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CAPÍTULO VIGÉSIMO PRIMEIRO<br />

Cayle refletia e fazia planos. Os dias se sucediam regularmente enquanto o<br />

foguete dirigia-se para a Terra. A hora marcada pelos relógios de bordo se<br />

aproximava pouco a pouco da hora de Isher. Mas, lá fora, o espaço continuava<br />

imutável: de um lado, a ardente claridade do sol; do outro, a escuridão vibrante de<br />

estrelas. Ele dormia, comia, sonhava, ia e vinha. Vivia. Seu pensamento se tornava<br />

mais claro, sua vontade mais aguçada. Não tinha mais dúvidas dentro dele: o<br />

hom<strong>em</strong> que vencera o medo da morte não podia fracassar.<br />

O brilho do sol aumentava. Sua espiral de fogo salpicava as vigias. Marte não era<br />

mais que um ponto vermelho no oceano da noite, difícil de distinguir entre os<br />

diamantes faiscantes que juncavam o céu. A Terra aumentava. Primeiro, foi uma<br />

esfera de luz; depois, uma incrível, uma monstruosa massa vaporosa que ocupava a<br />

metade do espaço. Os continentes tomaram forma e quando a nave contornou a<br />

Lua, as cidades brilharam no h<strong>em</strong>isfério noturno, rivalizando de brilho com os céus.<br />

Cayle só olhava o planeta de vez <strong>em</strong> quando. A cinco dias da chegada, descobrira<br />

um jogo clandestino num dos porões. Perdeu a maioria das partidas, mas ganhos<br />

ocasionais lhe permitiam recuperar alguns créditos. No terceiro dia, cheio de<br />

inquietação, parou, voltou para a cabine e contou o que lhe restava: oitenta e um<br />

créditos. Tinha dado ao representante do banco os oito por cento do famoso<br />

<strong>em</strong>préstimo. Comprara com o resto um revólver, pagara sua passag<strong>em</strong>... e perdera<br />

no pôquer.<br />

"O principal", pensou, "é que vou logo estar na Cidade Imperial com, apesar de<br />

tudo, mais dinheiro no bolso do que quando cheguei pela primeira vez".<br />

Deitou-se. Seu azar no jogo não o afetava <strong>em</strong> nada. Não tinha a intenção de se<br />

refazer no Palácio dos Tostões. Agora via as coisas sob um outro ângulo. Não<br />

hesitaria <strong>em</strong> correr riscos, é claro. Mas... num alto nível. Não lhe seria fácil tornar a<br />

se apossar dos cinco mil créditos que lhe tinham tirado. Mas conseguiria. Sentia-se<br />

possuidor de tesouros de paciência, sentia-se preparado para todas as<br />

eventualidades. Assim que tivesse o dinheiro, iria procurar Medlon para obter sua<br />

comissão. Talvez devesse pagar, talvez não. Tudo dependeria do momento. Não<br />

tinha nenhuma idéia de vingança. Era-lhe indiferente a sorte de criaturas venais<br />

como o coronel ou o sujeito dos jogos. Aqueles indivíduos não passavam, para ele,<br />

de degraus, de ferramentas para realizar o plano mais ambicioso jamais urdido no<br />

império. Um plano tendo por pedra angular uma realidade que parecia haver<br />

escapado a todos os que tinham conseguido chegar ao cume da hierarquia isheriana.<br />

Innelda queria o b<strong>em</strong>-estar do país. No decorrer do único contato que tivera com a<br />

soberana, havia compreendido que ela era um ser ferido, que sofria com a corrupção<br />

que a rodeava. Dissess<strong>em</strong> o que dissess<strong>em</strong>, a Imperatriz era honesta. De uma<br />

honestidade maquiavélica. Clark não duvidava de que ela fosse capaz de mandar<br />

executar um adversário. Mas isso era parte do seu ofício de governante. Ela,<br />

também, devia se curvar às necessidades impostas por sua situação. Como ele.<br />

Sim, ela era honesta. Daria boa acolhida a um hom<strong>em</strong> que, certo de sua

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