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Literaturas africanas de expressão portuguesa - Centro Virtual ...

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porém, pela subestimação inconsciente da cor da pele<br />

negra. Às «faces <strong>de</strong> neve» se contrapõe a «planta mui<br />

breve». No século XIX é ainda quase tão-só o tópico da<br />

cor o único que à poesia empresta um carácter africano.<br />

J. Cândido Furtado: «Qu’ importa a côr, se as graças, se<br />

a candura/Se as fórmas divinaes do corpo teu/Se<br />

escon<strong>de</strong>m, se adivinhão, se apercebem/Sob esse tão<br />

subtil, ligeiro Véu,» 2 Menos em Ernesto Marecos (Juça,<br />

a matumbolla, 1865), mas também significativamente por<br />

ter utilizado temas da tradição popular, conferindo<br />

assim a categoria literária a motivações <strong>de</strong> raiz africana.<br />

Outro português radicado, <strong>de</strong>ssa época, é Eduardo<br />

Neves (c. 1855-?) cujos títulos <strong>de</strong> alguns poemas: «N’um<br />

batuque» ou «A uma Africana» são já índice interessante,<br />

mas que ganha maior relevo se o associarmos ao do<br />

convívio linguístico (português e quimbundo): «- Seja<br />

meu par, oh menina/não se zangue por tão pouco; –<br />

/Uá salúca, é você louco,/Gámessenâ’me qu’quina». 3<br />

Negritu<strong>de</strong>? Antes negrismo. Mesmo assim, é sensacional<br />

para a época o recurso à convivência linguística. Foi<br />

necessário esperar cerca <strong>de</strong> sessenta anos para que tal<br />

acontecesse em Cabo Ver<strong>de</strong> com Onésimo Silveira e<br />

outros, e com os poetas angolanos da geração da<br />

Mensagem, embora nestes últimos casos já sem o recurso<br />

à tradução, que E. Neves e outros poetas do século XIX<br />

não conseguiram dispensar. Mas on<strong>de</strong> a incidência no<br />

universo angolano começa a ser incontestável é com o<br />

negro J. Cor<strong>de</strong>iro da Matta (1857-1894), seriamente<br />

empenhado na manipulação <strong>de</strong> dados <strong>de</strong> raiz nacional.<br />

Ainda assim, e quando menos se espera, a contradição<br />

vem à flor da pele:<br />

Negra! negra! como a asa<br />

do corvo mais negro e escuro,<br />

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