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um passo à frente, Fara Clark, mostre-se. Você custou a esta cidade setecentos créditos, que mal podemos despender. Fara não podia mexer-se ou falar para salvar a vida. O prefeito continuou, com um tom de autocomiseração na voz: - Todos nós sabíamos que não seria benéfico intrometermo-nos com a loja de armas. Se o próprio Governo Imperial os deixa em paz, que direito temos nós de vigiá-los ou agir contra eles? Foi isso o que pensei desde o começo... Mas este homem... este... este Fara Clark, ficou nos atiçando, nos forçando a agir contra a vontade, e agora temos uma conta de setecentos créditos para saldar e... Terminou dizendo: - Em resumo, eis o que houve: quando chamei a guarnição, o comandante riu e disse que Jor iria entrar em contato. Mal desliguei, houve uma chamada a cobrar de Jor. Ele está em Marte. - Esperou que amainassem os gritos de espanto, e concluiu: - Levará quatro semanas para voltar de espaçonave, e nós teremos que pagar por isso. E Fara Clark é o responsável. O choque havia passado. Fara ficou frio, com a mente inflexível. Disse, afinal, com desprezo: - Então você pretende entregar os pontos e culpar a mim, tudo ao mesmo tempo. Vocês estão todos doidos. Ao afastar-se, ouviu o Prefeito Dale dizer que ainda não estava tudo perdido, que ele tinha ouvido dizer que a loja de armas se estabeleceu em Glay porque a cidadezinha era equidistante de quatro cidades maiores e que ela pretendia negociar com aquelas cidades. Aquilo traria turistas, além de aumentar as vendas paralelas dos comerciantes locais. Fara não ouviu mais nada. Com a cabeça erguida, voltou para sua loja. Houve alguns gritos de provocação por parte da multidão, mas ele os ignorou. O pior de tudo, à medida que passavam os dias, era a consciência de que o pessoal da loja de armas não estava interessado nele. Pareciam distantes, superiores, invencíveis. Fara não foi à estação do expresso para ver a chegada de Jor. Ele ouviu dizer que o conselho havia decidido multar Jor com a metade das despesas da viagem, sob a ameaça de perder o emprego, se não estivesse de acordo. Na segunda noite, após a volta de Jor, Fara esgueirou-se até a casa dele e entregou ao oficial cento e setenta e cinco créditos. Após o que, voltou para casa com a alma mais leve. No terceiro dia depois desse fato, a porta de sua loja abriu com estrondo e um homem entrou. Fara franziu o sobrolho ao ver quem era: um joão-ninguém da cidade, Castler. O homem macaqueava um sorriso. - Pensei que lhe interessasse, Fara. Alguém saiu da loja de armas, hoje. Fara concentrou-se deliberadamente no pino de conexão da dura chapa do motor atômico que estava concertando. Imaginou com uma crescente sensação desagradável que o sujeito não lhe iria fornecer mais informações espontaneamente. Uma curiosidade progressiva o fez perguntar, por fim, grunhindo entre dentes: - Espero que o delegado o tenha apanhado, não? Ele não esperava coisa alguma, mas era uma forma de começar. - Não era um homem. Era uma moça. Fara franziu o cenho. Não lhe agradou a idéia de criar problemas para uma mulher. Aqueles salafrários! Usarem uma garota como antes usaram um velho. Mas era um truque destinado ao fracasso; provavelmente, era alguma boba que precisava de uma boa surra. Fara disse, asperamente: - Então, o que aconteceu? - Ela ainda está lá fora, insolente como o quê. E bem bonitinha, também.

- Fizeram alguma coisa? - Nada. O delegado soube, mas disse que não tem vontade de ficar longe da famí- lia por mais um mês, e ainda por cima pagando as despesas. Fara refletiu uns instantes sobre aquilo. Sua voz tremia quando disse, reprimindo a fúria: - Quer dizer que eles os estão deixando sair da toca. Está tudo tão claro quanto o inferno. Não podem entender que não se deve ceder nem uma polegada ante esses... esses transgressores? É como dar proteção ao pecado. Sentiu, com o canto dos olhos, que o rosto do outro abria-se num cínico sorriso. De repente, Fara foi atingido pela idéia de que o outro se divertia com sua raiva. E havia algo mais naquele sorriso - uma secreta sabedoria. Encarou o vagabundo. - Naturalmente essa questão de pecado não o deve preocupar muito. - Oh! - disse o homem sem se abalar - os duros golpes da vida nos fazem mais tolerantes. Por exemplo, depois que você conhecer melhor essa moça, você mesmo vai achar, provavelmente, que há um lado bom em qualquer um de nós. Não foram tanto as palavras, quanto o tom de eu sei de que estou falando, que fez com que Fara vociferasse: - Quer dizer - depois que eu a conhecer melhor! Eu nem sequer falaria com essa descarada. - Nem sempre se pode escolher - disse o outro com enorme naturalidade - suponha que ele a leve para casa. - Quem vai trazer quem para casa? - perguntou Fara, irritado. - Escute, Castler... Estacou de repente. O peso morto do terror abateu-se sobre seu estômago, e todo seu ser vacilou. - Você quer dizer que... - balbuciou ele. - O que eu quero dizer - replicou Castler com um triunfante olhar de esguelha - é que a moçada não costuma deixar uma beleza dessas sozinha. E, naturalmente, seu filho foi o primeiro a falar com ela. E concluiu: - Eles estão passeando juntos, agora, na Segunda Avenida e vêm nesta direção. - Fora daqui - rugiu Fara - e fique longe de mim, seu abutre! Fora! Rígido, Fara deixou-se ficar ali, por um momento. Então saiu para a rua. Havia chegado o momento de pôr um fim àquilo tudo. Não lhe ocorria nenhum plano definido, simplesmente a determinação de acabar com a impossível situação o empurrava para diante. Sua raiva contra Cayle constituía um sentimento totalmente confuso. Como pôde ele ter um filho tão indigno, ele que pagava suas dívidas e trabalhava arduamente, tentando ser decente e viver dentro dos mais altos padrões da Imperatriz ? E agora, Cayle e essa moça da loja de armas, que se deixou apanhar propositadamente - ele os avistou ao dobrar a esquina e sair na Segunda Avenida. Caminhavam em direção contrária à dele. Assim que os alcançou, ouviu a moça dizendo: - Você tem uma idéia errada a nosso respeito. Uma pessoa como você não poderia conseguir trabalho em nossa organização. Você pertence ao Serviço Imperial, onde existem oportunidades para um jovem de boa aparência e ambição. Fara estava absorvido demais por suas palavras, para poder pensar em alguma coisa. - Cayle - disse ele, asperamente. O casal voltou-se; Cayle, com a estudada ausência de pressa de um rapaz que lutou muito para obter nervos de aço; a garota foi mais rápida, mas ainda assim conservou a dignidade.

um passo à frente, Fara Clark, mostre-se. Você custou a esta cidade setecentos<br />

créditos, que mal pod<strong>em</strong>os despender.<br />

Fara não podia mexer-se ou falar para salvar a vida. O prefeito continuou, com um<br />

tom de autocomiseração na voz:<br />

- Todos nós sabíamos que não seria benéfico intrometermo-nos com a loja de<br />

armas. Se o próprio Governo Imperial os deixa <strong>em</strong> paz, que direito t<strong>em</strong>os nós de<br />

vigiá-los ou agir contra eles? Foi isso o que pensei desde o começo... Mas este<br />

hom<strong>em</strong>... este... este Fara Clark, ficou nos atiçando, nos forçando a agir contra a<br />

vontade, e agora t<strong>em</strong>os uma conta de setecentos créditos para saldar e...<br />

Terminou dizendo:<br />

- Em resumo, eis o que houve: quando chamei a guarnição, o comandante riu e<br />

disse que Jor iria entrar <strong>em</strong> contato. Mal desliguei, houve uma chamada a cobrar de<br />

Jor. Ele está <strong>em</strong> Marte. - Esperou que amainass<strong>em</strong> os gritos de espanto, e concluiu:<br />

- <strong>Le</strong>vará quatro s<strong>em</strong>anas para voltar de espaçonave, e nós ter<strong>em</strong>os que pagar por<br />

isso. E Fara Clark é o responsável.<br />

O choque havia passado. Fara ficou frio, com a mente inflexível. Disse, afinal, com<br />

desprezo:<br />

- Então você pretende entregar os pontos e culpar a mim, tudo ao mesmo t<strong>em</strong>po.<br />

Vocês estão todos doidos.<br />

Ao afastar-se, ouviu o Prefeito Dale dizer que ainda não estava tudo perdido, que<br />

ele tinha ouvido dizer que a loja de armas se estabeleceu <strong>em</strong> Glay porque a<br />

cidadezinha era equidistante de quatro cidades maiores e que ela pretendia negociar<br />

com aquelas cidades. Aquilo traria turistas, além de aumentar as vendas paralelas<br />

dos comerciantes locais.<br />

Fara não ouviu mais nada. Com a cabeça erguida, voltou para sua loja. Houve<br />

alguns gritos de provocação por parte da multidão, mas ele os ignorou. O pior de<br />

tudo, à medida que passavam os dias, era a consciência de que o pessoal da loja de<br />

armas não estava interessado nele. Pareciam distantes, superiores, invencíveis.<br />

Fara não foi à estação do expresso para ver a chegada de Jor. Ele ouviu dizer que<br />

o conselho havia decidido multar Jor com a metade das despesas da viag<strong>em</strong>, sob a<br />

ameaça de perder o <strong>em</strong>prego, se não estivesse de acordo. Na segunda noite, após a<br />

volta de Jor, Fara esgueirou-se até a casa dele e entregou ao oficial cento e setenta<br />

e cinco créditos. Após o que, voltou para casa com a alma mais leve.<br />

No terceiro dia depois desse fato, a porta de sua loja abriu com estrondo e um<br />

hom<strong>em</strong> entrou. Fara franziu o sobrolho ao ver qu<strong>em</strong> era: um joão-ninguém da<br />

cidade, Castler. O hom<strong>em</strong> macaqueava um sorriso.<br />

- Pensei que lhe interessasse, Fara. Alguém saiu da loja de armas, hoje.<br />

Fara concentrou-se deliberadamente no pino de conexão da dura chapa do motor<br />

atômico que estava concertando. Imaginou com uma crescente sensação<br />

desagradável que o sujeito não lhe iria fornecer mais informações espontaneamente.<br />

Uma curiosidade progressiva o fez perguntar, por fim, grunhindo entre dentes:<br />

- Espero que o delegado o tenha apanhado, não?<br />

Ele não esperava coisa alguma, mas era uma forma de começar.<br />

- Não era um hom<strong>em</strong>. Era uma moça.<br />

Fara franziu o cenho. Não lhe agradou a idéia de criar probl<strong>em</strong>as para uma<br />

mulher. Aqueles salafrários! Usar<strong>em</strong> uma garota como antes usaram um velho. Mas<br />

era um truque destinado ao fracasso; provavelmente, era alguma boba que<br />

precisava de uma boa surra. Fara disse, asperamente:<br />

- Então, o que aconteceu?<br />

- Ela ainda está lá fora, insolente como o quê. E b<strong>em</strong> bonitinha, também.

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