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o discurso político-satírico em “dom quixote” de cervantes - Fafibe

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"Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário público, certo<br />

<strong>de</strong> que a língua portuguesa é <strong>em</strong>prestada ao Brasil; certo também <strong>de</strong><br />

que, por esse fato, o falar e o escrever <strong>em</strong> geral, sobretudo no<br />

campo das letras, se vê<strong>em</strong> na humilhante contingência <strong>de</strong> sofrer<br />

continuamente censuras ásperas dos proprietários da língua;<br />

sabendo, além, que, <strong>de</strong>ntro do nosso país, os autores e os<br />

escritores, com especialida<strong>de</strong> os gramáticos, não se entend<strong>em</strong> no<br />

tocante à correção gramatical, vendo-se, diariamente, surgir azedas<br />

polêmicas entre os mais profundos estudiosos do nosso idioma --<br />

usando do direito que lhe confere a Constituição, v<strong>em</strong> pedir que o<br />

Congresso Nacional <strong>de</strong>crete o tupi-guarani, como língua oficial e<br />

nacional do povo brasileiro.<br />

O suplicante, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> parte os argumentos históricos que militam<br />

<strong>em</strong> favor <strong>de</strong> sua idéia, pe<strong>de</strong> vênia para l<strong>em</strong>brar que a língua é a mais<br />

alta manifestação da inteligência <strong>de</strong> um povo, é a sua criação mais<br />

viva e original; e, portanto, a <strong>em</strong>ancipação política do país requer<br />

como compl<strong>em</strong>ento e consequência a sua <strong>em</strong>ancipação idiomática.<br />

D<strong>em</strong>ais, Senhores Congressistas, o tupi-guarani, língua<br />

originalíssima, aglutinante, é verda<strong>de</strong>, mas a que o polissintetismo dá<br />

múltiplas feições <strong>de</strong> riqueza, é a única capaz <strong>de</strong> traduzir as nossas<br />

belezas, <strong>de</strong> pôr-nos <strong>em</strong> relação com a nossa natureza e adaptar-se<br />

perfeitamente aos nossos órgãos vocais e cerebrais, por ser criação<br />

<strong>de</strong> povos que aqui viveram e ainda viv<strong>em</strong>, portanto possuidores da<br />

organização fisiológica e psicológica para que tend<strong>em</strong>os, evitando-se<br />

<strong>de</strong>ssa forma as estéreis controvérsias gramaticais, oriundas <strong>de</strong> uma<br />

difícil adaptação <strong>de</strong> uma língua <strong>de</strong> outra região à nossa organização<br />

cerebral e ao nosso aparelho vocal - controvérsias que tanto<br />

<strong>em</strong>pec<strong>em</strong> o progresso da nossa cultura literária, científica e filosófica.<br />

Seguro <strong>de</strong> que a sabedoria dos legisladores saberá encontrar meios<br />

para realizar s<strong>em</strong>elhante medida e cônscio <strong>de</strong> que a Câmara e o<br />

Senado pesarão o seu alcance e utilida<strong>de</strong><br />

P. e E. <strong>de</strong>ferimento" (BARRETO, 2001, p. 52-53)<br />

Os argumentos usados pelo major, baseados na sua convicção patriótica,<br />

para convencer a câmara foi <strong>de</strong> que a língua portuguesa era apenas <strong>em</strong>prestada<br />

pelo colonizador; não sendo genuinamente nacional como a língua tupi que<br />

representava a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do país. Na sua petição também afirma que era<br />

necessária a mudança do idioma para eliminar os <strong>de</strong>sentendimentos e controvérsias<br />

gramaticais. Além dos argumentos históricos, alega que todo o povo não terá<br />

dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptar-se ao novo idioma, e que a <strong>em</strong>ancipação política do país está<br />

relacionada à <strong>em</strong>ancipação idiomática, ou seja, que não pod<strong>em</strong>os dominar um<br />

idioma que não é nosso e que não respeita a nossa realida<strong>de</strong>.<br />

T<strong>em</strong>os então, um <strong>discurso</strong> on<strong>de</strong> o major faz uso da retórica, utilizando o<br />

gênero <strong>de</strong>liberativo com a intenção <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r um <strong>de</strong>terminado ponto <strong>de</strong> vista.<br />

Também neste gênero “[...] efetiva-se na discussão, que inclui aconselhar e<br />

<strong>de</strong>saconselhar [...]” (CRUZ apud CÍCERO, 2005, p. 55), busca a persuasão através<br />

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