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chegava, o jogo recomeçava e ele, apressadamente, fazia as apostas. Quando perdia, sentia-se irritado e surgia dentro dele a determinação avara de não deixar para trás nem um tostão de seu lucro. Se ganhava, achava ridículo interromper no momento em que a sorte o favorecia tanto. Espere, dizia-se, espere até perder dez vezes seguidas... dez vezes seguidas... Teve a impressão vaga de quarenta ou cinqenta mil créditos num bolso. E havia dinheiro nos outros bolsos também. Sem se dar conta, conscientemente, começou a jogar com notas de valor elevado. Não tinha importância, a máquina pagava os ganhos com toda honestidade. Já estava cambaleando como um homem bêbado. O corpo parecia estar flutuando. Continuava jogando, como que envolvido numa névoa emocional, sem perceber os outros. Não reparou que muitos estavam acompanhando suas jogadas, ganhando com ele. Mas isto não era importante para ele. Só despertou de seu torpor quando a bola caiu, como uma coisa morta, no fundo de sua prisão. Ele ficou parado, esperando o jogo recomeçar, sem a menor consciência de que aquela parada tinha algo que ver com ele, até que um homem gordo, moreno, caminhou em sua direção. O estranho falou, com um sorriso oleoso: - Parabéns, rapaz. Agradecemos a preferência e estamos muito felizes com sua sorte. Mas para os outros jogadores temos más notícias. As regras desta casa, que estão afixadas na entrada de nosso magnífico estabelecimento, não permitem que se acompanhe a sorte evidente de outro jogador. É fora de dúvida que este afortunado rapaz está jogando de mãos dadas com a sorte, por isso todas as outras apostas devem ser feitas antes da sua. A máquina foi regulada nesse sentido e pedimos não nos obrigar a desapontá-los se fizerem apostas de última hora. Não dará certo. E agora, boa sorte senhores e senhoras, e sobretudo a você, meu rapaz. Afastou-se sorrindo. Um momento depois a bola estava dançando novamente. Foi durante a terceira jogada que Cayle percebeu: "Mas eu sou o centro de atenção". Ficou espantado. Tinha saído de sua letargia semiconsciente, mantida para poder continuar seguro de si no jogo. Pensou: "É melhor eu sair daqui e sem despertar atenção". Quando tentou afastar-se, uma garota bonita abraçou-o e deu-lhe um beijo. A garota dizia: - Oh, por favor, deixe eu ter um pouco da sua sorte. Por favor, por favor, sim? Conseguiu soltar-se, mas esqueceu sua intenção. Continuou jogando enquanto tentava lembrar-se: "Mas eu ia fazer alguma coisa". Percebia que cada vez chegava mais gente querendo jogar na mesma mesa, empurrando-se uns aos outros e mesmo brigando por um lugar. Ao escutar as discussões, novamente sentiu como que um aviso, a sua mesa era o centro de atenção de mil olhos ávidos. Mas não conseguia lembrar-se do que queria fazer. Tinha a sensação de estar virtualmente cercado de mulheres que o tocavam, beijavam-lhe o rosto quando virava a cabeça, e sentia o excesso de perfume. Não podia mover as mãos sem esbarrar com elas em braços nus, costas nuas e vestidos tão decotados que a sua cabeça mergulhava num mar de seios macios e perfumados. Quando, naturalmente, inclinava a cabeça um pouco, as mãos sempre presentes o puxavam o resto do caminho. E ainda não tinha terminado sua noite de sorte. Sentia que era prazer demais, aplauso demais a cada nova vitória. E também quando perdia, era excessivo o consolo oferecido pelas mulheres que o abraçavam e beijavam. Até a música de fundo era animada demais. Quando havia ganho incontáveis milhares de créditos, fecharam-se as portas do Palácio dos Tostões e o mesmo homem gordo aproximou-

se e disse secamente: - Muito bem. Agora chega. Os clientes já saíram, podem acabar com esta idiotice. Cayle olhava o homem espantado. Sentiu o alarme de perigo pulsando em seu corpo. Disse: - Acho que vou para casa. Alguém golpeou-o no rosto, com violência. - De novo, ele ainda não voltou a si. O segundo golpe foi ainda mais violento. Cayle finalmente percebeu claramente que estava em perigo. Gaguejou: - Mas o que está acontecendo? Seus olhos apelavam para aqueles que, minutos antes, estavam tão entusiasmados com ele... Impossível que algo de ruim pudesse lhe acontecer enquanto eles estivessem ali. Virou-se para atacar o homem gordo. Mas foi imobilizado por mãos fortes que o seguravam, que esvaziavam os seus bolsos, tirando tudo o que tinha ganho. Como de muito longe, ouviu o homem falar novamente: - Não seja ingênuo. Não há nada especial acontecendo. Os clientes foram empurrados para fora, não só os daqui de sua mesa como também os do salão de jogo. Os que estão aqui agora são contratados para estas ocasiões e nos custam dez créditos cada. Isto nos custará só dez mil, enquanto que você ganhou de cinqenta a cem vezes esta cifra. Encolheu os ombros e continuou: - As pessoas não entendem o mecanismo econômico destas coisas. Na próxima vez não seja tão ambicioso. Se houver uma próxima vez. Cayle recuperou a fala: - E o que vão fazer? - Você verá. Muito bem, levem-no para o caminhão aéreo e podemos reabrir o estabelecimento! Cayle sentiu que o arrastavam através de um corredor escuro. Desesperado, pensava que, mais uma vez, estava numa situação em que os outros decidiam o seu destino.

se e disse secamente:<br />

- Muito b<strong>em</strong>. Agora chega. Os clientes já saíram, pod<strong>em</strong> acabar com esta idiotice.<br />

Cayle olhava o hom<strong>em</strong> espantado. Sentiu o alarme de perigo pulsando <strong>em</strong> seu<br />

corpo. Disse:<br />

- Acho que vou para casa.<br />

Alguém golpeou-o no rosto, com violência.<br />

- De novo, ele ainda não voltou a si.<br />

O segundo golpe foi ainda mais violento. Cayle finalmente percebeu claramente<br />

que estava <strong>em</strong> perigo. Gaguejou:<br />

- Mas o que está acontecendo?<br />

Seus olhos apelavam para aqueles que, minutos antes, estavam tão<br />

entusiasmados com ele... Impossível que algo de ruim pudesse lhe acontecer<br />

enquanto eles estivess<strong>em</strong> ali.<br />

Virou-se para atacar o hom<strong>em</strong> gordo. Mas foi imobilizado por mãos fortes que o<br />

seguravam, que esvaziavam os seus bolsos, tirando tudo o que tinha ganho. Como<br />

de muito longe, ouviu o hom<strong>em</strong> falar novamente:<br />

- Não seja ingênuo. Não há nada especial acontecendo. Os clientes foram<br />

<strong>em</strong>purrados para fora, não só os daqui de sua mesa como também os do salão de<br />

jogo. Os que estão aqui agora são contratados para estas ocasiões e nos custam dez<br />

créditos cada. Isto nos custará só dez mil, enquanto que você ganhou de cinqenta a<br />

c<strong>em</strong> vezes esta cifra.<br />

Encolheu os ombros e continuou:<br />

- As pessoas não entend<strong>em</strong> o mecanismo econômico destas coisas. Na próxima<br />

vez não seja tão ambicioso. Se houver uma próxima vez.<br />

Cayle recuperou a fala:<br />

- E o que vão fazer?<br />

- Você verá. Muito b<strong>em</strong>, lev<strong>em</strong>-no para o caminhão aéreo e pod<strong>em</strong>os reabrir o<br />

estabelecimento!<br />

Cayle sentiu que o arrastavam através de um corredor escuro. Desesperado,<br />

pensava que, mais uma vez, estava numa situação <strong>em</strong> que os outros decidiam o seu<br />

destino.

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