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Sociologia da adultez livro.pdf - Memoriamedia

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O QUE É “SER ADULTO”? – PRÁTICAS E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS<br />

No sistema anteriormente descrito, os indivíduos não investiam a longo prazo nem<br />

manifestavam interesses de promoção individual, perante um destino incerto que podia<br />

acabar no dia seguinte, o objectivo era salvaguar<strong>da</strong>r o património familiar. Neste<br />

regime, ca<strong>da</strong> i<strong>da</strong>de tinha os seus privilégios e interdições. O projecto de ca<strong>da</strong> geração<br />

era o de repetir a geração precedente, o tempo social era tido como circular e imóvel.<br />

Para além de alguns imprevistos como as guerras, as fomes ou as epidemias, o quadro<br />

temporal seguia o calendário anual, o ritmo <strong>da</strong>s festas e dos trabalhos sazonais (Roussel<br />

& Girard, 1982).<br />

Num momento posterior (durante o século XIX), a que Roussel e Girard (1982)<br />

chamam de “tempo gerido”, registam-se mu<strong>da</strong>nças no quadro <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de e <strong>da</strong><br />

fecundi<strong>da</strong>de: por um lado, a morte é prorroga<strong>da</strong> para a velhice, por outro lado, inicia-se<br />

o controlo <strong>da</strong> fecundi<strong>da</strong>de e fixa-se o número de filhos a ter. Com o aumento <strong>da</strong><br />

esperança de vi<strong>da</strong> o ser humano tem diante de si uma “existência completa” – uma<br />

infância, uma juventude, uma maturi<strong>da</strong>de e uma velhice. A um “tempo imóvel” e fixo<br />

sucede-se um “tempo apropriado” no qual se gerem aspirações e estratégias individuais.<br />

O indivíduo tem um novo tempo social e pode investir não só para proveito <strong>da</strong> sua<br />

linhagem mas também para o seu próprio benefício. O recuo <strong>da</strong> morte permite ao<br />

homem projectar uma carreira ao longo de várias etapas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, projectar o futuro dos<br />

seus filhos e, entre outras coisas, percepcionar o prolongamento do período de instrução<br />

como um investimento rentável (Roussel, 1983).<br />

Sobretudo a partir <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> metade do século XX, Roussel e Girard (1982)<br />

concluem, em relação a um terceiro momento de mu<strong>da</strong>nça, que a percepção do tempo<br />

social volta a alterar-se: a duração <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> torna a aumentar, confirma-se a atitude de<br />

gestão racional do capital-tempo, desvaloriza-se tanto o passado como o futuro e exalta-<br />

se a gratificação do presente. Este novo momento, definido pelos autores como a<br />

“recusa do tempo”, está imerso no desenvolvimento <strong>da</strong>s novas tecnologias e em novos<br />

valores educacionais. Os modos de vi<strong>da</strong> evoluem ao ritmo <strong>da</strong>s novas invenções<br />

tecnológicas. Deixa de haver rupturas radicais entre as i<strong>da</strong>des <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e a juventude é<br />

percepciona<strong>da</strong> como uma i<strong>da</strong>de de referência (Girard, 1983).<br />

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