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Sociologia da adultez livro.pdf - Memoriamedia

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O QUE É “SER ADULTO”? – PRÁTICAS E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS<br />

Nas socie<strong>da</strong>des tradicionais a mobili<strong>da</strong>de social e geográfica era reduzi<strong>da</strong>, dominava<br />

o poder simbólico e existia um forte controlo social. A função do indivíduo dependia <strong>da</strong><br />

fase <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> em que se encontrava, sendo o seu percurso segmentado por limites<br />

precisos, assinalados através de ritos de passagem (principalmente na transição <strong>da</strong><br />

adolescência para a i<strong>da</strong>de adulta). Estes eram ritos de separação que anunciavam a<br />

ruptura com um estado anterior e sedimentavam a integração no novo grupo. Na<br />

actuali<strong>da</strong>de, os tempos de vi<strong>da</strong> passam a estruturar-se segundo limiares de experiência<br />

aberta, mais dependentes <strong>da</strong> decisão individual que de passagens socialmente<br />

ritualiza<strong>da</strong>s. Os “ritos contemporâneos” são ca<strong>da</strong> vez menos entendidos como marcos<br />

que inauguram a estabili<strong>da</strong>de ou um status social irrevogável.<br />

Valorizar os “ritos pontuais” é <strong>da</strong>r valor à experiência vivi<strong>da</strong> em detrimento <strong>da</strong><br />

obrigação de cumprir etapas socialmente calen<strong>da</strong>riza<strong>da</strong>s. É <strong>da</strong>r atenção ao modo como<br />

os jovens valorizam a “primeira vez” em que, por exemplo, puderam conduzir um carro<br />

porque conseguiram “tirar” a carta de condução; a primeira vez que tiveram<br />

responsabili<strong>da</strong>des profissionais nas férias ou num “biscate” (que lhes proporcionou<br />

dinheiro para comprar a roupa preferi<strong>da</strong>, a primeira prancha de surf ou a primeira<br />

guitarra); a primeira relação a sério ou a primeira desilusão amorosa; a primeira relação<br />

sexual (que se impõe simbolicamente na passagem <strong>da</strong> adolescência à juventude), entre<br />

outras “primeiras vezes” (Bozon, 2002a).<br />

Em conclusão, esta perspectiva leva a admitir avanços e recuos nas trajectórias dos<br />

indivíduos e, mais que garantir a consoli<strong>da</strong>ção de situações estáveis, define uma<br />

autonomia face a um ciclo de vi<strong>da</strong> dito tradicional. Neste âmbito, também o adulto (e<br />

mesmo o idoso) experiencia, ao longo do seu percurso de vi<strong>da</strong>, “primeiras vezes”:<br />

quando se divorcia; reconstitui família; relaciona com enteados(as); volta a residir com<br />

os pais; tem o primeiro filho numa i<strong>da</strong>de avança<strong>da</strong>; mu<strong>da</strong> de emprego; inicia negócio<br />

por conta própria; investe; trabalha após a i<strong>da</strong>de <strong>da</strong> reforma, entre outras “primeiras<br />

vezes”.<br />

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