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visto por olhos humanos antes dele. Viu o nascimento da Terra e do Sol e viu sua agonia. Atualmente, nada mais se pode fazer por ele a não ser dar-lhe uma morte misericordiosa. Innelda tentou imaginar as trevas onde McAllister errava, mas colocava o acontecimento numa perspectiva mais vasta. - Que máquina é essa que o senhor trouxe? - Uma reprodução da Temporal - respondeu, sem explicar que ele mesmo a havia montado inteiramente num dos seus laboratórios secretos. - Falta-lhe apenas o mapa cronográfico, que é demasiadamente complexo para ser construído rapidamente. - Estou vendo... Não era uma resposta, mas um automatismo verbal. - Qual é o nosso lugar, meu e seu, lá dentro? Hedrock não estava preparado para esta pergunta. Ele fora ver a Imperatriz porque ela tinha sido derrotada e porque, diante disso, era preciso que ela não ficasse muito amargurada com o fracasso. Essa era uma espécie de detalhe em que é preciso pensar quando se é imortal e quando nos metemos nos negócios dos mortais. - Não há tempo a perder, senhora. A geradora deve reaparecer dentro de uma hora. - Mas por que não deixar a decisão ao Conselho da liga? - Porque ele poderia tomar uma decisão errada. - Então qual é a boa? - Olhe, vou dizer-lhe... Cayle Clark bloqueou os comandos do autoplano para que o veículo descrevesse um amplo círculo em torno da casa. - Nossa Senhora! - gritou Lucy. - Uma casa de nuvens! Com os olhos arregalados, ela olhava a mansão, os jardins suspensos, a morada que flutuava entre o céu e a terra. - Cayle, garantes que não é uma miragem? Ele sorriu. - É a décima vez que me perguntas isso! - Não estou pensando no dinheiro. Garantes que a Imperatriz não vai te arranjar encrencas? - Mr. Hedrock deu-me uma superarma. Aliás, prestei grandes serviços a Sua Majestade. Serviços que ela apreciou. Em todo caso, foi o que ela me disse hoje no telestate. E não creio que ela tenha escondido alguma coisa. Aceitei continuar a trabalhar para ela. - Mesmo? - Não te preocupes! Tu mesmo me disseste: a liga é partidária de um governo único. Mais honesto esse governo, melhor para o universo. E podes confiar em mim - concluiu, com os traços subitamente tensos - as experiências pelas quais passei bastam para me dar vontade de purificar o regime. O autoplano posou no terraço. Ambos desceram e ele levou-a para visitar o ninho onde viveriam para sempre. Quando se tem vinte e dois anos, crê-se inevitavelmente que é para sempre.

EPÍLOGO McAllister esquecera que devia tomar uma decisão. Era muito difícil pensar naquelas trevas. Quando abriu os olhos, só viu a escuridão do espaço onde estava mergulhado. Não havia chão sob seus pés. Os planetas ainda não existiam e a noite parecia esperar algum acontecimento colossal. Parecia esperá-lo, a ele, McAllister. Então, num relâmpago de compreensão, soube o que ia acontecer. E ficou maravilhado. Soube, também, qual a decisão que precisaria tomar: aceitar a morte. E essa decisão, tomou-a com estranha facilidade. Estava tremendamente fatigado. Veio-lhe a lembrança agridoce daquele dia, perdido num espaço-tempo abolido, onde, deixado semi-morto num campo de batalha do século XX, resignou-se a morrer. Pensou então que era justo perecer para que outros pudessem viver. E eis que sentia a mesma coisa. Mais intensa, porém. Mais grandiosa. Como morreria? Não tinha idéia. A oscilação do pêndulo, amortecendo definitivamente num passado sem limites, liberaria então a prodigiosa energia temporal que se tinha acumulado em cada uma daquelas pulsações monstruosas. Ele não seria testemunha do nascimento dos planetas. Mas contribuiria para a sua gênese.

visto por olhos humanos antes dele. Viu o nascimento da Terra e do Sol e viu sua<br />

agonia. Atualmente, nada mais se pode fazer por ele a não ser dar-lhe uma morte<br />

misericordiosa.<br />

Innelda tentou imaginar as trevas onde McAllister errava, mas colocava o<br />

acontecimento numa perspectiva mais vasta.<br />

- Que máquina é essa que o senhor trouxe?<br />

- Uma reprodução da T<strong>em</strong>poral - respondeu, s<strong>em</strong> explicar que ele mesmo a havia<br />

montado inteiramente num dos seus laboratórios secretos. - Falta-lhe apenas o mapa<br />

cronográfico, que é d<strong>em</strong>asiadamente complexo para ser construído rapidamente.<br />

- Estou vendo...<br />

Não era uma resposta, mas um automatismo verbal.<br />

- Qual é o nosso lugar, meu e seu, lá dentro? Hedrock não estava preparado para<br />

esta pergunta.<br />

Ele fora ver a Imperatriz porque ela tinha sido derrotada e porque, diante disso,<br />

era preciso que ela não ficasse muito amargurada com o fracasso. Essa era uma<br />

espécie de detalhe <strong>em</strong> que é preciso pensar quando se é imortal e quando nos<br />

met<strong>em</strong>os nos negócios dos mortais.<br />

- Não há t<strong>em</strong>po a perder, senhora. A geradora deve reaparecer dentro de uma<br />

hora.<br />

- Mas por que não deixar a decisão ao Conselho da liga?<br />

- Porque ele poderia tomar uma decisão errada.<br />

- Então qual é a boa?<br />

- Olhe, vou dizer-lhe...<br />

Cayle Clark bloqueou os comandos do autoplano para que o veículo descrevesse<br />

um amplo círculo <strong>em</strong> torno da casa.<br />

- Nossa Senhora! - gritou Lucy. - Uma casa de nuvens!<br />

Com os olhos arregalados, ela olhava a mansão, os jardins suspensos, a morada<br />

que flutuava entre o céu e a terra.<br />

- Cayle, garantes que não é uma mirag<strong>em</strong>? Ele sorriu.<br />

- É a décima vez que me perguntas isso!<br />

- Não estou pensando no dinheiro. Garantes que a Imperatriz não vai te arranjar<br />

encrencas?<br />

- Mr. Hedrock deu-me uma superarma. Aliás, prestei grandes serviços a Sua<br />

Majestade. Serviços que ela apreciou. Em todo caso, foi o que ela me disse hoje no<br />

telestate. E não creio que ela tenha escondido alguma coisa. Aceitei continuar a<br />

trabalhar para ela.<br />

- Mesmo?<br />

- Não te preocupes! Tu mesmo me disseste: a liga é partidária de um governo<br />

único. Mais honesto esse governo, melhor para o universo. E podes confiar <strong>em</strong> mim -<br />

concluiu, com os traços subitamente tensos - as experiências pelas quais passei<br />

bastam para me dar vontade de purificar o regime.<br />

O autoplano posou no terraço. Ambos desceram e ele levou-a para visitar o ninho<br />

onde viveriam para s<strong>em</strong>pre.<br />

Quando se t<strong>em</strong> vinte e dois anos, crê-se inevitavelmente que é para s<strong>em</strong>pre.

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