Alterações posturais, de equilíbrio e dor lombar no ... - Febrasgo

Alterações posturais, de equilíbrio e dor lombar no ... - Febrasgo Alterações posturais, de equilíbrio e dor lombar no ... - Febrasgo

febrasgo.org.br
from febrasgo.org.br More from this publisher
17.04.2013 Views

Luciana Sobral Moreira 1 Sara Rosa de Sousa Andrade 2 Viviane Soares 3 Ivan Silveira de Avelar 4 Waldemar Naves Amaral 5 Marcus Fraga Vieira 6 Palavras-chave Gravidez Postura Equilíbrio postural Dor lombar Keywords Pregnancy Posture Postural balance Low back pain Revisão da liteRatuRa Alterações posturais, de equilíbrio e dor lombar no período gestacional Changes of posture, equilibrium and low back pain during pregnancy Resumo Durante a gravidez, a mulher passa por transformações morfológicas e fisiológicas que requerem cuidados especiais. As transformações fisiológicas envolvem adaptações hemodinâmicas, hormonais e biomecânicas que, sem acompanhamento adequado, contribuem para o surgimento de desordens musculoesqueléticas. Este estudo trata-se de uma revisão da literatura com busca das referências bibliográficas na base de dados Pubmed e Scielo e teve por objetivo discutir os principais fatores fisiológicos e biomecânicos que estão associados ao surgimento de alterações posturais, de equilíbrio postural e de dor lombar durante a gravidez e revisar métodos de prevenção e alívio da dor. As alterações hemodinâmicas, hormonais e biomecânicas do corpo justificam a presença de edemas, do aumento do peso corporal, da frouxidão ligamentar e das alterações posturais comuns nas grávidas e propiciam o aparecimento de desordens musculoesqueléticas e o comprometimento do equilíbrio postural. O estudo dessas desordens é importante, pois fornece um indicativo de persistência de sintomas álgicos durante a gravidez e no pós-parto, e o conhecimento destas, bem como dos métodos de analgesia para seus sintomas, permite ao profissional de saúde a elaboração de intervenções preventivas ou o diagnóstico e o seu tratamento precoce. Abstract During pregnancy, the woman undergoes morphological and physiological changes, which require special care. Physiological changes involve hemodynamic, hormonal, and biomechanical adaptations in pregnant woman body that, without appropriate monitoring, may contribute to emerging musculoskeletal disorders. The aim of this work was to search in literature most important physiological and biomechanical factors that are associated with low-back pain along with the appearance of postural and balance changes in the pregnant woman. In addition, it was revised prevention and alleviation methods of pain. In this review, bibliographical references from the Pubmed and the Scielo databases were used, and those references that fit in the proposed theme were chosen to be discussed. Hemodynamic, hormonal and biomechanical changes are factors that justify edemas, the increasing in body weight, the ligament looseness and postural changes that are very common in pregnant women. The appearance of musculoskeletal disorders and balance impairment are frequent due these changes. Hence, the study of these disorders is relevant since they provide evidence of pain symptom persistence during pregnancy and postpartum. Besides, the understanding of these disorders as well as analgesia methods enables the health care professional to elaborate preventive interventions or early diagnoses and treatments of symptoms. 1 Especialista em Fisioterapia Traumato-Ortopédica pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde – Laboratório de Bioengenharia e Biomecânica da Universidade Federal de Goiás (UFG) – Goiânia (GO), Brasil. 2 Especialista em Saúde da Família pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde – Laboratório de Bioengenharia e Biomecânica da Universidade Federal de Goiás (UFG) – Goiânia (GO), Brasil. 3 Mestre em Ciências da Saúde pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde – Laboratório de Bioengenharia e Biomecânica da Universidade Federal de Goiás (UFG) – Goiânia (GO), Brasil. 4 Especialista em Educação Física Escolar e Atividade Física e Saúde pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde – Laboratório de Bioengenharia e Biomecânica da Universidade Federal de Goiás (UFG) – Goiânia (GO), Brasil. 5 Doutor em Doenças Infecciosas e Parasitárias pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde – Departamento de Ginecologia da UFG – Goiânia (GO), Brasil. 6 Doutor em Engenharia Elétrica pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde e pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica e da Computação – Faculdade de Educação Física – Laboratório de Bioengenharia e Biomecânica da Universidade Federal de Goiás (UFG) – Goiânia (GO), Brasil. Endereço para correspondência: Luciana Sobral Moreira – Rua 59-A, 735 – ap. 201 – Setor Aeroporto – CEP: 74070-160 – Goiânia (GO), Brasil – E-mail: lusobral.fisio@gmail.com

Luciana Sobral Moreira 1<br />

Sara Rosa <strong>de</strong> Sousa Andra<strong>de</strong> 2<br />

Viviane Soares 3<br />

Ivan Silveira <strong>de</strong> Avelar 4<br />

Wal<strong>de</strong>mar Naves Amaral 5<br />

Marcus Fraga Vieira 6<br />

Palavras-chave<br />

Gravi<strong>de</strong>z<br />

Postura<br />

Equilíbrio postural<br />

Dor <strong>lombar</strong><br />

Keywords<br />

Pregnancy<br />

Posture<br />

Postural balance<br />

Low back pain<br />

Revisão da liteRatuRa<br />

<strong>Alterações</strong> <strong>posturais</strong>, <strong>de</strong> <strong>equilíbrio</strong> e<br />

<strong>dor</strong> <strong>lombar</strong> <strong>no</strong> período gestacional<br />

Changes of posture, equilibrium and low back pain during pregnancy<br />

Resumo Durante a gravi<strong>de</strong>z, a mulher passa por transformações morfológicas e<br />

fisiológicas que requerem cuidados especiais. As transformações fisiológicas envolvem adaptações hemodinâmicas,<br />

hormonais e biomecânicas que, sem acompanhamento a<strong>de</strong>quado, contribuem para o surgimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns<br />

musculoesqueléticas. Este estudo trata-se <strong>de</strong> uma revisão da literatura com busca das referências bibliográficas<br />

na base <strong>de</strong> dados Pubmed e Scielo e teve por objetivo discutir os principais fatores fisiológicos e biomecânicos<br />

que estão associados ao surgimento <strong>de</strong> alterações <strong>posturais</strong>, <strong>de</strong> <strong>equilíbrio</strong> postural e <strong>de</strong> <strong>dor</strong> <strong>lombar</strong> durante a<br />

gravi<strong>de</strong>z e revisar métodos <strong>de</strong> prevenção e alívio da <strong>dor</strong>. As alterações hemodinâmicas, hormonais e biomecânicas<br />

do corpo justificam a presença <strong>de</strong> e<strong>de</strong>mas, do aumento do peso corporal, da frouxidão ligamentar e das<br />

alterações <strong>posturais</strong> comuns nas grávidas e propiciam o aparecimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns musculoesqueléticas e o<br />

comprometimento do <strong>equilíbrio</strong> postural. O estudo <strong>de</strong>ssas <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns é importante, pois fornece um indicativo<br />

<strong>de</strong> persistência <strong>de</strong> sintomas álgicos durante a gravi<strong>de</strong>z e <strong>no</strong> pós-parto, e o conhecimento <strong>de</strong>stas, bem como<br />

dos métodos <strong>de</strong> analgesia para seus sintomas, permite ao profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> a elaboração <strong>de</strong> intervenções<br />

preventivas ou o diagnóstico e o seu tratamento precoce.<br />

Abstract During pregnancy, the woman un<strong>de</strong>rgoes morphological and physiological<br />

changes, which require special care. Physiological changes involve hemodynamic, hormonal, and biomechanical<br />

adaptations in pregnant woman body that, without appropriate monitoring, may contribute to emerging musculoskeletal<br />

disor<strong>de</strong>rs. The aim of this work was to search in literature most important physiological and biomechanical factors<br />

that are associated with low-back pain along with the appearance of postural and balance changes in the pregnant<br />

woman. In addition, it was revised prevention and alleviation methods of pain. In this review, bibliographical references<br />

from the Pubmed and the Scielo databases were used, and those references that fit in the proposed theme were<br />

chosen to be discussed. Hemodynamic, hormonal and biomechanical changes are factors that justify e<strong>de</strong>mas, the<br />

increasing in body weight, the ligament looseness and postural changes that are very common in pregnant women.<br />

The appearance of musculoskeletal disor<strong>de</strong>rs and balance impairment are frequent due these changes. Hence, the<br />

study of these disor<strong>de</strong>rs is relevant since they provi<strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nce of pain symptom persistence during pregnancy and<br />

postpartum. Besi<strong>de</strong>s, the un<strong>de</strong>rstanding of these disor<strong>de</strong>rs as well as analgesia methods enables the health care<br />

professional to elaborate preventive interventions or early diag<strong>no</strong>ses and treatments of symptoms.<br />

1 Especialista em Fisioterapia Traumato-Ortopédica pelo Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Ciências da Saú<strong>de</strong> – Laboratório <strong>de</strong> Bioengenharia e<br />

Biomecânica da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás (UFG) – Goiânia (GO), Brasil.<br />

2 Especialista em Saú<strong>de</strong> da Família pelo Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Ciências da Saú<strong>de</strong> – Laboratório <strong>de</strong> Bioengenharia e Biomecânica da<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás (UFG) – Goiânia (GO), Brasil.<br />

3 Mestre em Ciências da Saú<strong>de</strong> pelo Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Ciências da Saú<strong>de</strong> – Laboratório <strong>de</strong> Bioengenharia e Biomecânica da Universida<strong>de</strong><br />

Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás (UFG) – Goiânia (GO), Brasil.<br />

4 Especialista em Educação Física Escolar e Ativida<strong>de</strong> Física e Saú<strong>de</strong> pelo Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Ciências da Saú<strong>de</strong> – Laboratório <strong>de</strong><br />

Bioengenharia e Biomecânica da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás (UFG) – Goiânia (GO), Brasil.<br />

5 Doutor em Doenças Infecciosas e Parasitárias pelo Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Ciências da Saú<strong>de</strong> – Departamento <strong>de</strong> Ginecologia da UFG –<br />

Goiânia (GO), Brasil.<br />

6 Doutor em Engenharia Elétrica pelo Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Ciências da Saú<strong>de</strong> e pelo Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Engenharia Elétrica<br />

e da Computação – Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação Física – Laboratório <strong>de</strong> Bioengenharia e Biomecânica da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás (UFG) – Goiânia<br />

(GO), Brasil.<br />

En<strong>de</strong>reço para correspondência: Luciana Sobral Moreira – Rua 59-A, 735 – ap. 201 – Setor Aeroporto – CEP: 74070-160 – Goiânia (GO), Brasil<br />

– E-mail: lusobral.fisio@gmail.com


242<br />

Moreira LS, Andra<strong>de</strong> SRS, Soares V, Avelar IS, Amaral WN, Vieira MF<br />

Introdução<br />

No período gestacional, a mulher passa por transformações<br />

morfológicas, fisiológicas, sociais e emocionais. Portanto, este se<br />

caracteriza como um período importante em sua vida e que requer<br />

cuidados especiais para preservar sua saú<strong>de</strong> e seu bem-estar.<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento dos três trimestres da gestação é caracterizado<br />

por alterações hemodinâmicas, hormonais e biomecânicas<br />

do corpo 1 (B), que justificam, por exemplo, a presença <strong>de</strong><br />

e<strong>de</strong>mas, do aumento do peso corporal, da frouxidão ligamentar<br />

e das alterações <strong>posturais</strong> comuns nas grávidas. Em <strong>de</strong>corrência<br />

<strong>de</strong>ssas alterações, é comum o aparecimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns musculoesqueléticas<br />

e o comprometimento do <strong>equilíbrio</strong> estático e<br />

dinâmico, capazes <strong>de</strong> refletir na postura 1,2 (A, B).<br />

Na gravi<strong>de</strong>z, a coluna é um dos segmentos do corpo que mais<br />

sofre adaptações biomecânicas <strong>de</strong>vido à perturbação das suas curvas<br />

fisiológicas, que são acentuadas pelo aumento dos seios, do útero<br />

gravídico, do ganho <strong>de</strong> peso, do acúmulo <strong>de</strong> líquido e aumento da<br />

circunferência abdominal, da maior inclinação anterior da pelve e<br />

ainda por apresentar maior instabilida<strong>de</strong> articular causada pela frouxidão<br />

ligamentar, <strong>de</strong>corrente do aumento da produção do hormônio<br />

relaxina, que ocorre na gravi<strong>de</strong>z 2,3 (A). Por meio da soma <strong>de</strong>sses<br />

fatores, uma das consequências mais comuns é a <strong>dor</strong> <strong>lombar</strong>.<br />

O objetivo <strong>de</strong>ste estudo foi buscar na literatura os principais<br />

fatores fisiológicos e biomecânicos que estão associados ao<br />

surgimento <strong>de</strong> alterações <strong>posturais</strong>, <strong>de</strong> <strong>equilíbrio</strong> postural e <strong>de</strong><br />

<strong>dor</strong> <strong>lombar</strong> em grávidas – os quais po<strong>de</strong>m comprometer os aspectos<br />

relacionados à sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida – e revisar métodos<br />

<strong>de</strong> prevenção e <strong>de</strong> alívio da <strong>dor</strong>.<br />

Metodologia<br />

Este estudo trata-se <strong>de</strong> uma revisão da literatura, exploratória e<br />

retrospectiva, com busca das referências bibliográficas, dos últimos<br />

quinze a<strong>no</strong>s, na base <strong>de</strong> dados Pubmed e Scielo, com as seguintes<br />

palavras-chave: gravi<strong>de</strong>z, postura, <strong>equilíbrio</strong> postural, <strong>dor</strong> <strong>lombar</strong> e<br />

seus termos correspon<strong>de</strong>ntes na língua inglesa. A busca foi realizada<br />

durante os meses <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2010 a fevereiro <strong>de</strong> 2011, e foram<br />

encontrados 53 artigos e outros obtidos por meio <strong>de</strong> “referência<br />

cruzada”, porém, foram utilizadas neste artigo apenas 23 referências,<br />

as quais contemplavam melhor o tema proposto.<br />

Discussão<br />

<strong>Alterações</strong> fisiológicas e <strong>posturais</strong> comuns na gravi<strong>de</strong>z<br />

Durante o período gestacional, a mulher apresenta alterações<br />

hormonais, hemodinâmicas e biomecânicas do corpo 1 (B).<br />

FEMINA | Maio 2011 | vol 39 | nº 5<br />

A retenção <strong>de</strong> líquido, que, segundo Ritchie 4 (A), é comum em<br />

80% das grávidas, e mais <strong>no</strong>tável nas últimas oito semanas da<br />

gravi<strong>de</strong>z, provém das alterações hemodinâmicas e hormonais,<br />

como o aumento do volume plasmático e dos hormônios prolactina,<br />

progesterona e, em especial, do estrogênio e da aldosterona,<br />

que provocam maior reabsorção <strong>de</strong> sódio, retenção hídrica e<br />

predispõem o aparecimento <strong>de</strong> e<strong>de</strong>mas nas extremida<strong>de</strong>s do<br />

corpo, principalmente em membros inferiores. Além dos e<strong>de</strong>mas,<br />

outro fenôme<strong>no</strong> fisiológico frequentemente observado é a<br />

frouxidão ligamentar, que é exacerbada pelo aumento dos níveis<br />

dos hormônios estrogênio e relaxina, os quais contribuem para a<br />

instabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> algumas articulações, principalmente da pelve,<br />

as sacroilíacas e a sínfise púbica, e da região <strong>lombar</strong> 1-7 (A, B).<br />

As alterações biomecânicas da postura na gravi<strong>de</strong>z são respostas<br />

adaptativas à soma <strong>de</strong> vários fatores inerentes a esse período, como<br />

o aumento dos seios, do útero gravídico, do ganho <strong>de</strong> peso e da<br />

instabilida<strong>de</strong> articular 2,3 (A). Essas adaptações são caracterizadas<br />

pela perturbação das curvas fisiológicas da coluna, pela maior<br />

inclinação anterior da pelve e rotação externa dos membros<br />

inferiores, que permitem maior base <strong>de</strong> sustentação 8 (B), e como<br />

foi observado <strong>no</strong> estudo <strong>de</strong> Ribas e Guirro 1 (B), pela alteração da<br />

distribuição do peso na região plantar dos pés, <strong>de</strong>vido ao aumento<br />

da oscilação anteroposterior do corpo. Sendo assim, por meio<br />

<strong>de</strong> ajustes <strong>posturais</strong>, é comum a grávida provocar a elevação da<br />

cabeça, intensificar a hiperextensão da coluna cervical e <strong>lombar</strong><br />

e aumentar a extensão <strong>de</strong> joelhos e tor<strong>no</strong>zelos, para conseguir<br />

manter o <strong>equilíbrio</strong> postural.<br />

Equilíbrio postural<br />

A soma das alterações hormonais, biomecânicas e o ganho<br />

<strong>de</strong> peso corporal, juntamente com a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> distribuição<br />

<strong>de</strong>sse peso, é um importante fator para a <strong>de</strong>terminação da estabilida<strong>de</strong><br />

postural da grávida 1 (B).<br />

A estabilometria é uma ferramenta <strong>de</strong> estudo do controle<br />

postural que permite, por meio <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>zas biomecânicas, como<br />

o centro <strong>de</strong> massa (CoM) e o centro <strong>de</strong> pressão (CoP), registrar<br />

as oscilações do corpo huma<strong>no</strong> 9 (A). O CoM representa um<br />

ponto sobre o qual toda a massa <strong>de</strong> um objeto está igualmente<br />

distribuída, e a partir <strong>de</strong>ste, o estudo da sua trajetória permite<br />

mensurar o balanço postural, que é a oscilação natural que o<br />

corpo apresenta quando está na postura ortostática. O CoP é a<br />

projeção do CoM na base <strong>de</strong> sustentação e resulta da interação<br />

das forças <strong>de</strong> reação do solo (FRS) com o apoio do corpo com o<br />

chão 1,9-11 (A, B).<br />

Estudos mostram a presença <strong>de</strong> perturbações do <strong>equilíbrio</strong><br />

postural da grávida, haja vista o <strong>de</strong>slocamento natural do CoM,<br />

pelo aumento do peso corporal, da circunferência abdominal 1 (B) e


pela distribuição assimétrica do peso. No entanto, elas <strong>de</strong>senvolvem<br />

estratégias para a manutenção da postura ortostática 11 (B).<br />

No estudo <strong>de</strong> Oliveira et al. 11 (B), não houve mudança significativa<br />

na base <strong>de</strong> suporte das grávidas entre o primeiro e o<br />

terceiro trimestre, mas <strong>de</strong>monstram alteração do <strong>de</strong>slocamento<br />

anteroposterior do CoP, na posição ortostática, durante o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

do período gestacional, assim como foi observado<br />

por Jang et al. 12 (B), o aumento da instabilida<strong>de</strong> postural na<br />

direção anteroposterior quando comparado ao grupo controle<br />

(não grávidas) com as grávidas do estudo. Já Dumas et al. 13 (B),<br />

em seu estudo com 65 grávidas, observaram o aumento da base<br />

<strong>de</strong> suporte <strong>no</strong> final da gravi<strong>de</strong>z. Butler et al. 14 (B) avaliaram<br />

as oscilações do CoP por meio <strong>de</strong> uma plataforma <strong>de</strong> força e<br />

verificaram uma diminuição do <strong>equilíbrio</strong> postural das grávidas<br />

<strong>no</strong> segundo e terceiro trimestres, quando comparado ao<br />

grupo controle (não grávidas). Além disso, observaram que<br />

os estímulos visuais são importantes para a manutenção do<br />

balanço postural durante a gravi<strong>de</strong>z, visto que, durante os<br />

testes com os olhos fechados, as gestantes apresentavam maiores<br />

oscilações, porém, não conseguiram correlacionar a alteração<br />

do balanço postural ao ganho <strong>de</strong> peso durante a gravi<strong>de</strong>z. As<br />

divergências entre os resultados <strong>de</strong> alguns estudos po<strong>de</strong>m ser<br />

justificadas pela individualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação <strong>de</strong> cada grávida<br />

às mudanças ocorridas na gravi<strong>de</strong>z e por suas características<br />

<strong>posturais</strong> prévias 1 (B).<br />

Dor <strong>lombar</strong><br />

Dentre as <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns musculoesqueléticas comuns na gravi<strong>de</strong>z,<br />

a mais reportada na literatura é a <strong>dor</strong> nas costas, com ênfase nas<br />

<strong>dor</strong>es <strong>lombar</strong>es e pélvicas, pois, em média, 50% da população <strong>de</strong><br />

grávidas apresentam esses sintomas 15,16 (B). As <strong>dor</strong>es nas costas<br />

relatadas por essa população se caracterizam por <strong>dor</strong>es <strong>lombar</strong>es e<br />

na região das articulações sacroilíacas, que po<strong>de</strong>m ter irradiação<br />

do sintoma para face posterior das coxas e serem intensificadas<br />

durante a marcha 17 (B). Estudos evi<strong>de</strong>nciam que não são apenas<br />

as alterações <strong>posturais</strong> que causam esses sintomas, mas sim um<br />

conjunto <strong>de</strong> mudanças comuns <strong>no</strong> organismo da grávida, como:<br />

a instabilida<strong>de</strong> articular, o ganho <strong>de</strong> peso, principalmente na<br />

região abdominal e o aumento do estresse mecânico sobre os<br />

músculos da coluna e do quadril 3,5,17 (A, B), e outros fatores como<br />

ida<strong>de</strong> materna avançada, sucessivos partos, presença <strong>de</strong> <strong>dor</strong> na<br />

coluna previamente à gravi<strong>de</strong>z, obstrução <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s vasos e<br />

história <strong>de</strong> espondilolistese, também po<strong>de</strong>m contribuir para o<br />

aparecimento do quadro álgico 3 (A). O aumento da fatigabilida<strong>de</strong><br />

dos músculos da coluna é um dos fatores em <strong>de</strong>staque na<br />

literatura atual, pois po<strong>de</strong> estar associado ao aparecimento do<br />

quadro álgico 17,18 (B). Durante a gravi<strong>de</strong>z, é comum o aumento<br />

<strong>Alterações</strong> <strong>posturais</strong>, <strong>de</strong> <strong>equilíbrio</strong> e <strong>dor</strong> <strong>lombar</strong> <strong>no</strong> período gestacional<br />

gradual da sobrecarga sobre os músculos flexores e extensores da<br />

coluna e dos extensores do quadril 17 (B), e as adaptações <strong>de</strong>sses<br />

músculos po<strong>de</strong>m ser insuficientes para a estabilização das articulações<br />

sacroilíacas e da coluna <strong>lombar</strong> durante o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong>ste período 18 (B).<br />

No estudo <strong>de</strong> Sihvonen et al. 15 (B), com 32 gestantes, foi<br />

observada uma correlação positiva significativa entre intensida<strong>de</strong><br />

da <strong>dor</strong> <strong>lombar</strong> e nível <strong>de</strong> ativação dos músculos paraespinhais<br />

da coluna <strong>lombar</strong> <strong>no</strong> primeiro trimestre gestacional. Gutke et<br />

al. 17 (B) também observaram que os músculos flexores e extensores<br />

da coluna das grávidas com <strong>dor</strong> pélvica ou <strong>dor</strong> pélvica associada<br />

à <strong>dor</strong> <strong>lombar</strong> apresentavam me<strong>no</strong>r resistência à fadiga quando<br />

comparados às mulheres sem quadro <strong>de</strong> <strong>dor</strong>. Entretanto, Dumas<br />

et al. 18 (B) não comprovaram que o aumento da fatigabilida<strong>de</strong><br />

dos principais músculos extensores da coluna possa ser um<br />

fator preditivo para o surgimento <strong>de</strong> <strong>dor</strong>es nas costas durante a<br />

gravi<strong>de</strong>z, muito embora tenham observado que a <strong>dor</strong> modifica<br />

a sinergia e os padrões <strong>de</strong> coativação <strong>de</strong>sses músculos.<br />

Métodos <strong>de</strong> prevenção e alívio da <strong>dor</strong> <strong>lombar</strong><br />

Existem métodos que contribuem para o alívio da <strong>dor</strong> <strong>lombar</strong><br />

sem o uso <strong>de</strong> fármacos durante a gravi<strong>de</strong>z, envolvendo <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

hábitos <strong>de</strong> vida saudável, como a prática <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> física, até<br />

o tratamento fisioterapêutico, a fim <strong>de</strong> ajudar na manutenção da<br />

postura da coluna vertebral e promover adaptações biomecânicas<br />

mais eficientes ao longo da gravi<strong>de</strong>z 19 (B).<br />

Segundo alguns estudos, a ativida<strong>de</strong> física contribui para o<br />

alívio da <strong>dor</strong> <strong>lombar</strong>, pois exercícios mo<strong>de</strong>rados e executados<br />

regularmente po<strong>de</strong>m auxiliar <strong>no</strong> restabelecimento da consciência<br />

corporal, na adaptação à <strong>no</strong>va postura e melhorar a resistência<br />

e a flexibilida<strong>de</strong> muscular, reduzindo assim a sobrecarga sobre<br />

os músculos <strong>lombar</strong>es a qual é gerada pela hiperlordose <strong>lombar</strong><br />

comum na gravi<strong>de</strong>z 7,20,21 (A,B). A ativida<strong>de</strong> física durante a gravi<strong>de</strong>z<br />

diminui o risco <strong>de</strong> lesões e melhora a habilida<strong>de</strong> motora<br />

durante o próprio exercício e nas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> trabalho<br />

diários. Garshasbi e Za<strong>de</strong>h 7 (B), em seu estudo, observaram<br />

que um programa <strong>de</strong> exercícios que envolve caminhada leve,<br />

alongamentos e exercícios específicos para a grávida contribuiu<br />

para uma diminuição significativa da intensida<strong>de</strong> da <strong>dor</strong> <strong>lombar</strong><br />

quando comparado com o grupo controle, composto por grávidas<br />

que não executaram os exercícios físicos. No estudo <strong>de</strong> Martins<br />

e Silva 21 (B), também foi observado que grávidas submetidas a<br />

exercícios utilizando um método <strong>de</strong> alongamento (Stretching<br />

Global Ativo) apresentaram diminuição ou até mesmo ausência<br />

dos <strong>de</strong>sconfortos <strong>lombar</strong>es.<br />

Os efeitos dos exercícios aeróbicos leves que ajudam <strong>no</strong><br />

controle do ganho <strong>de</strong> peso, assim como exercícios aquáticos que<br />

FEMINA | Maio 2011 | vol 39 | nº 5 243


244<br />

Moreira LS, Andra<strong>de</strong> SRS, Soares V, Avelar IS, Amaral WN, Vieira MF<br />

diminuem o impacto sobre as articulações, além <strong>de</strong> causar um<br />

efeito <strong>de</strong> relaxamento pelas proprieda<strong>de</strong>s da água, também têm<br />

sido estudados durante a gravi<strong>de</strong>z. Granath et al. 22 (B) observaram<br />

que as grávidas submetidas a um programa <strong>de</strong> exercícios<br />

aquáticos apresentaram melhora significativa da <strong>dor</strong> <strong>lombar</strong>.<br />

Outros estudos também têm observado a influência positiva <strong>de</strong><br />

modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> exercícios como Pilates e Yoga, que propiciam<br />

o re<strong>equilíbrio</strong> muscular, a melhora da consciência corporal, da<br />

respiração e da sensação <strong>de</strong> bem-estar 20, 23 (A).<br />

Além da ativida<strong>de</strong> física, a acupuntura e a fisioterapia clássica,<br />

que são modalida<strong>de</strong>s efetivas <strong>de</strong> tratamento, também atuam na<br />

prevenção e <strong>no</strong> alívio dos sintomas álgicos <strong>lombar</strong>es e pélvicos.<br />

A acupuntura usa da inserção <strong>de</strong> agulhas na pele para o estímulo<br />

da liberação <strong>de</strong> substâncias analgésicas e anti-inflamatórias,<br />

produzidas pelo próprio organismo, propiciando o alívio da<br />

<strong>dor</strong>. Na fisioterapia, as condutas terapêuticas abordam tanto o<br />

trabalho preventivo com a grávida, como a preparação para o<br />

Leituras suplementares<br />

1. Ribas SI, Guirro ECO. Análise da pressão plantar e do <strong>equilíbrio</strong> postural em<br />

diferentes fases da gestação. Rev Bras Fisioter. 2007;11(5):391-6.<br />

2. Borg-Stein J, Dugan SA, Gruber J. Musculoskeletal aspects of pregnancy. Am J<br />

Phys Med Rehabil. 2005;84(3):180-92.<br />

3. Borg-Stein J, Dugan SA. Musculoskeletal disor<strong>de</strong>rs of pregnancy, <strong>de</strong>livery and<br />

postpartum. Phys Med Rehabil Clin N Am. 2007;18(3):459-76, ix.<br />

4. Ritchie JR. Orthopedic consi<strong>de</strong>rations during pregnancy. Clin Obstet Gynecol.<br />

2003;46(2):456-66.<br />

5. Franklin ME, Conner-Kerr T. An analysis of posture and back pain in the first and<br />

third trimesters of pregnancy. J Orthop Sports Phys Ther. 1998;28(3):133-8.<br />

6. Smith MW, Marcus PS, Wurtz LD. Orthopedic issues in pregnancy. Obstet Gynecol<br />

Surv. 2008;63(2):103-11.<br />

7. Garshasbi A, Faghih Za<strong>de</strong>h S. The effect of exercise on the intensity of low back<br />

pain in pregnant women. Int J Gynecol Obstet. 2005;88(3):271-5.<br />

8. Gil VFB. O efeito da Reeducação Postural Global <strong>no</strong> tratamento da lombalgia<br />

durante a gestação [Dissertação]. Campinas: Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Campinas;<br />

2009.<br />

9. Mochizuki L, Amadio AC. Aspectos biomecânicos da postura ereta: a relação entre<br />

o centro <strong>de</strong> massa e o centro <strong>de</strong> pressão. Rev Port Cien Desp. 2003;3(3):77-83.<br />

10. E<strong>no</strong>ka RM. Neuromechanics of human movement. 4 ed. Champaign: Human<br />

Kinetics. 2008.<br />

11. Oliveira LF, Vieira TM, Macedo AR, Simpson DM, Nadal J. Postural sway changes<br />

during pregnancy: a <strong>de</strong>scriptive study using stabilometry. Eur J Obstet Gynecol<br />

Reprod Biol. 2009;147(1):25-8.<br />

12. Jang J, Hsiao KT, Hsiao-Wecksler ET. Balance (perceived and actual) and<br />

preferred stance width during pregnancy. Clin Biomech (Bristol, Avon).<br />

2008;23(4):468-76.<br />

FEMINA | Maio 2011 | vol 39 | nº 5<br />

parto e o pós-parto, quanto tratamentos com a cinesioterapia,<br />

hidroterapia, reeducação postural, terapias manuais e recursos<br />

analgésicos para o controle das <strong>dor</strong>es referidas <strong>no</strong>s segmentos<br />

<strong>lombar</strong>es e pélvicos 19 (B).<br />

Consi<strong>de</strong>rações finais<br />

As mudanças morfológicas e fisiológicas do corpo da mulher<br />

são importantes e necessárias para o ple<strong>no</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da<br />

gravi<strong>de</strong>z. No entanto, po<strong>de</strong>m comprometer aspectos da qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida.<br />

Portanto, as <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns musculoesqueléticas são um forte<br />

indicativo <strong>de</strong> persistência <strong>de</strong> sintomas álgicos durante a gravi<strong>de</strong>z<br />

e <strong>no</strong> pós-parto. O conhecimento <strong>de</strong>ssas <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns permite ao<br />

profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> a elaboração <strong>de</strong> intervenções preventivas<br />

ou o diagnóstico e o tratamento precoce dos sintomas, o que<br />

contribui para diminuir os riscos à saú<strong>de</strong> da gestante.<br />

13. Dumas GA, Reid JG, Wolfe LA, Griffin MP, McGrath MJ. Exercise, posture, and<br />

back pain during pregnancy. Part 1: exercise and posture. Clin Biomech (Bristol,<br />

Avon). 1995;10(2):98-103.<br />

14. Butler EE, Colon I, Druzin ML, Rose J. Postural equilibrium during pregnancy:<br />

<strong>de</strong>creased stability with an increased reliance on visual cues. Am J Obstet Gynecol.<br />

2006;195(4):1104-8.<br />

15. Sihvonen T, Huttunen M, Makkonen M, Airaksinen O. Functional changes in<br />

back muscle activity correlate with pain intensity and prediction of low back<br />

pain during pregnancy. Arch Phys Med Rehabil. 1998;79(10):1210-2.<br />

16. Dumas GA, Reid JG, Wolfe LA, Griffin MP, McGrath MJ. Exercise, posture, and<br />

back pain during pregnancy. Part 2: exercise and back pain. Clin Biomech (Bristol,<br />

Avon). 1995;10(2):104-9.<br />

17. Gutke A, Ostgaard HC, Oberg B. Association between muscle function and low<br />

back pain in relation to pregnancy. J Rehabil Med. 2008;40(4):304-11.<br />

18. Dumas GA, Leger A, Plamondon A, Charpentier KM, Pinti A, McGrath M.<br />

Fatigability of back extensor muscles and low back pain during pregnancy. Clin<br />

Biomech (Bristol, Avon). 2010;25(1):1-5.<br />

19. De Conti MHS, Cal<strong>de</strong>ron IMP, Consonni EB, Preve<strong>de</strong>l TTS, Dalbem I, Rudge MVC.<br />

Efeito <strong>de</strong> técnicas fisioterápicas sobre os <strong>de</strong>sconfortos músculo-esqueléticos da<br />

gestação. Rev Bras Ginecol Obstet. 2003;25(9):647-54.<br />

20. Mann L, Kleinpaul JF, Teixeira CS, Ko<strong>no</strong>pka CK. Dor lombo-pélvica e exercício<br />

físico durante a gestação. Fisioter Mov. 2008;21(2):99-105.<br />

21. Martins RF, Silva JLP. Tratamento da lombalgia e <strong>dor</strong> pélvica posterior na gestação<br />

por um método <strong>de</strong> exercícios. Rev Bras Ginecol Obstet. 2005;27(5):275-82.<br />

22. Granath AB, Hellgren MSE, Gunnarsson RK. Water aerobics reduces sick leave<br />

due to low back pain during pregnancy. JOGNN. 2006;35(4):465-71.<br />

23. Balogh A. Pilates and pregnancy. Midwives. 2005;8(5):220-2.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!