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Reforma Política - Cebrap

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Fernando Henrique Cardoso e Eduardo Graeff<br />

febris que antecedem a convenção estadual ou municipal. À convenção mesmo chega, invariavelmente,<br />

uma chapa única. Excepcionalmente há disputa aberta pelas candidaturas<br />

majoritárias. Sabe-se de um caso ao menos em que a composição das chapas proporcionais<br />

foi a voto na convenção? Quem prevê que vai “sobrar” muda de partido no prazo de filiação.<br />

A maioria dos aspirantes se acomoda na “cauda” de candidatos sem chance efetiva mas que<br />

somam votos para o partido.<br />

Num sistema misto ou proporcional com lista preordenada, a disputa tende a ser muito<br />

mais dura, porque não é só para entrar na chapa, mas por uma colocação que garanta<br />

a eleição do candidato individual dentro do número de vagas que o partido vier a ganhar.<br />

Isso torna crítico o risco de manipulação, em detrimento do eleitor –<br />

Há outro risco, menos privado de escolher pessoalmente seu candidato – e dos eleitos – sujeitos<br />

óbvio mas não menos a se tornarem reféns de oligarquias partidárias. As transgressões praticadas<br />

grave: o de bancadas pelas direções de vários partidos nos escândalos recentes recomendam cau-<br />

parlamentares tela em relação a essa possibilidade. Há outro risco, menos óbvio mas não<br />

estritamente subordinadas menos grave: o de bancadas parlamentares estritamente subordinadas às<br />

às direções partidárias direções partidárias travarem, em vez de facilitarem, as negociações Execu-<br />

travarem, em vez de tivo-Legislativo. A lógica do parlamentarismo contém suas defesas contra<br />

facilitarem, as negociações esse risco – no limite, com a dissolução da Câmara e a convocação de novas<br />

Executivo-Legislativo. A eleições. O presidencialismo, não. Seu funcionamento com partidos muito<br />

lógica do parlamentarismo fragmentados e pouco coesos é difícil. Mas com partidos rígidos demais<br />

contém suas defesas pode ser impossível ou quase, como demonstram em alguma medida o<br />

contra esse risco – no Chile pré-Pinochet e a Argentina de Alfonsín e De La Rua.<br />

limite, com a dissolução O sistema distrital dá peso à ligação do representante com seu partido,<br />

da Câmara e a convocação na medida em que cada partido lança somente um candidato por distrito.<br />

de novas eleições. O Mas não tanto peso que faça do mandatário eleito um representante do<br />

presidencialismo, não<br />

partido mais que do eleitor. É o partido que lança o candidato, mas é o<br />

candidato em pessoa que recebe os votos. Isso tende a moderar a influência<br />

da direção partidária e deixa o representante exercer o mandato prestando contas ao mesmo<br />

tempo ao partido e ao eleitorado de seu distrito, que inclui normalmente outras preferências<br />

partidárias. Melhor para o eleitor, que pode escolher entre um número razoável de candidatos<br />

e saberá sempre quem é o “seu” deputado – o de seu distrito – mesmo que não tenha<br />

votado nele. Bom para a governabilidade no presidencialismo, porque se reforça a capacidade<br />

dos partidos de mediar mas não de bloquear a formação de consensos.<br />

A alternativa distrital tem outra vantagem, que nos parece decisiva no ponto em que se<br />

encontra a discussão da reforma política: a sua simplicidade. A justiça eleitoral divide cada<br />

estado em tantos distritos quantos forem os representantes do estado na Câmara dos Deputados;<br />

cada partido lança um candidato por distrito; o candidato mais votado no distrito é<br />

eleito. Qualquer deputado ou candidato pode entender isso facilmente. Mais importante,<br />

qualquer eleitor pode entender e gostar disso.<br />

<strong>Reforma</strong> política é questão de oportunidade histórica mais do que de evidência lógica<br />

ou científica. Quem entra nessa discussão querendo chegar a algum resultado, e não simplesmente<br />

demonstrar um ponto de vista, tem que estar pronto para negociar e transigir.

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