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CAPÍTULO OITAVO Cayle que estivera sentado, levantou-se rapidamente. Foi um movimento automático, motivado pela sensação de ser intruso. Já estava a meio caminho da porta quando percebeu que o olhar da mulher o seguia. Cayle gaguejou: - Coronel, obrigado pelo privilégio... Sua voz pareceu-lhe extremamente desagradável e ele parou envergonhado. Então sentiu uma onda de dúvida, de descrença, a assaltá-lo sobre a possibilidade de que tal coisa estivesse ocorrendo com ele. Lançou um olhar que, momentaneamente, pôs em dúvida a identidade da mulher. Naquele momento, Medlon falou: - É tudo por enquanto, Sr. Clark. A voz do coronel soava alto demais. Agora não tinha mais dúvidas quanto à identidade dela. Aos vinte e cinco anos, a Imperatriz Innelda não era certamente a mais bela mulher do mundo. Mas não havia como deixar de reconhecer seu rosto longo e característico e seus olhos verdes. Era o semblante típico da dinastia de Isher. Sua voz, quando falou novamente, era a mesma que ouvira no telestate, familiar a qualquer um que alguma vez tivesse assistido a sua saudação de aniversário, mas como soava diferente, agora, ouvindo-a dirigida diretamente a ele: - Qual é o seu nome? Foi Medlon quem respondeu, apressadamente, com voz tensa porém calma: - É um conhecido meu, Majestade. Depois, voltando-se para Cayle disse: - Adeus, Sr. Clark. Foi um prazer conversar com o senhor. Ela ignorou a interrupção. - Eu perguntei qual é o seu nome. A pergunta foi feita de modo tão direto que Cayle se encolheu. Mas disse seu nome. - E porque está no escritório de Medlon? Cayle percebeu o olhar de Medlon. Um olhar tenso, esforçando-se por captar sua atenção. Uma remota parte de seu cérebro havia admirado a habilidade das respostas anteriores do Coronel. A admiração desapareceu. O homem estava em pânico. Cayle sentiu surgir uma esperança, bem dentro de si, lá no fundo. Disse então: - Estava perguntando sobre a possibilidade de obter um posto no Exército de Vossa Majestade. - Foi o que pensei. A Imperatriz falou num tom calmo. Interrompeu-se, olhou pensativamente de Cayle para Medlon e voltou a olhar para Cayle. Sua pele era macia, ligeiramente corada. Mantinha a cabeça ereta orgulhosamente. Parecia jovem, viva e gloriosamente confiante. Algo de sua experiência de lidar com os homens transparecia então. Ao invés de dirigir a próxima pergunta a Cayle, ela deu a Medlon a possibilidade de uma saída.

- E posso saber qual foi sua resposta, coronel? O oficial estava rígido, transpirando. Mas a despeito disso, sua voz estava calma e havia mesmo nela uma ponta de jovialidade quando respondeu: - Eu informei, Majestade, que sua patente iria requerer aproximadamente duas semanas para ser concedida. Como sabe Vossa Majestade, há um certo acúmulo de papelada burocrática. Cayle sentiu-se cavalgando a crista da onda, levando-o cada vez mais para o alto. Esta situação só poderia trazer-lhe vantagens. Sentiu uma extraordinária admiração pela Imperatriz. Ela era tão diferente do que ele havia imaginado! O fato de ser ela capaz de refrear-se a fim de não embaraçar um de seus oficiais, virtualmente apanhado em flagrante, surpreendeu-o profundamente. Entretanto, sua voz não deixou de soar um pouco sarcástica quando disse: - Sei, coronel. Sei disso muito bem. Estou por demais familiarizada com toda essa burocracia. Quando continuou, o sarcasmo foi substituído pela paixão: - De um modo ou de outro, os rapazes que normalmente procuram o ingresso no Exército, ouviram que há alguma coisa e por isso permanecem de fora, aos bandos. Estou começando a suspeitar de que existe uma conspiração favorável às Casas de Armas, no sentido de desencorajar os poucos bons candidatos que aparecem. Seus olhos estavam faiscando. Era evidente que ela estava com raiva e que o seu autocontrole havia desaparecido. Dirigiu-se a Cayle, destacando bem as palavras: - Cayle Clark, quanto lhe pediram pela patente? Cayle hesitou. O olhar de Medlon era agora algo de terrível, de tão sombrio. Sua cabeça, semivoltada para Cayle, parecia pouco natural. A mensagem contida no olhar tornava quaisquer palavras mais que dispensáveis. O coronel sentia remorsos por tudo o que havia contado àquele pretendente ao posto de tenente no Exército de Sua Majestade. O apelo era tão gritante que Cayle se sentiu enojado. Nunca, anteriormente, tivera a experiência de ter um homem completamente à sua mercê. A sensação o fez retrair-se. De repente, não lhe deu mais vontade de olhar. Disse: - Majestade, conheci o Coronel Medlon no Interestadual, ontem, e ele ofereceu-me um posto sem qualquer condição prévia. Sentiu-se melhor com estas palavras. Pôde ver que o oficial estava acalmando e que a mulher sorria satisfeita. Ela disse: - Muito bem, coronel. Estou contente de ouvir isto. E, uma vez que isso responde de modo satisfatório ao assunto que pretendia perguntar-lhe, dou-lhe minhas felicitações. É tudo. A tela deu um estalo e apagou-se. O Coronel Medlon afundou lentamente na cadeira. Cayle deu um passo à frente, sorrindo. O Coronel então disse com uma voz despida de toda emoção: - Foi um prazer conhecê-lo, meu rapaz. Mas agora estou muito ocupado. Espero realmente ter notícias suas nas próximas duas semanas, com os cinco mil. Até logo. Cayle não se moveu imediatamente, mas o gosto amargo da derrota já o envolvia completamente. Da escuridão de sua mente lhe veio o pensamento de que tivera uma oportunidade sem igual. E que ele a tinha desperdiçado por ser fraco. Percebeu que o coronel o olhava divertido. Depois disse, encolhendo os ombros: - A Imperatriz não compreende as dificuldades que existem para liquidar o sistema de venda de patentes. Eu não tenho nada a ver com isso. Tentar mudar o estado de coisas ou cortar a minha garganta, produzirá o mesmo efeito. Quem se intrometer

CAPÍTULO OITAVO<br />

Cayle que estivera sentado, levantou-se rapidamente. Foi um movimento<br />

automático, motivado pela sensação de ser intruso. Já estava a meio caminho da<br />

porta quando percebeu que o olhar da mulher o seguia.<br />

Cayle gaguejou:<br />

- Coronel, obrigado pelo privilégio...<br />

Sua voz pareceu-lhe extr<strong>em</strong>amente desagradável e ele parou envergonhado.<br />

Então sentiu uma onda de dúvida, de descrença, a assaltá-lo sobre a possibilidade de<br />

que tal coisa estivesse ocorrendo com ele. Lançou um olhar que, momentaneamente,<br />

pôs <strong>em</strong> dúvida a identidade da mulher. Naquele momento, Medlon falou:<br />

- É tudo por enquanto, Sr. Clark. A voz do coronel soava alto d<strong>em</strong>ais.<br />

Agora não tinha mais dúvidas quanto à identidade dela. Aos vinte e cinco anos, a<br />

Imperatriz Innelda não era certamente a mais bela mulher do mundo. Mas não havia<br />

como deixar de reconhecer seu rosto longo e característico e seus olhos verdes. Era<br />

o s<strong>em</strong>blante típico da dinastia de Isher. Sua voz, quando falou novamente, era a<br />

mesma que ouvira no telestate, familiar a qualquer um que alguma vez tivesse<br />

assistido a sua saudação de aniversário, mas como soava diferente, agora, ouvindo-a<br />

dirigida diretamente a ele:<br />

- Qual é o seu nome?<br />

Foi Medlon qu<strong>em</strong> respondeu, apressadamente, com voz tensa porém calma:<br />

- É um conhecido meu, Majestade. Depois, voltando-se para Cayle disse:<br />

- Adeus, Sr. Clark. Foi um prazer conversar com o senhor.<br />

Ela ignorou a interrupção.<br />

- Eu perguntei qual é o seu nome.<br />

A pergunta foi feita de modo tão direto que Cayle se encolheu. Mas disse seu<br />

nome.<br />

- E porque está no escritório de Medlon?<br />

Cayle percebeu o olhar de Medlon. Um olhar tenso, esforçando-se por captar sua<br />

atenção. Uma r<strong>em</strong>ota parte de seu cérebro havia admirado a habilidade das<br />

respostas anteriores do Coronel. A admiração desapareceu. O hom<strong>em</strong> estava <strong>em</strong><br />

pânico. Cayle sentiu surgir uma esperança, b<strong>em</strong> dentro de si, lá no fundo. Disse<br />

então:<br />

- Estava perguntando sobre a possibilidade de obter um posto no Exército de<br />

Vossa Majestade.<br />

- Foi o que pensei.<br />

A Imperatriz falou num tom calmo. Interrompeu-se, olhou pensativamente de<br />

Cayle para Medlon e voltou a olhar para Cayle. Sua pele era macia, ligeiramente<br />

corada. Mantinha a cabeça ereta orgulhosamente. Parecia jov<strong>em</strong>, viva e<br />

gloriosamente confiante. Algo de sua experiência de lidar com os homens<br />

transparecia então. Ao invés de dirigir a próxima pergunta a Cayle, ela deu a Medlon<br />

a possibilidade de uma saída.

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