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CAPÍTULO NONO<br />
Cayle teve que forçar seu caminho através da multidão para conseguir entrar no<br />
Palácio dos Tostões. O tamanho da multidão o encorajava. Ele podia passar<br />
despercebido naquela massa de humanidade sedenta de dinheiro.<br />
Cayle não hesitou. Havia examinado, antes, todos os jogos, por isso se dirigiu<br />
diretamente ao que ele queria para obter fortuna. O importante, pensou, é<br />
conquistar o lugar para jogar e mantê-lo.<br />
Este novo jogo tinha possibilidade de até c<strong>em</strong> para um, sendo que a mais baixa<br />
era de cinco para um. Funcionava de uma forma relativamente simples, se b<strong>em</strong> que<br />
Cayle, que sabia um pouco sobre energia, tendo se distraído desde os quinze anos<br />
na oficina do pai, percebeu que havia um sist<strong>em</strong>a complicado escondido atrás da<br />
aparência de simplicidade do esqu<strong>em</strong>a. O alvo era uma bola de energia. Tinha<br />
aproximadamente uma polegada de diâmetro e rolava dentro de uma esfera de<br />
plástico. Rolava cada vez mais depressa até que sua velocidade transcendia a<br />
resistência da matéria. Nesse momento, sendo energia pura, quebrava as barreiras<br />
de sua prisão. Mergulhava através do plástico como se não fosse nada, como se<br />
fosse um raio de luz prisioneiro por uma lei física antinatural numa prisão quase<br />
invisível.<br />
No entanto, no momento <strong>em</strong> que se via livre, parecia ter medo. Mudava de cor,<br />
sutilmente, e diminuía a velocidade. E, apesar de sua imensa velocidade no<br />
momento da liberação, o medo era tão grande que poucos segundos depois diminuía<br />
tanto que começava a cair.<br />
Enquanto caía, dava a ilusão de estar <strong>em</strong> toda parte. Uma ilusão que se formava<br />
na mente dos jogadores, produto da enorme velocidade e de alucinação mental.<br />
Cada jogador tinha a convicção que a bola voava <strong>em</strong> sua direção, que cairia no canal<br />
que ele atirava com um número. Inevitavelmente, ficavam decepcionados quando a<br />
bola, missão cumprida, caía num dos canais, acionando o mecanismo.<br />
O primeiro jogo deu a Cayle um lucro de trinta e sete créditos. Queria aparentar<br />
calma mas o choque da vitória inundou seus nervos com espasmos de excitação.<br />
Colocou um crédito <strong>em</strong> quadro canais, perdeu e, depois, jogando os mesmos<br />
números de novo, ganhou noventa créditos. Durante a hora seguinte, ganhou numa<br />
média de um <strong>em</strong> cada cinco jogos. Tinha que reconhecer que era uma sorte<br />
fenomenal, até para ele e, mesmo antes de terminar aquela hora, já estava<br />
arriscando dez créditos <strong>em</strong> cada canal que escolhia.<br />
Não chegou a contar o lucro. De vez <strong>em</strong> quando, jogava um monte de moedas<br />
numa trocadora automática e recebia notas grandes que guardava no bolso. N<strong>em</strong><br />
uma vez teve que jogar com a reserva. Depois de um certo t<strong>em</strong>po, sentiu um pânico<br />
estranho. "Devo ter uns três ou quatro mil créditos. É hora de parar. Não preciso<br />
ganhar o dinheiro todo numa só noite. Posso voltar amanhã e depois de amanhã e<br />
assim por diante. "<br />
O que o confundia era a velocidade do jogo. Cada vez que o impulso de parar