Sociologia da adultez livro.pdf - Memoriamedia

2.3.3.2. A qualificação escolar de adultos
O QUE É “SER ADULTO”? – PRÁTICAS E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
O facto da formação beneficiar principalmente os trabalhadores mais qualificados
suscita dois tipos de debate: (a) o que questiona o carácter redistributivo dos sistemas de
formação e (b) o que discute a utilidade do aumento das qualificações. A controvérsia
surge na medida em que aparentemente aqueles que mais precisam não estão a usufruir
de um bem essencial (o aumento das qualificações) e os que usufruem desse bem não
alcançam o retorno esperado em termos de empregabilidade e progressão na carreira.
Sobre o primeiro ponto, actualmente, em Portugal, a discussão desenvolve-se em
torno da “Iniciativa Novas Oportunidades” 63 cujo objectivo é, até 2010, formar cerca de
650 mil jovens em cursos técnicos e profissionais e qualificar um milhão de activos (dos
quais 350 mil através de cursos de formação e 650 mil através do reconhecimento,
validação e certificação de competências).
Tanto as ofertas formativas para os adultos como o processo de reconhecimento de
competências da “Iniciativa Novas Oportunidades” não dão resposta a necessidades
técnicas altamente especializadas, nem se direccionam a quadros ou chefias
qualificadas. A acção é direccionada ao adulto que tem, em média:
1) entre 40 e 45 anos e possui, usualmente, o 6º ano de escolaridade. Por
dificuldades financeiras da família de origem este adulto começou a trabalhar
cedo (em média aos 16 anos). É operário, trabalhador não qualificado ou
técnico no sector dos serviços, comércio, indústria ou agricultura, passou por
algumas situações de trabalho esporádico e teve, em média, dois empregos
mais estáveis. Actualmente está no activo e recorre à “Iniciativa Novas
Oportunidades” para obter a certificação do 3º ciclo do ensino básico;
2) o adulto com perfil idêntico ao anterior, mas que possui a escolaridade
obrigatória (9º ano) e pretende obter a certificação do secundário.
63 De referir que a autora exerce desde 2003, a função de avaliadora externa nos processos de
Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC) da Iniciativa Novas Oportunidades.
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