o discurso político-satírico em “dom quixote” de cervantes - Fafibe
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<strong>de</strong> elogios dirigidos aos ouvintes com a intenção <strong>de</strong> obter aprovação <strong>de</strong> sua causa<br />
“Seguro <strong>de</strong> que a sabedoria dos legisladores saberá encontrar meios para realizar<br />
s<strong>em</strong>elhante medida e cônscio <strong>de</strong> que a Câmara e o Senado pesarão o seu alcance e<br />
utilida<strong>de</strong>” (BARRETO, 2001, p. 53)<br />
Outra parte importante da retórica a ser observada é a invenção, que segundo<br />
Cruz (2008, p.5) trata-se das causas verda<strong>de</strong>iras e verossímeis. Neste caso o<br />
assunto tratado por Policarpo Quaresma não é genuíno e tampouco provável, <strong>de</strong>vido<br />
a inviabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se substituir o idioma da noite para o dia, o que fica evi<strong>de</strong>nte que o<br />
requerimento do major sobrepõe a razão.<br />
Apesar do requerimento ser totalmente <strong>de</strong>scabido, o <strong>discurso</strong> é b<strong>em</strong><br />
organizado e estruturado; estava preparado para levar seus ouvintes ao<br />
convencimento, refutando os aspectos negativos, que segundo ele seria os<br />
malefícios da língua portuguesa na cultura brasileira e enaltecendo os aspectos<br />
positivos, ou seja, a favor <strong>de</strong> sua causa, como por ex<strong>em</strong>plo: a língua tupi “é a única<br />
capaz <strong>de</strong> traduzir as nossas belezas,” (BARRETO, 2001, p. 53)<br />
Com relação à compreensão o <strong>discurso</strong> é claro e conciso, por ser do gênero<br />
<strong>de</strong>liberativo não apresenta muitos adornos linguísticos.<br />
Quanto à recepção do <strong>discurso</strong> pelos ouvintes, o efeito foi contrário ao<br />
esperado pelo personag<strong>em</strong>, que acabou sendo visto como divertimento:<br />
O major Quaresma, movido pelo seu instinto nacionalista, esqueceuse<br />
<strong>de</strong> analisar se sua proposta seria convincente para aquele<br />
público. [...] per<strong>de</strong> credibilida<strong>de</strong> perante os seus, gerando <strong>de</strong>sta<br />
forma, um enorme abismo entre seus i<strong>de</strong>ais e anseios daquela<br />
socieda<strong>de</strong> burguesa. (CRUZ, 2008, p.6)<br />
Neste trecho da obra, t<strong>em</strong>os o momento <strong>em</strong> que o major Quaresma está<br />
preso e reflete sobre seu patriotismo, que não lhe trouxe felicida<strong>de</strong>:<br />
Des<strong>de</strong> <strong>de</strong>zoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera<br />
a tolice <strong>de</strong> estudar inutilida<strong>de</strong>s. Que lhe importavam os rios? Eram<br />
gran<strong>de</strong>s? Pois que foss<strong>em</strong>... Em que lhe contribuiria para a felicida<strong>de</strong><br />
saber o nome dos heróis do Brasil? Em nada... O importante é que<br />
ele tivesse sido feliz. Foi? Não.[...]<br />
O tupi encontrou a incredulida<strong>de</strong> geral, o riso, a mofa, o escárnio; e<br />
levou-o à loucura. Uma <strong>de</strong>cepção. E a agricultura? Nada. As terras<br />
não eram ferazes e ela não era fácil como diziam os livros. Outra<br />
<strong>de</strong>cepção. E, quando o seu patriotismo se fizera combatente, o que<br />
achara? Decepções. On<strong>de</strong> estava a doçura <strong>de</strong> nossa gente? Pois ele<br />
não a viu combater como feras? Pois não a via matar prisioneiros,<br />
inúmeros? Outra <strong>de</strong>cepção. A sua vida era uma <strong>de</strong>cepção, uma<br />
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