Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
42 |<br />
Fernando Henrique Cardoso e Eduardo Graeff<br />
governabilidade e catapultou a reforma política ao topo da lista de prioridades de cientistas<br />
políticos, economistas e outros observadores e atores da cena política. A “mãe de todas as<br />
reformas”, diz-se desde então. Mas qual reforma?<br />
A forte participação Àquela altura as propostas sobre a mesa apontavam em duas direções<br />
popular e a obediência não excludentes. De um lado o parlamentarismo, rejeitado na Constituin-<br />
ao rito legal no processo te e que teria uma segunda chance no plebiscito marcado para 1993. Do<br />
de impeachment outro lado um conjunto de medidas destinadas a limitar a fragmentação<br />
pareceram sinais de dos partidos, torná-los mais coesos internamente e, assim, em tese, qualifi-<br />
vitalidade democrática<br />
cá-los como interlocutores do presidente na busca de maioria congressual<br />
para suas propostas.<br />
A segunda chance do parlamentarismo foi perdida no plebiscito sem que se desfizesse<br />
um equívoco básico: que ele viria deslocar o comando político do país do presidente para o<br />
Congresso. Na verdade o parlamentarismo típico garante o alinhamento quase automático<br />
da maioria do Legislativo com a chefia do Executivo, exercida pelo primeiro-ministro e seu<br />
gabinete. A maioria dos políticos que defenderam o parlamentarismo na Constituinte e dos<br />
eleitores que o rejeitaram no plebiscito parece ter acreditado no contrário. Na Constituinte,<br />
a defesa do parlamentarismo o contrapôs freqüentemente ao “presidencialismo imperial”<br />
moldado pelo regime militar. A discussão de suas regras específicas se deteve às hipóteses de<br />
rejeição ou destituição de ministros, minimizando a possibilidade recíproca de dissolução<br />
da Câmara, que é essencial na lógica do sistema parlamentar. No plebiscito, os defensores<br />
do presidencialismo aproveitaram a deixa e venderam a idéia de que o parlamentarismo se<br />
destinava a enfraquecer o presidente e trazer de volta a eleição indireta dos governantes, na<br />
contramão das Diretas Já. A situação típica é outra, como se sabe: o primeiro-ministro não<br />
sai do bolso do colete de uma maioria parlamentar ad hoc. Como candidato ao Parlamento<br />
e líder de partido ou coligação, é ele que faz a maioria na medida em que “puxa” a eleição<br />
de seus companheiros de chapa.<br />
Com ou sem equívoco, o plebiscito arquivou pelo menos por um bom tempo a alternativa<br />
parlamentarista. A pauta da reforma política afunilou, por exclusão, para propostas<br />
de mudança da legislação eleitoral e partidária. O ambiente em que essas propostas vêm à<br />
discussão, no entanto, já não é marcado por uma preocupação tão aguda com a governabilidade.<br />
Sem que ninguém se desse conta naquela altura, o impeachment foi o divisor de<br />
águas para um período de mudanças significativas, não tanto nas regras do jogo, mas no<br />
andamento de fato das relações Executivo-Legislativo.<br />
Governabilidade sem confiança<br />
O fantasma da “falta de condições políticas” pairou sobre o Plano Real desde seu primeiro<br />
esboço apresentado por Fernando Henrique Cardoso pouco depois de assumir o<br />
Ministério da Fazenda, em maio de 1993. O vice-presidente Itamar Franco, sucessor legal<br />
de Collor, montara um governo de coalizão ampla mas que não parecia ter respaldo popular<br />
nem tempo hábil, a pouco mais de um ano das eleições gerais, para levar a cabo um plano<br />
de controle da inflação. O que o novo presidente, o Congresso e a maioria do povo queriam