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Fernando Henrique Cardoso e Eduardo Graeff<br />
1994. A possibilidade da reeleição desde 1998 também contribuiu para fortalecer o presidente<br />
diante dos partidos e do Congresso.<br />
Apoio de uma ampla coalizão partidária, coincidência de mandatos e reeleição ajudaram<br />
a manter a estabilidade política e consolidar a estabilidade econômica através das<br />
sucessivas crises financeiras externas que marcaram os oito anos do governo FHC.<br />
Uma conjetura é inevitável: sem esses mesmos três fatores, o presidente<br />
Apoio de uma ampla Lula teria sobrevivido politicamente, como conseguiu até agora, a denúncias<br />
coalizão partidária, de corrupção tão ou mais graves do que as que levaram ao impeachment<br />
coincidência de mandatos de Collor?<br />
e reeleição ajudaram a Não se pode dizer que a acolhida do Congresso às iniciativas do Exe-<br />
manter a estabilidade cutivo piorou. Recorrendo ao mesmo indicador, de 2003 até hoje foram<br />
política e consolidar a aprovadas treze emendas constitucionais, das quais três originárias do Exe-<br />
estabilidade econômica cutivo. O ritmo das iniciativas, sim, diminuiu.<br />
através das sucessivas De fato, não foi a falta de apoio ao presidente no Congresso que trou-<br />
crises financeiras externas xe a reforma política de volta à ordem do dia. Foi a exposição dos meios<br />
que marcaram os oito ilícitos usados por colaboradores do presidente e dirigentes do seu partido<br />
anos do governo FHC<br />
para conseguir apoio e o grande número de parlamentares que se deixaram<br />
cooptar por esses meios.<br />
Aos indícios de corrupção sistêmica no governo, o presidente e seus escudeiros contrapuseram<br />
a tese da corrupção endêmica das instituições. Fazendo da crítica às mazelas<br />
tradicionais do sistema eleitoral e partidário brasileiro a confirmação “sociológica” do senso<br />
comum de que na penumbra da política todos os gatos são pardos, conseguiram descolar o<br />
presidente dos escândalos. Ao preço, porém, de lançar ao descrédito o Congresso, os partidos<br />
e os políticos em geral.<br />
A reforma política volta à ordem do dia, assim, num contexto em que, mais do que a governabilidade,<br />
a confiança nas instituições – sua legitimidade, portanto – é a questão fundamental.<br />
<strong>Reforma</strong> política e reforma do Estado<br />
“A César o que é de César”. Instituições representativas defeituosas podem explicar por<br />
que tantos parlamentares aceitaram dinheiro ilegal dos emissários do governo ou de seu partido,<br />
como o presidente do PTB revelou em junho de 2005, uma CPI confirmou e o procurador-geral<br />
da República denunciou à Justiça. Para explicar por que e como o dinheiro chegou a<br />
ser oferecido, é preciso olhar para outro lado: para dentro do governo e de seu partido.<br />
Este não é o lugar para discutir os problemas internos do PT. Mas as brechas que permitiram<br />
ao partido usar o governo para “aparelhar” o Estado não podem ser ignoradas, sob<br />
pena de se criar, aí sim, uma cortina de fumaça ou, pior, um jogo de espelhos para fazer<br />
parecer que “a política” – entenda-se: as eleições, os partidos, o Congresso – é a fonte de<br />
todos os males.<br />
A fim de responder ao déficit de confiança em toda a sua extensão, a reforma política deve<br />
convergir com a reforma do Estado para aumentar tanto a eficiência como a transparência das<br />
estruturas do Executivo. Isso inclui medidas como o estabelecimento de critérios legais estritos