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Com um sorriso, caminhou ousadamente, atravessou a parede do fundo e<br />
encontrou-se numa espécie de salão imenso, com paredes de espelhos. Uma mulher<br />
correu ao seu encontro.<br />
- Queira desculpar-nos, senhorita. Como era sua primeira visita, precisávamos nos<br />
certificar de que não conhecia nenhum dos nossos pequenos truques. Alguém faloulhe<br />
desta ilusão ou a senhora já freqentou outras Casas?<br />
Lucy julgou melhor contornar a pergunta.<br />
- Um amigo me falou - explicou descuidadamente, e era a pura verdade.<br />
A resposta pareceu satisfazer à jov<strong>em</strong> e loura criatura.<br />
- Se quiser mudar de roupa...<br />
Abriu uma porta camuflada e Lucy penetrou num pequeno toucador. Um elegante<br />
vestido branco estava pendurado num cabide. No chão, havia um par de sandálias. E<br />
nada mais.<br />
Lucy despiu-se lentamente. Caira na engrenag<strong>em</strong> e lhe seria muito difícil sair. Se<br />
não conseguisse entrar <strong>em</strong> contato com Cayle a t<strong>em</strong>po, precisaria, quisesse ou não,<br />
experimentar o prazer artificial.<br />
O vestido era de uma suavidade maravilhosa. O deslisar do tecido sobre sua pele<br />
nua provocou-lhe um arrepio voluptuoso. Era um tecido especial cujo contato<br />
estimulava diretamente os centros nervosos do prazer.<br />
Abandonou-se, feliz, à carícia envolvente que descia ao longo do corpo como se<br />
fosse uma onda. Uma espécie de vertig<strong>em</strong> deliciosa fê-la vacilar. "Azar! Aconteça o<br />
que acontecer esta noite, vou mesmo é me divertir!"<br />
Calçou as sandálias, abriu a porta às apalpadelas e bateu as pálpebras à vista da<br />
sala. De um lado, havia uma fileira de homens, alguns sentados <strong>em</strong> mesinhas.<br />
Defronte, <strong>em</strong> mesinhas s<strong>em</strong>elhantes, uma fileira de mulheres, simetricamente<br />
dispostas <strong>em</strong> relação aos homens. Ornamentos policrômicos alegravam as paredes.<br />
À sua frente, um enorme bar ocupava todo o comprimento da peça. A decoração era<br />
autêntica ou se tratava ainda de ilusão? Desistiu de verificar. Que importância tinha?<br />
O essencial era que ela estivesse lá, na sala de encontros. Com um pouco de sorte,<br />
breve encontraria Cayle. E se não o encontrasse, azar. Haveria outras noites,<br />
pensava num sonho enevoado.<br />
Suas pernas tr<strong>em</strong>iam um pouco, quando começou a andar. Olhou com desprezo as<br />
mulheres sentadas diante de bebidas servidas <strong>em</strong> copos minúsculos. A maioria era<br />
composta de velhas, muito mais velhas que ela. Desgostosa, voltou os olhos para os<br />
homens e então notou que havia duas salas. Uma tela transparente se interpunha<br />
entre o grupo de homens e o de mulheres. Qu<strong>em</strong> sabe se aquela separação também<br />
era ilusória? Qu<strong>em</strong> sabe se se dissolveria no momento da conjunção?<br />
Porque a conjunção deveria acontecer, como Lucy não duvidava. Parando de se<br />
interrogar, passou os homens <strong>em</strong> revista. Eram jovens, na maior parte. E reconheceu<br />
Cayle. Mais exatamente, teve consciência de reconhecê-lo alguns segundos depois<br />
que seu olhar pousou nele Sentiu um choque, mas o reflexo de prudência impôs-se.<br />
Dominando sua <strong>em</strong>oção, caminhou com desenvoltura para uma mesinha, na qual<br />
sentou-se.<br />
Acabara-se a agradável <strong>em</strong>briaguez de há pouco. Sentia-se infeliz, agora, ao<br />
recordar a fisionomia entrevista. Um Cayle de rosto desfeito. Esgaseado, esgotado,<br />
teria reparado nela? Duvidava. "Vou olhá-lo outra vez", pensou, "e desta vez<br />
procurarei chamar-lhe a atenção".<br />
Olhou discretamente o relógio. Antes de mais nada, agir com calma. Passou-se um<br />
minuto. O ponteiro começou um novo circuito, os segundos continuaram a se<br />
suceder. Um... dois... três... quatro... cinco... Um homenzinho esguio levantou a