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Reforma Política - Cebrap

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Fernando Henrique Cardoso e Eduardo Graeff<br />

governabilidade e catapultou a reforma política ao topo da lista de prioridades de cientistas<br />

políticos, economistas e outros observadores e atores da cena política. A “mãe de todas as<br />

reformas”, diz-se desde então. Mas qual reforma?<br />

A forte participação Àquela altura as propostas sobre a mesa apontavam em duas direções<br />

popular e a obediência não excludentes. De um lado o parlamentarismo, rejeitado na Constituin-<br />

ao rito legal no processo te e que teria uma segunda chance no plebiscito marcado para 1993. Do<br />

de impeachment outro lado um conjunto de medidas destinadas a limitar a fragmentação<br />

pareceram sinais de dos partidos, torná-los mais coesos internamente e, assim, em tese, qualifi-<br />

vitalidade democrática<br />

cá-los como interlocutores do presidente na busca de maioria congressual<br />

para suas propostas.<br />

A segunda chance do parlamentarismo foi perdida no plebiscito sem que se desfizesse<br />

um equívoco básico: que ele viria deslocar o comando político do país do presidente para o<br />

Congresso. Na verdade o parlamentarismo típico garante o alinhamento quase automático<br />

da maioria do Legislativo com a chefia do Executivo, exercida pelo primeiro-ministro e seu<br />

gabinete. A maioria dos políticos que defenderam o parlamentarismo na Constituinte e dos<br />

eleitores que o rejeitaram no plebiscito parece ter acreditado no contrário. Na Constituinte,<br />

a defesa do parlamentarismo o contrapôs freqüentemente ao “presidencialismo imperial”<br />

moldado pelo regime militar. A discussão de suas regras específicas se deteve às hipóteses de<br />

rejeição ou destituição de ministros, minimizando a possibilidade recíproca de dissolução<br />

da Câmara, que é essencial na lógica do sistema parlamentar. No plebiscito, os defensores<br />

do presidencialismo aproveitaram a deixa e venderam a idéia de que o parlamentarismo se<br />

destinava a enfraquecer o presidente e trazer de volta a eleição indireta dos governantes, na<br />

contramão das Diretas Já. A situação típica é outra, como se sabe: o primeiro-ministro não<br />

sai do bolso do colete de uma maioria parlamentar ad hoc. Como candidato ao Parlamento<br />

e líder de partido ou coligação, é ele que faz a maioria na medida em que “puxa” a eleição<br />

de seus companheiros de chapa.<br />

Com ou sem equívoco, o plebiscito arquivou pelo menos por um bom tempo a alternativa<br />

parlamentarista. A pauta da reforma política afunilou, por exclusão, para propostas<br />

de mudança da legislação eleitoral e partidária. O ambiente em que essas propostas vêm à<br />

discussão, no entanto, já não é marcado por uma preocupação tão aguda com a governabilidade.<br />

Sem que ninguém se desse conta naquela altura, o impeachment foi o divisor de<br />

águas para um período de mudanças significativas, não tanto nas regras do jogo, mas no<br />

andamento de fato das relações Executivo-Legislativo.<br />

Governabilidade sem confiança<br />

O fantasma da “falta de condições políticas” pairou sobre o Plano Real desde seu primeiro<br />

esboço apresentado por Fernando Henrique Cardoso pouco depois de assumir o<br />

Ministério da Fazenda, em maio de 1993. O vice-presidente Itamar Franco, sucessor legal<br />

de Collor, montara um governo de coalizão ampla mas que não parecia ter respaldo popular<br />

nem tempo hábil, a pouco mais de um ano das eleições gerais, para levar a cabo um plano<br />

de controle da inflação. O que o novo presidente, o Congresso e a maioria do povo queriam

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