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Sandra Starling<br />
Como mostra magistralmente Fábio Wanderley Reis, em matéria de reforma política<br />
não há sistema perfeito: tudo depende do objetivo que se quer atingir. Trata-se de ampliar<br />
a representatividade dos diversos interesses existentes na sociedade? O caminho para isso<br />
pode vir a colidir com a necessidade de tornar mais fácil o relacionamento entre o Executivo<br />
e o Legislativo, reduzindo-se o coeficiente de governança, quanto à adoção de certas medidas<br />
que se têm por necessárias. Em outras palavras, muitos podem estar falando da urgência<br />
da reforma política, mas há reformas e reformas.<br />
De meu ponto de vista, o principal deve ser ampliar o controle popular sobre a escolha<br />
dos governantes ao mesmo tempo em que se amplia, também, o acesso do maior número<br />
de pessoas aos cargos de decisão, num ambiente onde a transparência e o conhecimento do<br />
que esteja sendo feito se torne o mais público possível.<br />
Os trabalhos das últimas comissões parlamentares de inquérito, notadamente a dos<br />
Correios e a dos Bingos – mesmo com todas as falhas resultantes do excesso de exposição<br />
à mídia e da ausência de efetiva vontade de investigar – ofereceram elementos a mancheias<br />
para que se constate a necessidade de se pensar em efetivos controles sociais sobre as ações (e<br />
omissões) governamentais. À guisa de ilustração, aponto um, resultante do chamado “presidencialismo<br />
de coalizão”, que, se foi saudado por alguns analistas, não resiste ao exame acurado<br />
do que significa a entrega de um ministério “com porteiras fechadas” para que este ou<br />
aquele partido venha a compor a base parlamentar de apoio ao governo. Dados coletados,<br />
e às vezes não tornados públicos nessas comissões, mostraram práticas idênticas e reiteradas<br />
de aparelhamento de órgãos administrativos em proveito de redes espúrias de financiamento<br />
dos partidos ou das burocracias partidárias com recursos públicos. Por exemplo, salta aos<br />
olhos a semelhança entre o episódio denunciado em 1997, envolvendo dado partido, então<br />
na direção da Datamec, e os noticiados repasses a parlamentares de prebendas ali obtidas, e<br />
a narrativa de Maurício Marinho, funcionário dos Correios, também a serviço, segundo o<br />
próprio, de dada sigla partidária, no recolhimento de propinas para parlamentares. Outra<br />
revelação a confirmar os meandros da privatização do Estado brasileiro tem a ver com as<br />
denúncias sobre o Fundo Visanet como fornecedor de recursos para o esquema do “valerioduto”<br />
e a auditoria interna determinada em 2005 pelo Banco do Brasil, cujos resultados levam<br />
à conclusão de que os mesmos expedientes de drenagem de dinheiro, no mesmo Fundo<br />
Visanet, eram levados a efeito, entre 2001 e 2002, para empresas de publicidade, inclusive<br />
a DNA, de que Marcos Valério era sócio, em montantes deveras semelhantes: naqueles dois<br />
primeiros anos, o montante repassado foi de quase 50 milhões de reais; no atual governo,<br />
até 2004, 54 milhões de reais! Isso está a reclamar, no mínimo, para combater a corrupção,<br />
a integração de sistemas que hoje não se comunicam, a exemplo do Tribunal de Contas da<br />
União, da Controladoria Geral da República, da Polícia Federal e do Ministério Público.<br />
A mesma razão deveria levar à reintrodução do controle a priori sobre áreas sensíveis da<br />
moderna administração pública com adequados sistemas de licitação para dar conta de vultosos<br />
contratos que se mostram cruciais centros para o funcionamento de esquemas para sustentação<br />
financeira de partidos e eleições, a partir dos gastos públicos, quando não alimentação desses<br />
esquemas, com o direcionamento de atos de privatização de domínios econômicos estatais.