17.04.2013 Views

Sociologia da adultez livro.pdf - Memoriamedia

Sociologia da adultez livro.pdf - Memoriamedia

Sociologia da adultez livro.pdf - Memoriamedia

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

1.4.1. A <strong>Sociologia</strong> <strong>da</strong> Infância<br />

O QUE É “SER ADULTO”? – PRÁTICAS E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS<br />

A concepção <strong>da</strong> infância como produto de um contexto social e de um discurso<br />

intelectual particular surge com o trabalho desenvolvido por Ariès sobre a criança e a<br />

vi<strong>da</strong> familiar no Antigo Regime (1973). Enquadra<strong>da</strong> num âmbito mais geral <strong>da</strong> análise<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> priva<strong>da</strong>, a tese deste autor sobre o surgimento do “sentimento <strong>da</strong> infância” no<br />

final do século XVIII ain<strong>da</strong> hoje é retoma<strong>da</strong> e objecto de acessos debates.<br />

Ariès (1973) defende que o conceito de infância foi historicamente construído na<br />

moderni<strong>da</strong>de, antes dessa época a criança era vista como um ser sem características ou<br />

necessi<strong>da</strong>des próprias. Referindo-se à origem etimológica <strong>da</strong> palavra infância, Ariès<br />

defende que o que exclui a criança do mundo social é a negativi<strong>da</strong>de que está associa<strong>da</strong><br />

a esta fase <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>: os in-fans, são os que “não têm palavra”, os que “não falam”, os que<br />

se situam num período de crescimento, de dependência e transição. Num ponto de vista<br />

físico e moral não existem, são seres sem razão que se encontram em “devir”, em vias<br />

de formação.<br />

A criança era assim a projecção do adulto em miniatura. Representa<strong>da</strong> como<br />

homúnculo, a criança vestia-se como um adulto, participava nas festas, reuniões e<br />

<strong>da</strong>nças. Junto <strong>da</strong>s crianças os adultos não se inibiam, falavam de vulgari<strong>da</strong>des,<br />

realizavam brincadeiras grosseiras e jogos sexuais. Não se concebia a inocência pueril<br />

<strong>da</strong> infância. A criança era vista como “ser produtivo” que, a partir dos sete anos, estava<br />

inseri<strong>da</strong> na vi<strong>da</strong> adulta, realizava tarefas, imitava e acompanhava os pais nos seus<br />

ofícios. A criança desempenhava um papel na colectivi<strong>da</strong>de e na economia familiar e,<br />

numa perspectiva utilitária, era submeti<strong>da</strong> a uma organização social onde a relação com<br />

os mais velhos era muito próxima. A passagem <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> infantil para a vi<strong>da</strong> adulta era<br />

algo a superar, enquanto ela não se desse a criança tinha um estatuto pré-social (Ariès,<br />

1973).<br />

Para Ariès (1973) a mu<strong>da</strong>nça em relação aos cui<strong>da</strong>dos com a criança ocorre quando<br />

os poderes públicos e a Igreja deixam de aceitar passivamente o infanticídio. Surge uma<br />

nova perspectiva sobre a manutenção <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> infantil e as mulheres, amas e parteiras,<br />

73

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!