boletim tr/es 2012.165 - Justiça Federal
boletim tr/es 2012.165 - Justiça Federal
boletim tr/es 2012.165 - Justiça Federal
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Cuida-se de Recursos Inominados interpostos pela parte autora e pela parte ré (INSS) em face de sentença que julgou<br />
procedente o pedido autoral para condenar o INSS à conc<strong>es</strong>são de aposentadoria por invalidez a partir da data da sentença<br />
(26/04/2011), bem como ao pagamento das parcelas vencidas.<br />
Em razõ<strong>es</strong> de recurso (fls. 146/151), o INSS sustenta que a incapacidade que acomete a parte autor possui natureza<br />
relativa, na medida em que lhe é permitido o exercício de atividad<strong>es</strong> que não demandem demasiado <strong>es</strong>forço físico. Assim,<br />
considerada a possibilidade de reabilitação para ou<strong>tr</strong>as funçõ<strong>es</strong>, somente seria devido o benefício auxílio-doença.<br />
Con<strong>tr</strong>arrazõ<strong>es</strong> às fls. 160/169.<br />
De sua parte, a parte autora, em sede recursal (fls. 153/159), requer a alteração da DIB do benefício para a data do<br />
requerimento adminis<strong>tr</strong>ativo ou para a data da juntada do laudo pericial aos autos, sob o argumento de que, inobstante a<br />
ausência de data do início da incapacidade no laudo pericial do Juízo, os demais laudos e exam<strong>es</strong> juntados aos autos<br />
demons<strong>tr</strong>am que ela já <strong>es</strong>tava incapacidade naquelas datas. Con<strong>tr</strong>arrazõ<strong>es</strong> às fls. 172/177.<br />
É o breve relatório. Passo a votar.<br />
Inicialmente, cabe d<strong>es</strong>tacar que o auxílio-doença, conforme o artigo 59 da Lei 8.213/91 será devido ao segurado que, tendo<br />
cumprido, quando for o caso, o período de carência exigida, ficar incapacitado para o seu <strong>tr</strong>abalho ou para a sua atividade<br />
habitual por mais de 15 (quinze) dias consecutivos. Por sua vez, a aposentadoria por invalidez, conforme disposição<br />
constante do artigo 42 da Lei 8.213/91 será devida ao segurado que, após cumprido, quando for o caso, o período de<br />
carência exigido, <strong>es</strong>tando ou não em gozo de auxílio-doença, for considerado incapaz e insusceptível de reabilitação para o<br />
exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, e ser-lhe-á paga enquanto permanecer <strong>es</strong>ta condição.<br />
No que tange ao segurado <strong>es</strong>pecial – rural –, os benefícios de incapacidade são concedidos mediante a comprovação do<br />
efetivo exercício de atividade rural, por meio de prova material indiciária devidamente referendada pela prova t<strong>es</strong>temunhal,<br />
pelo prazo corr<strong>es</strong>pondente à carência exigida, nos termos do art. 39, inciso I, c/c art. 25, inciso I, da Lei nº 8.213/91, quando<br />
for o caso, aliada à demons<strong>tr</strong>ação da incapacidade para o exercício do labor camp<strong>es</strong>ino. É pacífico o entendimento dos<br />
<strong>tr</strong>ibunais pá<strong>tr</strong>ios no sentido de que para o reconhecimento de tempo de serviço, seja na condição de <strong>tr</strong>abalhador urbano ou<br />
rural, é exigido o início razoável de prova material, sendo inadmissível a prova exclusivamente t<strong>es</strong>temunhal, r<strong>es</strong>salvada a<br />
ocorrência de força maior ou caso fortuito, previstos pelo § 3ª do art. 55 da Lei nº 8.213/91.<br />
No caso dos autos, os recursos não impugnam a qualidade de segurado da autora, cingindo-se ao requisito da<br />
incapacidade laboral.<br />
Pois bem.<br />
O laudo pericial do juízo (fl. 88) at<strong>es</strong>ta que a autora é portadora de hipertensão arterial sistêmica, diabet<strong>es</strong> mellitus,<br />
ob<strong>es</strong>idade, e doença da coluna e joelho, doenças que a incapacitam definitivamente para o <strong>tr</strong>abalho braçal p<strong>es</strong>ado. O perito<br />
foi contundente em afirmar, assim, que a autora não pode realizar atividad<strong>es</strong> que demandam demasiado <strong>es</strong>forço físico,<br />
concluindo que a autora se encon<strong>tr</strong>a incapacitada apenas parcialmente, havendo a possibilidade de reabilitação para ou<strong>tr</strong>as<br />
funçõ<strong>es</strong>.<br />
N<strong>es</strong>s<strong>es</strong> termos, segundo o INSS, considerando que a autora somente realizaria atividad<strong>es</strong> lev<strong>es</strong>, tais como cuidar de<br />
galinhas e porcos e que, para tais açõ<strong>es</strong>, não haveria incapacidade, sustenta ser indevida a conc<strong>es</strong>são do benefício.<br />
Pois bem. É sabido que o juiz não <strong>es</strong>tá, de modo algum, vinculado às conclusõ<strong>es</strong> do laudo pericial (art. 436 do CPC),<br />
podendo utilizar-se de ou<strong>tr</strong>os elementos de prova produzidos nos autos para formar sua convicção. A sentença de origem,<br />
levando em consideração as condiçõ<strong>es</strong> p<strong>es</strong>soais da autora, concluiu pela sua incapacidade total e definitiva.<br />
Em consonância com o Juízo a quo, ouso discordar da conclusão pericial.<br />
Nos autos, há informaçõ<strong>es</strong> de que a autora exerce o labor de agricultora. A meu ver, o <strong>es</strong>forço físico, m<strong>es</strong>mo que<br />
moderado, é inerente à atividade rural, por exigir que a autora permaneça de pé por prolongados períodos. Ademais,<br />
m<strong>es</strong>mo as citadas atividad<strong>es</strong> de “menor <strong>es</strong>forço físico”, em se <strong>tr</strong>atando de meio rural, se caracterizam como fator de risco<br />
para o agravamento da doença ortopédica que acomete a autora, tendo em vista se <strong>tr</strong>atarem todas de atividad<strong>es</strong> braçais,<br />
com movimentos e posiçõ<strong>es</strong> repetitivas, nem sempre eretas.<br />
D<strong>es</strong>se modo, em casos como que tais, em que a continuidade do exercício do labor habitual exigirá do segurado <strong>es</strong>forço<br />
físico além do normal, mormente devido à exposição à dor e à possibilidade de agravamento da doença, com a<br />
possibilidade de afetação de ou<strong>tr</strong>as atividad<strong>es</strong> sociais, entendo que deve se concluir pela incapacidade ao menos parcial do<br />
requerente. No entanto, por considerar que a idade avançada da autora (59 anos de idade - fl. 19) e o possível baixo grau<br />
de ins<strong>tr</strong>ução e qualificação não permitirão a sua recolocação no mercado de <strong>tr</strong>abalho, concluo que a incapacidade laboral,<br />
n<strong>es</strong>te caso, é total e definitiva, de modo que se encon<strong>tr</strong>am preenchidos os requisitos para a conc<strong>es</strong>são da aposentadoria<br />
por invalidez.