o discurso político-satírico em “dom quixote” de cervantes - Fafibe

O seu ideal é sua única realidade, o seu desejo é estar sempre em atividade
e a narração se volta para a ação.
“A alma desse herói é acabada em si mesma, como uma obra de arte ou
divindade, e não pode exprimir-se senão por meio de atitudes inadequadas ‘devido a
esse encerramento maníaco em si mesmo’ (SOUZA apud LUKÁCS, 2008, p,1); em
consequência disso, suas ações não são aceitas pela sociedade que o cerca,
criando o conflito dele com os demais. “Assim o máximo de sentido adquirido pela
experiência vivida torna-se o máximo de não-senso: a sublimidade torna-se loucura,
monomania” (SOUZA apud LUKÁCS, 1933, p.113)
2.4 Análise discursiva da Obra
Conforme os estudos apresentados neste trabalho, procuraremos a partir
deste tópico analisar alguns discursos políticos satíricos relevantes encontrados na
obra Dom Quixote que é um dos principais objetos de estudo deste trabalho.
Começaremos pelo discurso que Dom Quixote fez para alguns trabalhadores
cuidadores de cabras que o acolheu quando ele e Sancho precisavam de um lugar
para passar a noite. Após se alimentar e beber vinho, sem ser solicitado, o cavaleiro
andante começou a falar a respeito da “Edad dorada”:
1 Carvalho
2 Refere-se à arvore da cortiça
3 Rigores
Dichosa edad y siglos dichosos aquellos a los que los antiguos
pusieron nombre de dorados; y no los llamaron así porque en aquella
época el oro se podía encontrar fácilmente, sino porque los que
vivían entonces ignoraban estas palabras de tuyo y mío. Eran, en
aquella santa edad, todas las cosas comunes. A nadie le era
necesario para comer, darse más trabajo que alzar la mano y coger
el dulce fruto que le daban generosamente las robustas encinas 1 .
Las claras fuentes y corrientes ríos les ofrecían transparentes aguas
en magnífica abundancia. Entre las rocas o en los troncos de los
árboles, las discretas abejas ofrecían la fértil cosecha de su
dulcísimo trabajo. Con las anchas cortezas de los alcornoques 2 se
cubrían las casas, que sólo eran defensas contra las inclemencias 3
del cielo.
Todo era paz entonces, todo amistad, todo concordia. Aún no se
había atrevido el arado a abrir las entrañas de la tierra, nuestra
primera madre; y ella, sin ser trabajada, ofrecía por toda parte lo que
podía alimentar y satisfacer a sus hijos. Entonces andaban las
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