You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
26 |<br />
Ronaldo Caiado<br />
O eleitor não votará em quem quiser, mas apenas em alguém que integre um partido e que<br />
tenha sido por ele selecionado em convenção, e muitas vezes seu voto serve para eleger outro<br />
candidato com o perfil oposto daquele em quem votou.<br />
Votar em nomes, na escala de um estado, e não em partidos, tem um custo elevado e<br />
inúmeras desvantagens. O parlamentar eleito em sistema de lista aberta não está compromissado<br />
por qualquer modo com o eleitor que o elegeu, e sua atividade não se sujeita a qualquer<br />
controle a não ser o seu próprio interesse pessoal. Ele não atua por força de princípios<br />
ou programas, mas no âmbito de conveniências, pessoais ou grupais. Por outro lado, pela<br />
inexistência de fidelidade partidária, acompanhada de sanções efetivas, a ação parlamentar<br />
é marcada por aguda incoerência e total imprevisibilidade pela possibilidade de que vereadores<br />
e deputados migrem à vontade entre as legendas partidárias. Esse quadro predispõe<br />
os parlamentos a “mensalões”, subornos e negociatas, tanto de governantes<br />
Votar em nomes, na quanto da iniciativa privada, e viola, na prática, a vontade do eleitor. Mais<br />
escala de um estado, e que isso, impede qualquer tipo de estabilidade institucional e compromete<br />
não em partidos, tem o prestígio e a legitimidade das instituições políticas perante a sociedade.<br />
um custo elevado e Com o voto em lista fechada, assegura-se, de imediato, a estabilidade<br />
inúmeras desvantagens<br />
do quadro partidário. Assim, o debate eleitoral se modifica, pois as legendas<br />
serão forçadas a discutir com o eleitorado as questões importantes em<br />
jogo na sociedade e as propostas de cada grupo para lidar com elas. Vale lembrar que, diferentemente<br />
do que existe hoje, somente partidos organizados e estabilizados em torno de<br />
plataformas são capazes de fazer compromissos e cumpri-los, de interagir responsavelmente<br />
uns com os outros nas negociações políticas e na composição dos governos de coalizão, que<br />
em nosso país são a forma habitual de exercício do Poder Executivo.<br />
Mas não é suficiente legitimar e tornar reais os partidos políticos. É igualmente fundamental<br />
minimizar o custo das eleições e, simultaneamente, impedir a corrupção eleitoral,<br />
seja por interferência direta do poder econômico no financiamento das campanhas, seja ela<br />
por influência indireta de governantes, mediante obras e favores com recursos públicos. A<br />
situação é ainda mais grave do que aparentava, pois, paradoxalmente, mesmo com a proibição<br />
de gastos em showmícios e distribuição de brindes, com o objetivo de reduzir os custos<br />
e a prática de “caixa dois”, os candidatos gastaram muito mais com a campanha de 2006 do<br />
que haviam feito com a de 2002.<br />
Na raiz do problema está também o atual sistema eleitoral, que, tanto por força da mudança<br />
dos meios de comunicação e difusão quanto pela pulverização individual nas eleições<br />
proporcionais, demanda recursos cada vez maiores, em especial nestas últimas. Como cada<br />
candidato teve que cuidar individualmente de sua campanha, todas as campanhas, majoritárias<br />
ou proporcionais, se tornaram proibitivas, exigindo abundantes recursos financeiros,<br />
em geral não disponíveis para partidos e candidatos.<br />
A necessidade de recursos é suprida seja pelas contribuições privadas, de cidadãos e,<br />
sobretudo, de grandes empresas, seja pelo uso da máquina administrativa. Em ambos os<br />
casos, acabam maculadas e severamente comprometidas a normalidade e a legitimidade das<br />
eleições. Na primeira situação, a força do dinheiro substitui a das idéias; além disso, gera-se<br />
dependência da representação parlamentar com respeito aos seus financiadores, o que não é