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Instabilidade atlanto-axial na síndrome de Down - SPR

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<strong>Instabilida<strong>de</strong></strong> <strong>atlanto</strong>-<strong>axial</strong> <strong>na</strong> <strong>síndrome</strong> <strong>de</strong> <strong>Down</strong>: o que o radiologista precisa conhecer? / Boëchat MCB et al.<br />

Artigo <strong>de</strong> Revisão<br />

<strong>Instabilida<strong>de</strong></strong> <strong>atlanto</strong>-<strong>axial</strong> <strong>na</strong> <strong>síndrome</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>Down</strong>: o que o radiologista precisa<br />

conhecer?<br />

Márcia Cristi<strong>na</strong> Bastos Boëchat 1 , Katia Silveira da Silva 2 , Juan Clinton Llere<strong>na</strong> Junior 3<br />

Descritores:<br />

Síndrome <strong>de</strong> <strong>Down</strong>; Colu<strong>na</strong> cervical; Radiografia;<br />

<strong>Instabilida<strong>de</strong></strong> <strong>atlanto</strong>-<strong>axial</strong>.<br />

Recebido para publicação em 15/6/2005. Aceito,<br />

após revisão, em 8/3/2006.<br />

Trabalho realizado no Serviço <strong>de</strong> Radiologia e no<br />

Departamento <strong>de</strong> Genética Médica do Instituto<br />

Fer<strong>na</strong>n<strong>de</strong>s Figueira – Fundação Oswaldo Cruz (IFF-<br />

Fiocruz), Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ.<br />

1<br />

Serviço <strong>de</strong> Radiologia do IFF-Fiocruz.<br />

2 Núcleo <strong>de</strong> Epi<strong>de</strong>miologia do IFF-Fiocruz.<br />

3 Departamento <strong>de</strong> Genética Médica do IFF-Fiocruz.<br />

Correspondência: Dra. Márcia Cristi<strong>na</strong> Bastos Boëchat.<br />

Instituto Fer<strong>na</strong>n<strong>de</strong>s Figueira – Fundação Oswaldo<br />

Cruz. Avenida Rui Barbosa, 716, Flamengo.<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ, 22250-020. E-mail: boechatm<br />

@iff.fiocruz.br<br />

Resumo<br />

Este trabalho teve como principais motivações o gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> pacientes com <strong>síndrome</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Down</strong> acompanhados no Departamento <strong>de</strong> Genética Médica do Instituto Fer<strong>na</strong>n<strong>de</strong>s Figueira e um<br />

certo <strong>de</strong>sconhecimento por parte dos radiologistas gerais e <strong>de</strong>mais profissio<strong>na</strong>is <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que<br />

prestam assistência a esses pacientes sobre esta alteração da colu<strong>na</strong> cervical, que tem prevalência<br />

<strong>de</strong> 10% a 30% e po<strong>de</strong> ter evolução <strong>de</strong>sfavorável com paraplegia ou tetraplegia em 1% a 2% dos<br />

casos. Os autores apresentam uma revisão bibliográfica sobre a instabilida<strong>de</strong> <strong>atlanto</strong>-<strong>axial</strong> em<br />

pacientes com <strong>síndrome</strong> <strong>de</strong> <strong>Down</strong>, <strong>de</strong>screvem as principais características <strong>de</strong>ssa <strong>síndrome</strong> e <strong>de</strong><br />

sua associação com essa anormalida<strong>de</strong> da colu<strong>na</strong> cervical, apresentam as particularida<strong>de</strong>s a<strong>na</strong>tômicas<br />

das primeiras vértebras cervicais da criança, <strong>de</strong>screvem a técnica do exame e os principais<br />

pontos para uma correta interpretação dos achados radiográficos, e apoiados <strong>na</strong> literatura, sugerem<br />

algumas diretrizes para o acompanhamento <strong>de</strong>sses pacientes quer tenham exames radiográficos<br />

normais ou tenham instabilida<strong>de</strong> <strong>atlanto</strong>-<strong>axial</strong>.<br />

A instabilida<strong>de</strong> <strong>atlanto</strong>-<strong>axial</strong> (IAA) representa uma maior mobilida<strong>de</strong> da primeira<br />

sobre a segunda vértebra cervical, po<strong>de</strong>ndo ocorrer em diferentes situações clínicas,<br />

<strong>de</strong>ntre as quais a <strong>síndrome</strong> <strong>de</strong> <strong>Down</strong> (SD). A associação entre esta <strong>síndrome</strong> e<br />

a IAA foi primeiramente <strong>de</strong>scrita em 1961 por Spitzer [1–5] , e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, publicações<br />

indicam uma prevalência <strong>de</strong> 10% a 30% <strong>de</strong> IAA nos indivíduos com SD [6–10] .<br />

Na maioria dos casos a IAA ocorre <strong>de</strong> forma assintomática [11–13] . Ape<strong>na</strong>s 1% a<br />

2% dos pacientes irá apresentar si<strong>na</strong>is e sintomas <strong>de</strong> comprometimento neurológico<br />

secundário à compressão medular, tais como fadiga fácil, dificulda<strong>de</strong> em <strong>de</strong>ambular,<br />

alterações da marcha, dor cervical, diminuição da mobilida<strong>de</strong> cervical, torcicolo,<br />

déficits sensoriais, espasticida<strong>de</strong> e hiper-reflexia, entre outros. Os pacientes que<br />

apresentam compressão medular po<strong>de</strong>m evoluir com hemiplegia, paraplegia ou<br />

tetraplegia [11–14] , sendo esta a razão para o cuidado que se <strong>de</strong>ve ter com ativida<strong>de</strong>s<br />

físicas que coloquem em risco a região cervical.<br />

O projeto <strong>de</strong> pesquisa que <strong>de</strong>u origem a este trabalho foi apresentado ao Comitê<br />

<strong>de</strong> Ética em Pesquisa envolvendo seres humanos, do Instituto Fer<strong>na</strong>n<strong>de</strong>s Figueira<br />

– Fundação Oswaldo Cruz (IFF-Fiocruz), com o número 0026.0.008.000-<br />

03, tendo sido aprovado em 15/9/2003 (Parecer CEP-IFF nº 027/03).<br />

CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE A SÍNDROME DE DOWN<br />

A SD tem como causa a trissomia do cromossomo 21 [15] . Nos EUA tem prevalência<br />

média <strong>de</strong> 1,5:1.000 <strong>na</strong>scidos vivos [9] , com discreto predomínio no sexo masculino<br />

(1,15M:1,0F). No Brasil a prevalência é <strong>de</strong> 1:600 <strong>na</strong>scimentos e 30% dos casos<br />

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Boëchat MCB et al. / <strong>Instabilida<strong>de</strong></strong> <strong>atlanto</strong>-<strong>axial</strong> <strong>na</strong> <strong>síndrome</strong> <strong>de</strong> <strong>Down</strong>: o que o radiologista precisa conhecer?<br />

ocorrem em mães com mais <strong>de</strong> 35 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> [16,17] .<br />

Estudos epi<strong>de</strong>miológicos recentes <strong>na</strong> América do Sul,<br />

realizados pelo grupo Estudo Colaborativo Latino Americano<br />

<strong>de</strong> Malformações Congênitas (ECLAMC), apontaram<br />

para uma mortalida<strong>de</strong> infantil <strong>na</strong> SD <strong>de</strong> 26%,<br />

tanto em estabelecimento hospitalar público como no<br />

privado [18] . Outros estudos [19,20] epi<strong>de</strong>miológicos têm<br />

<strong>de</strong>monstrado aumento <strong>na</strong> expectativa <strong>de</strong> vida nessa <strong>síndrome</strong>,<br />

passando <strong>de</strong> 25 anos em 1983 para 49 anos em<br />

1997. O controle das infecções, o diagnóstico precoce e<br />

o tratamento das cardiopatias congênitas, freqüentes<br />

nesses pacientes, parecem ser os fatores que mais contribuíram<br />

para este aumento <strong>na</strong> expectativa <strong>de</strong> vida [10] .<br />

Logo após o <strong>na</strong>scimento, a SD po<strong>de</strong> ser suspeitada<br />

clinicamente [10] . Anomalias congênitas cardíacas, gastrintesti<strong>na</strong>is<br />

e urinárias, bem como alterações músculoesqueléticas,<br />

endócri<strong>na</strong>s, hematológicas, oftalmológicas,<br />

auditivas e imunológicas po<strong>de</strong>m estar associadas [10] . As<br />

cardiopatias congênitas estão presentes em 40% a 60%<br />

das crianças com esta <strong>síndrome</strong> e representam a principal<br />

causa mortis nos dois primeiros anos <strong>de</strong> vida [16,20] .<br />

As anomalias do sistema gastrintesti<strong>na</strong>l ocorrem em 14%<br />

dos casos [10,21] . Nos últimos anos, o amplo uso da ultrasonografia<br />

abdomi<strong>na</strong>l tem <strong>de</strong>monstrado prevalência<br />

maior <strong>de</strong> litíase biliar e lama biliar nesses pacientes [22,23] .<br />

Dentre as alterações músculo-esqueléticas <strong>de</strong>stacam-se<br />

a frouxidão ligamentar, as diversas alterações<br />

ósseas (alargamento da asa do ilíaco, displasia acetabular,<br />

encurtamento dos <strong>de</strong>dos, clinodactilia, presença <strong>de</strong><br />

11 pares <strong>de</strong> costelas) e as alterações morfológicas da<br />

colu<strong>na</strong> cervical, principalmente a hipoplasia do arco<br />

posterior do atlas, a displasia e a hipoplasia do odontói<strong>de</strong>.<br />

As alterações ósseas da colu<strong>na</strong> cervical e a frouxidão<br />

dos ligamentos <strong>de</strong>sta região nos interessam particularmente,<br />

por estarem relacio<strong>na</strong>das com a IAA [10] .<br />

A INSTABILIDADE ATLANTO-AXIAL<br />

E A SÍNDROME DE DOWN<br />

A IAA é <strong>de</strong>finida como uma maior mobilida<strong>de</strong> da<br />

primeira vértebra cervical, o atlas, sobre a segunda, o<br />

áxis. Diferentes termos têm sido empregados para <strong>de</strong>finir<br />

a perda da estabilida<strong>de</strong> da articulação <strong>atlanto</strong>-<strong>axial</strong>,<br />

por exemplo, subluxação; entretanto, a tendência atual<br />

é a utilização <strong>de</strong> instabilida<strong>de</strong> [24] .<br />

A primeira publicação sobre a associação entre a SD<br />

e a IAA foi feita em 1961 por Spitzer [1–5] . Em março <strong>de</strong><br />

1983, pouco antes dos jogos paraolímpicos, o Comitê<br />

Paraolímpico Americano <strong>de</strong>finiu medidas preventivas<br />

para atletas com SD, visando a evitar o comprometimento<br />

neurológico secundário à exposição da região<br />

172<br />

crânio-cervical durante a prática <strong>de</strong> <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>dos esportes<br />

e passou a exigir que todo atleta com SD, antes<br />

<strong>de</strong> participar <strong>de</strong>sses jogos, fosse exami<strong>na</strong>do clinicamente<br />

e submetido a um estudo radiográfico da colu<strong>na</strong> cervical<br />

em perfil para avaliação da distância atlas-odontói<strong>de</strong><br />

(DAO). Qualquer alteração neurológica ou radiográfica<br />

impediria o atleta <strong>de</strong> participar <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s esportivas<br />

como ginástica, mergulho, pentatlo, futebol, alguns<br />

estilos <strong>de</strong> <strong>na</strong>tação, e outros que colocassem em risco a<br />

região cervical [14] .<br />

Em 1984, a Aca<strong>de</strong>mia America<strong>na</strong> <strong>de</strong> Pediatria [14]<br />

revisou as recomendações propostas por aquele Comitê<br />

para a realização <strong>de</strong>sse “screening” clínico-radiológico<br />

e sua interpretação e, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, muitos estudos têm<br />

sido publicados <strong>na</strong> tentativa <strong>de</strong> se estabelecer um protocolo<br />

<strong>de</strong> investigação e acompanhamento <strong>de</strong>ssa alteração<br />

ósteo-articular. Entretanto, persistem algumas dúvidas<br />

sobre a real necessida<strong>de</strong> da avaliação clínico-radiológica<br />

e sobre a evolução da forma assintomática da IAA<br />

para a forma sintomática diante da prática <strong>de</strong> <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>dos<br />

esportes. Em 2001, o Comitê <strong>de</strong> Genética da<br />

Aca<strong>de</strong>mia America<strong>na</strong> <strong>de</strong> Pediatria [25] apresentou diversas<br />

recomendações para o acompanhamento das crianças<br />

com SD, <strong>de</strong>ntre as quais o estudo radiográfico da<br />

colu<strong>na</strong> cervical em torno dos três a cinco anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong><br />

para pesquisa da IAA, ressaltando que a real necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sse “screening” continua sendo questio<strong>na</strong>da.<br />

CARACTERÍSTICAS ANATÔMICAS<br />

DA ARTICULAÇÃO ATLANTO-AXIAL<br />

A região crânio-vertebral é formada pela base do<br />

crânio e pelas duas primeiras vértebras cervicais, o atlas<br />

e o áxis, constituindo as articulações <strong>atlanto</strong>-occipital e<br />

<strong>atlanto</strong>-<strong>axial</strong>. Estas vértebras cervicais diferem entre si<br />

e das <strong>de</strong>mais quanto à sua a<strong>na</strong>tomia e ao seu processo<br />

<strong>de</strong> ossificação, pois apresentam núcleos <strong>de</strong> ossificação<br />

primitivos <strong>de</strong> origem cartilaginosa. O atlas (C1) é formado<br />

por um arco anterior e um arco posterior e não<br />

tem corpo; o áxis (C2) apresenta um arco posterior e um<br />

pequeno corpo com uma projeção óssea localizada superiormente,<br />

conhecida como processo odontói<strong>de</strong> (Figs.<br />

1 e 2). O arco anterior do atlas e os arcos posteriores do<br />

atlas e do áxis apresentam porções cartilaginosas; o<br />

odontói<strong>de</strong> é formado a partir <strong>de</strong> dois núcleos <strong>de</strong> ossificação<br />

primitivos que formarão a sua base e <strong>de</strong> um terceiro<br />

núcleo <strong>de</strong> ossificação que irá formar a sua extremida<strong>de</strong><br />

superior [26–28] .<br />

A estabilida<strong>de</strong> da articulação <strong>atlanto</strong>-<strong>axial</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />

da integrida<strong>de</strong> dos elementos ósseos da colu<strong>na</strong> cervical,<br />

principalmente do odontói<strong>de</strong>, e da integrida<strong>de</strong> do liga-<br />

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<strong>Instabilida<strong>de</strong></strong> <strong>atlanto</strong>-<strong>axial</strong> <strong>na</strong> <strong>síndrome</strong> <strong>de</strong> <strong>Down</strong>: o que o radiologista precisa conhecer? / Boëchat MCB et al.<br />

Fig. 1 – Aspectos a<strong>na</strong>tômicos tridimensio<strong>na</strong>is do atlas e do áxis.<br />

(www.spineuniverse.com/displyarticle.ph/)<br />

Fig. 2 – Características a<strong>na</strong>tômicas do atlas e do áxis. (www.wcape.<br />

school.za/subject/biology/skeleton)<br />

mento transverso do atlas e dos ligamentos alares, responsáveis,<br />

respectivamente, por manter o odontói<strong>de</strong><br />

fixo em relação ao áxis in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das mudanças <strong>de</strong><br />

posição crânio-cervicais e por fixar o odontói<strong>de</strong> ao anel<br />

<strong>de</strong> C1 e ao forame magno [9,29] . Alterações do odontói<strong>de</strong><br />

e do ligamento transverso po<strong>de</strong>m comprometer o equi-<br />

líbrio da articulação <strong>atlanto</strong>-<strong>axial</strong>, levando ao <strong>de</strong>slocamento<br />

anterior do atlas sobre o áxis e ao <strong>de</strong>slocamento<br />

posterior do odontói<strong>de</strong> que, conseqüentemente, ocasio<strong>na</strong>m<br />

diminuição do calibre do ca<strong>na</strong>l medular, <strong>de</strong>ixando<br />

a medula propensa à compressão [14] . A perda da estabilida<strong>de</strong><br />

cervical po<strong>de</strong> ser secundária ao trauma e aos<br />

processos infecciosos <strong>na</strong>sofaríngeos e cervicais, mas também<br />

po<strong>de</strong> ser vista em doenças que cursam com hipermobilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ssa região, como SD, artrite reumatói<strong>de</strong>,<br />

acondroplasia, displasia campomélica, displasia espôndilo<br />

epifisária, <strong>síndrome</strong> <strong>de</strong> Grisel, <strong>síndrome</strong> <strong>de</strong> Klippel-<br />

Feil, <strong>síndrome</strong> <strong>de</strong> Marfan e mucopolissacaridoses, entre<br />

outras condições menos freqüentes [30] . Segundo Cremers<br />

e cols. [31] , existiria <strong>na</strong> SD uma alteração estrutural<br />

genética do colágeno que, modificando a estrutura<br />

dos ligamentos, seria a responsável pela frouxidão ligamentar<br />

observada nos pacientes com essa <strong>síndrome</strong>,<br />

ocasio<strong>na</strong>ndo diferentes tipos <strong>de</strong> instabilida<strong>de</strong> articular,<br />

entre elas a IAA, a instabilida<strong>de</strong> <strong>atlanto</strong>-occipital e a<br />

luxação coxofemoral. Além da alteração ligamentar que<br />

propicia a IAA, existem <strong>na</strong> SD alterações morfológicas<br />

da colu<strong>na</strong> cervical, tais como persistência <strong>de</strong> sincondroses,<br />

espinha bífida, hipoplasia do arco posterior do áxis,<br />

hipoplasia do odontói<strong>de</strong>, ossiculum termi<strong>na</strong>le e os odontoi<strong>de</strong>um,<br />

sendo que as quatro últimas contribuem para<br />

a maior instabilida<strong>de</strong> da região cervical [6–10] .<br />

Para a manutenção da estabilida<strong>de</strong> da articulação<br />

crânio-vertebral contribuem os elementos ósseos, entre<br />

eles a forma em taça das articulações <strong>atlanto</strong>-occipitais,<br />

as estruturas ligamentares como a membra<strong>na</strong> tectorial,<br />

as membra<strong>na</strong>s <strong>atlanto</strong>-occipitais anterior e posterior, os<br />

ligamentos capsulares, o ligamento longitudi<strong>na</strong>l posterior,<br />

os ligamentos alares e apicais e o ligamento suspensório<br />

do atlas [5,32] , conforme <strong>de</strong>monstrado <strong>na</strong> Fig. 3.<br />

Em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas características a<strong>na</strong>tômicas próprias<br />

e do processo <strong>de</strong> maturação óssea peculiar das duas<br />

primeiras vértebras cervicais, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da ida<strong>de</strong> em<br />

que seja realizada a radiografia ou a tomografia computadorizada<br />

(TC) da colu<strong>na</strong> cervical, essas estruturas<br />

po<strong>de</strong>m não estar completamente ossificadas. Portanto,<br />

se faz necessário conhecer os aspectos característicos do<br />

atlas e do áxis <strong>na</strong>s diferentes fases <strong>de</strong> ossificação, para<br />

que achados normais para a ida<strong>de</strong> não sejam interpretados<br />

como patológicos, levando a resultados falso-positivos<br />

ou falso-negativos. O odontói<strong>de</strong>, por exemplo,<br />

po<strong>de</strong> não estar totalmente ossificado em torno dos nove<br />

anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, sem que isso seja patológico [33] . Radiografias<br />

realizadas em ida<strong>de</strong> precoce, bem como qualquer<br />

processo que provoque retardo <strong>na</strong> maturação óssea, tal<br />

qual o hipotireoidismo e a SD propriamente dita, po<strong>de</strong>m<br />

induzir ao diagnóstico errôneo <strong>de</strong> hipoplasia <strong>de</strong><br />

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Boëchat MCB et al. / <strong>Instabilida<strong>de</strong></strong> <strong>atlanto</strong>-<strong>axial</strong> <strong>na</strong> <strong>síndrome</strong> <strong>de</strong> <strong>Down</strong>: o que o radiologista precisa conhecer?<br />

odontói<strong>de</strong>, hipoplasia do arco posterior do atlas e ausência<br />

do arco anterior do atlas [6,26,28] .<br />

Além da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serem conhecidas as características<br />

particulares da articulação <strong>atlanto</strong>-<strong>axial</strong>, é preciso<br />

<strong>de</strong>finir termos comumente empregados quando são<br />

a<strong>na</strong>lisadas as radiografias <strong>de</strong> colu<strong>na</strong> cervical para diagnóstico<br />

<strong>de</strong> IAA, <strong>de</strong>ntre eles: hipoplasia do odontói<strong>de</strong>,<br />

hipoplasia do arco posterior do atlas e os odontoi<strong>de</strong>um,<br />

que são as alterações ósseas mais comumente encontradas<br />

[6–9] . Por <strong>de</strong>finição, a hipoplasia do processo odontói<strong>de</strong><br />

ocorre quando a ponta do odontói<strong>de</strong> está ape<strong>na</strong>s<br />

tocando a superfície superior do corpo do atlas ou é<br />

inferior a esta [6] . Já a hipoplasia do arco posterior do<br />

atlas existe quando a apófise espinhosa do atlas é menor<br />

do que as <strong>de</strong>mais, po<strong>de</strong>ndo contribuir para a diminuição<br />

do diâmetro do ca<strong>na</strong>l cervical nessa região e favorecer<br />

a compressão medular [32] . O os odontoi<strong>de</strong>um é<br />

uma anomalia incomum, em que a porção mais distal<br />

do processo odontói<strong>de</strong> é separada do corpo do odontói<strong>de</strong>,<br />

entretanto, precisa ser conhecida, pois a sua pre-<br />

174<br />

Fig. 3 – Ligamentos responsáveis<br />

pela estabilida<strong>de</strong> da<br />

articulação crânio-vertebral.<br />

(www.emedicine.com/sports/<br />

topic24.htm)<br />

sença contribui para a diminuição da estabilida<strong>de</strong> da<br />

articulação <strong>atlanto</strong>-<strong>axial</strong> [9] .<br />

ROTINA RADIOGRÁFICA PARA O DIAGNÓSTICO<br />

DA INSTABILIDADE ATLANTO-AXIAL<br />

A radiografia da colu<strong>na</strong> cervical em perfil tem sido<br />

o método <strong>de</strong> escolha para estudo da articulação <strong>atlanto</strong><strong>axial</strong><br />

nos indivíduos com SD [9,13,14,33–35] . O método proposto<br />

em 1983 pelo Comitê Paraolímpico Americano e<br />

ratificado no ano seguinte pela Aca<strong>de</strong>mia America<strong>na</strong> <strong>de</strong><br />

Pediatria consiste em realizar radiografias da colu<strong>na</strong><br />

cervical em perfil em três diferentes posições: neutro,<br />

flexão e extensão (Fig. 4). O “screening” radiográfico<br />

<strong>de</strong>ve ser realizado em pacientes com ida<strong>de</strong>s variando <strong>de</strong><br />

três a cinco anos [14,25] .<br />

Nas três incidências <strong>de</strong>verá ser medida a DAO,<br />

<strong>de</strong>finida como a distância existente entre a face posterior<br />

do arco anterior do atlas e a face anterior do processo<br />

odontói<strong>de</strong> do áxis (Fig. 5). Esta medida <strong>de</strong>verá ser<br />

Fig. 4 – Roti<strong>na</strong> radiográfica<br />

proposta pelo Comitê Paraolímpico<br />

Americano. (Serviço<br />

<strong>de</strong> Radiologia do IFF-Fiocruz).<br />

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Fig. 5 – Medida da DAO. AA,<br />

arco anterior <strong>de</strong> C1; AP, arco<br />

posterior <strong>de</strong> C1; 1, DAO; 2,<br />

odontói<strong>de</strong>. (Serviço <strong>de</strong> Radiologia<br />

do IFF-Fiocruz e www.<br />

pedrad.org).<br />

<strong>Instabilida<strong>de</strong></strong> <strong>atlanto</strong>-<strong>axial</strong> <strong>na</strong> <strong>síndrome</strong> <strong>de</strong> <strong>Down</strong>: o que o radiologista precisa conhecer? / Boëchat MCB et al.<br />

feita a partir <strong>de</strong> uma linha perpendicular traçada da<br />

extremida<strong>de</strong> inferior do arco anterior <strong>de</strong> C1 até a face<br />

anterior do odontói<strong>de</strong>, evitando <strong>de</strong>sta forma medida<br />

maior do que a normal por não estar se consi<strong>de</strong>rando a<br />

porção cartilaginosa do odontói<strong>de</strong> que é radiotransparente<br />

(Fig. 6). Para alguns autores o valor normal da<br />

DAO em crianças é menor do que 5 mm [13] , enquanto<br />

outros [31,36,37] <strong>de</strong>finem como normal a DAO menor do<br />

que 4 mm. O Comitê Paraolímpico Americano e a Aca<strong>de</strong>mia<br />

America<strong>na</strong> <strong>de</strong> Pediatria [14,38] , assim como Brockmeyer<br />

[9] e Msall e cols. [34] , consi<strong>de</strong>ram a DAO normal<br />

quando menor do que 4,5 mm. Para todos os autores,<br />

valores acima <strong>de</strong>sses consi<strong>de</strong>rados normais representam,<br />

por <strong>de</strong>finição, um quadro <strong>de</strong> IAA.<br />

Fig. 6 – Medida da DAO. A, local i<strong>na</strong><strong>de</strong>quado, e B, local correto para<br />

a medida da DAO. (Serviço <strong>de</strong> Radiologia do IFF-Fiocruz).<br />

No IFF-Fiocruz emprega-se a roti<strong>na</strong> proposta pelo<br />

Comitê Paraolímpico Americano e a Socieda<strong>de</strong> America<strong>na</strong><br />

<strong>de</strong> Pediatria, conforme <strong>de</strong>monstrado <strong>na</strong> Fig. 4. As<br />

radiografias são realizadas em posição ortostática, com<br />

distância foco–filme <strong>de</strong> 1,5 m e, em sua gran<strong>de</strong> maioria,<br />

sem sedação dos pacientes. Nas crianças mais agitadas<br />

tenta-se contenção pelos acompanhantes e a utilização<br />

<strong>de</strong> artifícios como brinquedos, e não havendo<br />

sucesso após essas tentativas, faz-se sedação com hidrato<br />

<strong>de</strong> cloral a 14% por via oral, com dose <strong>de</strong> 0,5 ml/kg <strong>de</strong><br />

peso, não exce<strong>de</strong>ndo a dose total <strong>de</strong> 20 ml, e nesses casos<br />

as radiografias são realizadas em <strong>de</strong>cúbito dorsal com<br />

raios horizontais. Os exames radiográficos são realizados<br />

em todos os pacientes com três anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e a<br />

DAO é consi<strong>de</strong>rada normal quando menor ou igual a 4<br />

mm. Se o primeiro exame radiográfico é normal e o<br />

paciente é assintomático, não há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> repetição<br />

do exame ou <strong>de</strong> complementação com outros métodos<br />

<strong>de</strong> imagem. Quando é feito o diagnóstico <strong>de</strong> IAA,<br />

o paciente passa a ser acompanhado por neurologista<br />

e neurocirurgião, com orientações para evitar ativida<strong>de</strong>s<br />

físicas que coloquem em risco a região cervical. Nos<br />

casos <strong>de</strong> IAA com sintomas neurológicos os pacientes são<br />

encaminhados para complementação com TC helicoidal<br />

para melhor avaliação do ca<strong>na</strong>l medular, da medula<br />

e das características morfológicas do atlas e do áxis, com<br />

particular interesse aos aspectos do odontói<strong>de</strong> (Figs. 7<br />

e 8), po<strong>de</strong>ndo este exame po<strong>de</strong> ser substituído pela<br />

ressonância magnética (RM). Em nosso Serviço as TC<br />

são realizadas em equipamento helicoidal, por meio <strong>de</strong><br />

aquisições volumétricas, com imagens axiais com 3 mm<br />

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Boëchat MCB et al. / <strong>Instabilida<strong>de</strong></strong> <strong>atlanto</strong>-<strong>axial</strong> <strong>na</strong> <strong>síndrome</strong> <strong>de</strong> <strong>Down</strong>: o que o radiologista precisa conhecer?<br />

Fig. 7 – Aspecto do os odontoi<strong>de</strong>um <strong>na</strong> radiografia (A) e <strong>na</strong> tomografia computadorizada (B,C). (1, os odontoi<strong>de</strong>um; 2, arco anterior do atlas; 3,<br />

arco posterior do atlas; 4, odontói<strong>de</strong>; 5, DAO; 6, corpo do áxis). (Serviço <strong>de</strong> Radiologia do IFF-Fiocruz).<br />

Fig. 8 – IAA em paciente do sexo masculino, 14 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, com distúrbio da marcha e diminuição da força, evoluindo com paraplegia. (A)<br />

Radiografia com DAO <strong>de</strong> 12 mm e os odontoi<strong>de</strong>um. (B) Corte tomográfico <strong>axial</strong> mostrando redução importante do diâmetro do ca<strong>na</strong>l medular<br />

e compressão medular. (C) Imagem em 3D evi<strong>de</strong>nciando <strong>de</strong>slocamento anterior do atlas (C1) sobre o áxis(C2). (1, arco anterior <strong>de</strong> C1; 2, odontói<strong>de</strong>;<br />

3, arco posterior <strong>de</strong> C1; 4, os odontoi<strong>de</strong>um; 5, DAO; 6, compressão medular). (Serviço <strong>de</strong> Radiologia do IFF-Fiocruz).<br />

Fig. 9 – IAA diagnosticada no primeiro exame radiográfico em uma meni<strong>na</strong> <strong>de</strong> quatro anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. DAO = 2mm em posição neutra e em<br />

extensão; DAO = 6 mm em flexão. (Serviço <strong>de</strong> Radiologia do IFF-Fiocruz).<br />

<strong>de</strong> espessura e <strong>de</strong> intervalo e reconstruções sagitais,<br />

coro<strong>na</strong>is e tridimensio<strong>na</strong>is (3D) e, tal como ocorre <strong>na</strong>s<br />

radiografias, a maior parte dos exames é realizada sem<br />

sedação. Havendo necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sedação, esta será<br />

realizada com hidrato <strong>de</strong> cloral, <strong>de</strong> forma semelhante à<br />

<strong>de</strong>scrita <strong>na</strong> técnica dos exames radiográficos.<br />

176<br />

Convém ressaltar que as radiografias da colu<strong>na</strong> cervical<br />

em perfil permitem não só a medida da DAO e o<br />

diagnóstico da IAA (Fig. 9), como também a <strong>de</strong>monstração<br />

das alterações estruturais do atlas e do áxis e das<br />

características a<strong>na</strong>tômicas que lhe são peculiares, por<br />

exemplo, a hipoplasia do odontói<strong>de</strong> e do arco posterior<br />

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<strong>Instabilida<strong>de</strong></strong> <strong>atlanto</strong>-<strong>axial</strong> <strong>na</strong> <strong>síndrome</strong> <strong>de</strong> <strong>Down</strong>: o que o radiologista precisa conhecer? / Boëchat MCB et al.<br />

<strong>de</strong> C1 (Fig. 10) e a não ossificação ou a ossificação incompleta<br />

do arco anterior do atlas (Fig. 11).<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Na literatura especializada são muitos os questio<strong>na</strong>mentos<br />

em relação à IAA. Ainda não existe consenso<br />

sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> submeter todas as crianças ao<br />

“screening” radiográfico para IAA, sobre a ida<strong>de</strong> em que<br />

<strong>de</strong>ve ser feita a primeira radiografia e sobre o acompanhamento<br />

<strong>de</strong>sses pacientes, quer apresentem IAA ou<br />

não [3,5,12,34,39] . Entretanto, mesmo não havendo consenso,<br />

po<strong>de</strong>-se observar que, em estudos mais recentes,<br />

a Aca<strong>de</strong>mia America<strong>na</strong> <strong>de</strong> Pediatria [25,38] , Pueschel [13] e<br />

Boëchat [40] concordam sobre a importância <strong>de</strong> se <strong>de</strong>tectar<br />

precocemente a IAA nos pacientes com SD por<br />

meio do exame radiográfico da colu<strong>na</strong> cervical em perfil<br />

e <strong>de</strong> se avaliar a evolução da IAA assintomática para<br />

a forma sintomática, apoiados, sobretudo, <strong>na</strong> avaliação<br />

neurológica.<br />

Contudo, é importante salientar que o primeiro<br />

“screening” radiográfico não <strong>de</strong>ve ser realizado muito<br />

Fig. 10 – (A) Hipoplasia do arco posterior do atlas. (B) Hipoplasia do<br />

odontói<strong>de</strong>. (1, arco anterior; 2, odontói<strong>de</strong>; 3, arco posterior). (Serviço<br />

<strong>de</strong> Radiologia do IFF-Fiocruz).<br />

A B C<br />

precocemente, por causa das características da ossificação<br />

do atlas e do áxis, que po<strong>de</strong>m provocar erro <strong>de</strong> interpretação<br />

da DAO e do aspecto do odontói<strong>de</strong>, levando,<br />

em alguns casos, à repetição <strong>de</strong>ste exame e, conseqüentemente,<br />

à exposição do paciente aos raios-X. Este fato<br />

<strong>de</strong>ve ser evitado em razão <strong>de</strong> as crianças serem mais<br />

sensíveis aos efeitos da radiação ionizante, que tem caráter<br />

cumulativo e po<strong>de</strong> levar à indução <strong>de</strong> danos genéticos<br />

e câncer, principalmente leucemia [41–43] , particularmente<br />

em crianças com SD, que têm maior freqüência<br />

<strong>de</strong> leucemia quando comparados com a população<br />

geral [42–45] . Portanto, qualquer medida que vise a reduzir<br />

a exposição <strong>de</strong> pacientes pediátricos à radiação ionizante<br />

<strong>de</strong>verá ser empregada. Também <strong>de</strong>ve ser levada<br />

em consi<strong>de</strong>ração a presença <strong>de</strong> condições clínicas que,<br />

por si só, retardam a maturação óssea, como o hipotireoidismo,<br />

que po<strong>de</strong> estar presente nos pacientes com<br />

SD e ser outro fator que contribua para uma avaliação<br />

i<strong>na</strong><strong>de</strong>quada da colu<strong>na</strong> cervical e da DAO [4,26,28,33] .<br />

Quanto ao seguimento das crianças com SD, não há<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> outros exames radiográficos quando a<br />

primeira investigação é normal. Caso o paciente com<br />

exame radiográfico normal apresente sintomas sugestivos<br />

<strong>de</strong> compressão medular, está indicada a complementação<br />

com TC ou RM. Estes exames também estão<br />

indicados em pacientes com diagnóstico radiológico <strong>de</strong><br />

IAA e sintomas neurológicos sugestivos <strong>de</strong> compressão<br />

medular e nos casos <strong>de</strong> IAA assintomática com gran<strong>de</strong><br />

variabilida<strong>de</strong> <strong>na</strong>s medidas da DAO <strong>na</strong>s três incidências<br />

radiográficas. Pacientes com IAA assintomática no primeiro<br />

exame radiográfico <strong>de</strong>verão ser acompanhados<br />

através <strong>de</strong> exames neurológicos freqüentes, com a fi<strong>na</strong>lida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciar precocemente si<strong>na</strong>is <strong>de</strong> compressão<br />

medular. As ativida<strong>de</strong>s físicas não <strong>de</strong>vem ser proibidas<br />

totalmente, <strong>de</strong>vem ser evitados ape<strong>na</strong>s os exercícios<br />

físicos que coloquem em risco a região cervical.<br />

Fig. 11 – Diferentes fases <strong>de</strong> ossificação do arco anterior <strong>de</strong> C1. (A) Paciente com dois anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>: arco anterior ainda não ossificado. (B)<br />

Paciente com três anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>: arco anterior com ossificação tênue. (C) Paciente com quatro anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>: arco anterior normalmente<br />

ossificado.(Serviço <strong>de</strong> Radiologia do IFF-Fiocruz).<br />

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Boëchat MCB et al. / <strong>Instabilida<strong>de</strong></strong> <strong>atlanto</strong>-<strong>axial</strong> <strong>na</strong> <strong>síndrome</strong> <strong>de</strong> <strong>Down</strong>: o que o radiologista precisa conhecer?<br />

É importante para o médico radiologista conhecer<br />

a roti<strong>na</strong> radiológica que <strong>de</strong>ve ser empregada nos pacientes<br />

com SD, visando ao diagnóstico da IAA, saber como<br />

<strong>de</strong>ve ser mensurada a DAO, conhecer os valores consi<strong>de</strong>rados<br />

normais para a DAO e as peculiarida<strong>de</strong>s das<br />

primeiras vértebras cervicais no paciente pediátrico, e<br />

saber quando estão indicados outros métodos <strong>de</strong> imagem<br />

como complementação, evitando, assim, interpretações<br />

errôneas dos achados radiográficos e exposições<br />

<strong>de</strong>snecessárias do paciente à radiação ionizante.<br />

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Abstract. Atlanto-<strong>axial</strong> instability in <strong>Down</strong> syndrome: what the radiologist<br />

should know?<br />

The main motivations for this study about <strong>atlanto</strong><strong>axial</strong> instability<br />

in <strong>Down</strong> syndrome are the great number of individuals with this<br />

syndrome attending in the Medical Genetics Department at the<br />

Instituto Fer<strong>na</strong>n<strong>de</strong>s Figueira, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Brazil, and certain<br />

unfamiliarity on the part of the radiologists and the others professio<strong>na</strong>ls<br />

that gives assistance to these patients. A prevalence of<br />

10–30% has been <strong>de</strong>scribed amongst individuals with <strong>Down</strong> syndrome<br />

and 1–2% of persons can have spi<strong>na</strong>l cord injury and adverse<br />

evolution to paraplegia or tetraplegia. The authors <strong>de</strong>scribe<br />

the main characteristics of this syndrome and its association with<br />

this cervical spine abnormality; they present the atlas and axis<br />

a<strong>na</strong>tomical particularities in children; <strong>de</strong>scribe the technique of the<br />

exami<strong>na</strong>tion and the main references for a correct interpretation<br />

of the radiographic findings; and supported in the literature, they<br />

suggest some follow up recommendations for patients that have<br />

normal radiographic exami<strong>na</strong>tion or have <strong>atlanto</strong><strong>axial</strong> instability.<br />

Keywords: <strong>Down</strong> syndrome; Cervical spine; X-ray; Atlanto<strong>axial</strong> instability.<br />

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