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CAPÍTULO QUARTO<br />
Cayle não pensou <strong>em</strong> sua partida de Glay como no resultado de uma decisão. Há<br />
tanto t<strong>em</strong>po desejava ir <strong>em</strong>bora que aquele propósito lhe parecia parte de suas<br />
necessidades corporais, tais como beber ou comer. Mas o impulso foi crescendo,<br />
obscura e indistintamente. Frustrado por seu pai, tinha uma atitude hostil para tudo<br />
que fizesse parte da aldeia. E o seu desafio obstinado esbarrava a cada momento<br />
nas características indestrutíveis de sua prisão - isto até agora.<br />
Não sabia exatamente por que se havia aberto sua prisão. Havia a garota da loja<br />
de armas, é claro. Esbelta, com olhos cinza-verdes inteligentes, rosto b<strong>em</strong> talhado,<br />
sua aura de pessoa que já tomou muitas decisões certas - havia dito, ele recordava<br />
as palavras como se ela as estivesse proferindo naquele momento: "Sim, mas claro,<br />
sou da Cidade Imperial. E voltarei para lá na terça de tarde. "<br />
Nesta terça-feira ela estaria indo para a grande cidade, enquanto ele tinha que<br />
ficar <strong>em</strong> Glay. Não podia suportar esta idéia. Foi isso, mais do que sua<br />
desinteligência com o pai, que o fez pressionar a mãe no sentido de conseguir o<br />
dinheiro. Agora, estava sentado no aerônibus para Ferd, e estava apavorado por não<br />
encontrar a moça a bordo.<br />
No Aeroporto Central de Ferd, esperando o transporte para a Cidade Imperial,<br />
procurara intensamente por Lucy Rall. Mas a multidão compacta que se concentrava<br />
<strong>em</strong> direção à constante torrente de aviões interestaduais tornou vãos os esforços de<br />
seus olhos atentos. E, logo, seu próprio transporte aéreo imenso surgiu, preparandose<br />
para pousar.<br />
Cayle foi tomado de uma tr<strong>em</strong>enda excitação. A l<strong>em</strong>brança da jov<strong>em</strong> se apagou.<br />
Subiu a bordo febrilmente. Não pensou mais <strong>em</strong> Lucy até que o avião já estava<br />
planando sobre as terras verdes lá <strong>em</strong>baixo. Recostou-se então <strong>em</strong> sua confortável<br />
poltrona e pôs-se a tecer conjecturas: que tipo de pessoa era ela, essa garota da loja<br />
de armas. Onde viveria. Que tipo de vivência adquirira como m<strong>em</strong>bro dessa<br />
organização quase rebelde?... Havia um hom<strong>em</strong> sentado uns três metros à sua<br />
frente. Cayle reprimiu um impulso de fazer-lhe todas as perguntas que ferviam<br />
dentro dele. Outras pessoas talvez não se apercebess<strong>em</strong> tão b<strong>em</strong> quanto ele de que,<br />
apesar de ter vivido toda a sua vida <strong>em</strong> Glay, não era um matuto. Era melhor<br />
portanto, não arriscar uma mancada. Um hom<strong>em</strong> riu. Uma mulher disse:<br />
- Mas meu querido, você t<strong>em</strong> certeza de que ter<strong>em</strong>os recursos para um passeio<br />
pelos planetas?<br />
Os dois passaram ao longo do corredor e Cayle reparou na grande naturalidade<br />
com que encaravam a viag<strong>em</strong>.<br />
Sentiu-se muito autoconsciente a princípio mas também, gradualmente, foi se<br />
sentindo mais espontâneo. Viu as notícias no estate que encontrou <strong>em</strong> sua poltrona.<br />
Depois, preguiçosamente, estudou a paisag<strong>em</strong> que corria. vertiginosamente lá<br />
<strong>em</strong>baixo, ajustando a lente de aproximação de seu visor. Quando os três homens se<br />
sentaram à sua frente e começaram a jogar cartas, ele já estava se sentindo b<strong>em</strong> à<br />
vontade.