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Sociologia da adultez livro.pdf - Memoriamedia

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O QUE É “SER ADULTO”? – PRÁTICAS E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS<br />

Beck (2000) considera mesmo que se perdeu a consciência de classe: entende que a<br />

estrutura de classes não desempenha mais um papel central na moderni<strong>da</strong>de avança<strong>da</strong>,<br />

deixando de direccionar o adulto para um caminho unívoco e certo. Os trajectos de vi<strong>da</strong><br />

apresentam-se em constante mutação, sujeitos a contradições, à mobili<strong>da</strong>de geográfica,<br />

profissional e afectiva.<br />

Esta é uma perspectiva que remete para o fenómeno denominado por Giddens<br />

(2000a, 2001) como a política <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Através do domínio <strong>da</strong> esfera priva<strong>da</strong>, <strong>da</strong><br />

individualização, <strong>da</strong> construção <strong>da</strong> sua autonomia e de uma “política emancipadora”, o<br />

adulto projecta-se para o exterior em relações de extensão espácio-temporal indefini<strong>da</strong>s.<br />

A política <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> é a política <strong>da</strong>s decisões, <strong>da</strong> auto-identi<strong>da</strong>de enquanto conquista<br />

reflexiva narra<strong>da</strong> e altera<strong>da</strong> de acordo com a constante mutação <strong>da</strong>s circunstâncias<br />

sociais locais e globais. A política <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> resulta, deste modo, dos dilemas e <strong>da</strong><br />

ambivalência que deriva <strong>da</strong> construção do adulto enquanto projecto reflexivo do self.<br />

Segundo Giddens (2000a, 2001), na moderni<strong>da</strong>de avança<strong>da</strong>, a política emancipadora<br />

do indivíduo implica, contudo, a fixação de experiências quotidianas, rotinas impressas<br />

não por tradições 43 mas por sistemas abstractos.<br />

Por sistemas abstractos Giddens (2001) entende o conjunto de sistemas periciais e<br />

garantias simbólicas com que o adulto se confronta quotidianamente e nos quais confia.<br />

Estes sistemas abstractos apresentam-se como mecanismos descontextualizadores do<br />

tempo e do espaço. As garantias simbólicas são meios de troca com valor-padrão 44 e os<br />

sistemas periciais têm a ver com a utilização dos conhecimentos técnicos colocados ao<br />

dispor do adulto e nos quais este deposita total confiança 45 . Estes sistemas periciais<br />

separam o tempo e o espaço na medi<strong>da</strong> em que os conhecimentos técnicos<br />

43 Na moderni<strong>da</strong>de avança<strong>da</strong> a tradição e o ritual não desaparecem definitivamente. Por vezes até se pode<br />

enfatizar determina<strong>da</strong> tradição, transformando-a em fun<strong>da</strong>mentalismo, proclamando-a em ver<strong>da</strong>de<br />

formular inquestionável e única resposta à dúvi<strong>da</strong> ou incerteza.<br />

44 O melhor exemplo de uma garantia simbólica é o dinheiro e o modo como este tem ganho uma forma<br />

ca<strong>da</strong> vez mais abstracta, nomea<strong>da</strong>mente se se considerar o mercado financeiro electrónico e a<br />

possibili<strong>da</strong>de de se colocarem o tempo e o espaço num limbo enquanto se realizam transacções entre um<br />

elevado número de indivíduos que não estabelecem contacto físico entre si (Giddens, 2001).<br />

45 Exemplos <strong>da</strong> confiança em sistemas periciais: quando se avança num sinal verde de um semáforo;<br />

quando se tomam os medicamentos receitados pelo médico; quando se entra num elevador ou se compra<br />

comi<strong>da</strong> no supermercado (Giddens, 2001).<br />

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