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Sociologia da adultez livro.pdf - Memoriamedia

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O QUE É “SER ADULTO”? – PRÁTICAS E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS<br />

A velhice enquanto categoria social – a generalização do sistema de reformas<br />

A classificação <strong>da</strong> velhice como categoria independente, problema e construção<br />

social é relativamente recente. Lenoir (1979) e Guillemard (1984) descrevem a<br />

edificação deste processo em várias etapas. Em primeiro lugar, referem que desde a<br />

Revolução Industrial, no final do século XVIII, até meados do século XX a velhice não<br />

existia enquanto categoria social autónoma, ela era entendi<strong>da</strong> como uma forma de<br />

“invalidez” e estava associa<strong>da</strong> à solidão e à doença. Para Guillemard (1984), nessa<br />

época, a velhice era invisível, não tinha forma defini<strong>da</strong>. Fora <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de priva<strong>da</strong> do<br />

espaço doméstico, a velhice era “desprotegi<strong>da</strong>”. Os idosos sem suporte familiar, sem<br />

património nem condições para continuar a trabalhar, só recebiam algum apoio <strong>da</strong>s<br />

instituições de cari<strong>da</strong>de.<br />

Em geral, os operários a residir na ci<strong>da</strong>de, usualmente oriundos dos meios rurais,<br />

usufruíam de baixos salários e de péssimas condições de trabalho e de habitabili<strong>da</strong>de.<br />

Ao chegarem à velhice, sem apoios estruturados, estes operários viviam em condições<br />

precárias e tornavam-se, junto com os pobres e os mendigos, “excluídos sociais”. A<br />

questão <strong>da</strong> velhice era trata<strong>da</strong> no âmbito <strong>da</strong> indigência e <strong>da</strong> política <strong>da</strong> pobreza.<br />

É neste cenário que tem origem a emergência dos sistemas de reforma. As classes<br />

dominantes (principalmente burguesia industrial e financeira) confrontaram-se com o<br />

surgimento <strong>da</strong>s primeiras gerações de operários envelhecidos e, no início do século XX,<br />

surge a hipótese de alguns idosos terem apoio social. A protecção dos mais velhos<br />

evolui e, para Guillemard (1984), a reforma vai, pela primeira vez, caracterizar este<br />

grupo etário, dá-lhe identi<strong>da</strong>de e “identifica-o” enquanto categoria social.<br />

A reforma é o mecanismo social que define, através de critérios formais, a saí<strong>da</strong> do<br />

mundo activo e o momento de transição para uma nova etapa <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. A reforma é a<br />

garantia de que, no final vi<strong>da</strong> activa, o idoso usufrui de uma percentagem <strong>da</strong> sua<br />

anterior remuneração e pode viver com relativa autonomia. Os sistemas de reforma<br />

unificam a i<strong>da</strong>de de saí<strong>da</strong> do mercado de trabalho (usualmente aos 65 anos) e unificam<br />

também os estilos de vi<strong>da</strong> dos idosos reformados, entendidos agora como grupo social<br />

com particulari<strong>da</strong>des próprias (Guillemard, 1980, 1984; Fernandes, 1997; Veloso,<br />

2004).<br />

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