, não po<strong>de</strong> assim ser interpretado<br />
como saudosismo ou como regresso do tempo perdido.<br />
Aires <strong>de</strong> Almeida Santos é um exemplo do que<br />
acabamos <strong>de</strong> afirmar. O recurso evocativo domina a sua<br />
poesia. Em 1958 no poema «A mulemba secou» se<br />
recria um quadro <strong>de</strong> tristeza:<br />
Como o meu bairro mudou,<br />
Como o meu bairro está triste<br />
Porque a mulemba secou...<br />
Só o velho Camalundo<br />
Sorri ao passar por lá!... 42<br />
Num outro poema, «Quem tem o canhé», ainda ao<br />
modo da narração, lê-se: «Contavam histórias do<br />
mato/Do tempo da escravatura». 43 Discurso feito<br />
memória: «a noite fugia»; «faziam roda sentados».<br />
«Tenho sauda<strong>de</strong>s, até,/Das sauda<strong>de</strong>s que senti». 44 É uma<br />
voz do «ontem», um ontem, mas como que voltado já<br />
para o futuro bem visível no «Poema da esperança»,<br />
publicado no Jornal <strong>de</strong> Angola que na transgressão<br />
figurada nos traz a mensagem da esperança: «As faces<br />
tisnadas sorriram <strong>de</strong> novo/os olhos nublados <strong>de</strong> novo<br />
brilhavam./Nas matas, as aves voltaram aos ninhos/E<br />
ao doce calor doirado do Sol/as rosas se abriram!» 45.<br />
Amélia Veiga (Destinos, 1961; Poemas, 1963, Libertação<br />
1974), longos anos radicada em Angola, partilha da<br />
aventura: «Das entranhas da terra/irrompe um vento<br />
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