17.04.2013 Views

Sociologia da adultez livro.pdf - Memoriamedia

Sociologia da adultez livro.pdf - Memoriamedia

Sociologia da adultez livro.pdf - Memoriamedia

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O QUE É “SER ADULTO”? – PRÁTICAS E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS<br />

Embora existam estes e outros modelos de perfeição, na literatura impera, no<br />

entanto, uma representação negativa e pejorativa <strong>da</strong> <strong>adultez</strong>. “Ser adulto”, para além de<br />

definir um estatuto, implica usualmente obrigações sociais que limitam a vontade e<br />

liber<strong>da</strong>de individual. Pressupõe-se que, de algum modo, o adulto é pressionado para<br />

situações que não se adequam às suas ambições e por isso adopta posturas sérias e<br />

formais, muitas vezes entendi<strong>da</strong>s como aborreci<strong>da</strong>s, monótonas e rotineiras.<br />

Tuininga (1996) compila cem testemunhos que recolheu entre a elite cultural e<br />

política francesa durante o ano de 1995 na revista La Vie. To<strong>da</strong>s as semanas os<br />

entrevistados respondiam à questão “O que é ser adulto?”. Considerando as respostas, a<br />

fase <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> adulta aparece frequentemente associa<strong>da</strong> à “pior i<strong>da</strong>de do percurso<br />

humano”, sendo que várias foram as personali<strong>da</strong>des que se consideraram “adultos de<br />

modo intermitente” e várias as que não queriam, de forma alguma, ser “adultas”.<br />

Nesses testemunhos, um psiquiatra refere num registo de humor que «o adulto, no<br />

bom sentido do termo, é o adulto no mau sentido do termo» (Tuininga, 1996, p.16);<br />

outro entrevistado considera que o adulto será o «homem notável, bom esposo, bom<br />

ci<strong>da</strong>dão, bom pai e bom chefe de família que um dia morre de enfarte ou de úlcera<br />

porque não se sentia bem na sua própria pele» (p.13).<br />

Na obra de Tuininga (1996), o “medo de ser adulto” aparece expresso na vontade de<br />

colocar a fase <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> adulta num impasse desejando-se passar directamente <strong>da</strong><br />

juventude para a velhice. A ideia de uma juventude prolonga<strong>da</strong> desembocar numa<br />

velhice pacífica parece agra<strong>da</strong>r e, neste caso, o “medo de ser adulto” provoca uma “fuga<br />

para a frente”. A par do retar<strong>da</strong>r a entra<strong>da</strong> na i<strong>da</strong>de adulta existe a vontade de uma saí<strong>da</strong><br />

ca<strong>da</strong> vez mais precoce <strong>da</strong> <strong>adultez</strong> (Boutinet, 2000; Tuininga, 1996). Esta atitude revela a<br />

dificul<strong>da</strong>de que existe em li<strong>da</strong>r com os problemas <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de adulta e uma nostalgia em<br />

relação ao passado e a uma época onde os tempos de vi<strong>da</strong> eram mais curtos.<br />

O próprio conceito de meia-i<strong>da</strong>de, que por vezes é remetido para expressões<br />

positivas como “a força <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de” ou a “ternura dos quarenta”, é predominantemente<br />

vinculado à ideia de crise. O conceito de meia-i<strong>da</strong>de, já presente na Divina Comédia de<br />

Dante (Alighieri, 1961) ou em Dr. Fausto de Goethe (1958), surge associado a um<br />

período de vi<strong>da</strong> de instabili<strong>da</strong>de, de tentações (o “demónio <strong>da</strong> meia-i<strong>da</strong>de”) e de<br />

133

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!